25 novembro, 2010

A cassete do costume


Animado pela terceira derrota do Benfica na Champions, onde a chantagem sobre os árbitros e os "sistemas" não cola nem é permitida, hoje só me apetecia falar das flores e dos passarinhos. Mas, nem essa fútil alegria me afaga a alma. Tal como o Benfica, o país é um bluff!

Como é hábito [encarniçado], o governo teima em ver o que não existe e ignora a realidade dos factos. A greve geral, apesar de ultimamente estar a ser desvalorizada por tudo quanto é opinador oficial dos media, foi um sucesso. Contudo, o Governo, desonesto como é, vira mais outra vez as costas à realidade e à população com o coerente desprezo  do costume preferindo dizer que a greve foi um fracasso, mitificando e aldrabando. Para isso é que lá tem gente qualificada na matéria.  

Solidário com a prole rapa-tachos do Partido, o Ministro da Defesa, naquela arrogância típica dos deslumbrados do Poder, desvaloriza a oposição dos 3 ramos das Forças Armadas à reforma da saúde militar, como de resto desvaloriza tudo o que colida com as suas magnas decisões. E como não há-de ele desvalorizar se, tal como o resto do Governo, está farto e cansado de dar provas inequívocas da sua competência?

Para nosso desgosto, a oposição e certos opinadores credenciados pela lógica do porque sim, não nos deixam dormir sossegados [excepto se o soporífero Benfica der uma ajudinha], porque continuam a manifestar uma visão maniqueista da Política. O melhor Estado menos Estado é a tecla gasta de alguns iluminados, dando sinais preocupantes de algumas limitações estratégicas e ideológicas caso venham a ser Governo. Miguel Júdice, é um desses casos típicos. Fazendo parte da comissão de honra da candidatura de Cavaco Silva às Presidênciais, entendeu agora publicar um livro malhando sem dó nem piedade no seu Presidente de eleição alegando entre outras coisas que "Cavaco fez do PSD um partido de consumidores, que aumentou o peso do Estado espartilhando a sociedade civil... Se o Estado tivesse emagrecido, se tivesse alterado a Lei laboral [cá temos a crónica tentação para mexer nas leis], hoje estaríamos melhor".

Não é que discorde com o que este senhor advogado diz sobre Cavaco [embora de forma paradoxal, diga-se], só não consigo é ouvir ninguém a explicar quem é que controla a sociedade civil uma vez que o próprio Estado não é capaz de se controlar a si próprio. Estou-me a lembrar daqueles "empresários" que aproveitando a boleia do Estado [e da sempre-eterna crise] se habituaram, sem dignidade nem vergonha, a dizer aos empregados que não sabem se têm dinheiro para lhes pagar, para desta forma lhes manterem os salários em atraso. Ou então, daquele gerente do Intermarché que atentou contra a vida dos seus funcionários só porque ousaram aderir à greve.

Suponho que o Dr. Miguel Júdice terá na manga algum trunfo para este modelo de liberalização da sociedade civil. Talvez confie na auto-regularização, digo eu. É que, nós somos mesmo bons a auto-regular-nos. Basta contar os longos anos que levamos a convencer os automobilistas a parar nas passadeiras e a colocar o cinto de segurança...

Que líderes tão cinzentamente repetitivos!

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