17 outubro, 2011

Sem pápas na língua!

E Sócrates mentia

Diz-se que a política é a arte de fazer escolhas. Passos Coelho fez as suas: o assalto fiscal à classe média e aos mais vulneráveis da sociedade. E em breve o veremos a anunciar a capitalização da Banca com os recursos espoliados a pensionistas e trabalhadores. Tem toda a legitimidade para impor as suas escolhas aos portugueses porque os portugueses o elegeram. Só que os portugueses elegeram-no com base em pressupostos e garantias falsos, que ele repetiu à exaustão antes e durante a campanha eleitoral.

Agradecendo a Ricardo Santos Pinto, recordem-se algumas das garantias com que Passos Coelho foi eleito: "Se vier a ser primeiro-ministro, a minha garantia é que a [carga fiscal] será canalizada para os impostos sobre o consumo e não sobre o rendimento das pessoas"; "Dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês é um disparate"; "O PSD acha que não é preciso fazer mais aumentos de impostos, do nosso lado não contem com mais impostos"; "O IVA, já o referi, não é para subir"; "Eu não quero ser primeiro-ministro para proteger os mais ricos"; "Que quando for preciso apertar o cinto, não fiquem aqueles que têm a barriga maior a desapertá-lo e a folgá-lo"; "Tributaremos mais o capital financeiro, com certeza que sim"; "Não podem ser os mais modestos a pagar pelos que precisam menos"...

E ainda: "Nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra".

[De: Manuel António Pina/Fonte JN]


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Comentário RoP:

Não sei se por medo de represálias, ou se por favorecimentos inconfessados, instalou-se na mente de muitos jornalistas e cronistas, alguma parcimónia com a gramática, nomeadamente quando se trata de qualificar atitudes menos dignas, ou mesmo desonestas, da parte dos poderosos. Palavras como, vigarista, ladrão ou larápio, deixaram de ser usadas indiscriminadamente, e apenas baseadas em factos, para serem previamente seleccionadas, consoante a classe social dos destinatários. Estivéssemos nós habituados a uma comunicação social realmente séria, e respeitadora dos seus próprios códigos deontológicos, até se compreenderia tanta parcimónia. Mas, o facto, é que não estamos. Quando a presa é graúda e parece indefesa, já sabemos que as capas da imprensa e os telejornais se unem, quase expontaneamente, para fazerem autênticos julgamentos públicos, e dessa maneira subirem as audiências. 

Melhor que ninguém, os media conhecem a força das palavras e o impacto positivo ou negativo que elas podem ter sobre os alvos. Dizer que alguém está a faltar à verdade, não tem o mesmo efeito que lhe chamar mentiroso. Acusar alguém de enganar, pode muitas vezes ser um modo subtil de esconder  uma traição. Desviar, percebemos que não choca tanto como roubar. Não será em vão que os políticos preferem usar esta linguagem, embrulhada de sofisma...

Mas, os jornalistas, que tantas vezes evocam [sem razão] a liberdade de expressão, não deviam copiar o vocábulo polítiqueiro, sob pena de poderem ser justamente acusados de lhes estar a dar algum proteccionismo.

Isto para dizer, que da crónica aqui plasmada de Manuel António Pina, em bom português [não confundam com o da RTP, que para mim não conta], só quer dizer uma coisa:

tal como Sócrates, Pedro Passos Coelho, é vigarista, mentiroso e traidor.

Assim se escreve em bom português.    

Ps1-Não acho necessário, nem razoável, pedir dos eleitores, mais prazos de tolerância para as asneiras cometidas por pessoas, a quem legitimaram o poder e deram a sua confiança. Creio já ser tarde para os cidadãos exigirem, antes das próximas eleições, garantias sobre a responsabilização imediata dos políticos, assim que se desviem do rumo prometido em campanhas eleitorais. E a criminalização, desde que haja razões óbvias para tal. Se a Lei não está bem, mude-se a Lei. Se os juízes não servem, seleccionem os bons e livrem-se dos empatas. Continuar a discutir estes assuntos sem resultados práticos, é de per si outro crime.  

Ps2-Talvez seja oportuno fazer uma breve observação (caso ainda não tenham percebido) que é o seguinte: enquanto as minhas "espingardas" apontaram para os políticos, o Renovar o Porto foi referenciado em vários jornais e mais do que uma ocasião. A partir do momento em que dirigi a mira para os jornalistas, esqueceram-no...
  

7 comentários:

  1. ...Gastar? Um exemplo: o Ministério da Educação não pôde dar 500 euros a cada um dos mil melhores alunos do Secundário do país. No entanto, o Ministério da Economia quer despejar 1,4 milhões de euros no Grande Prémio do Porto. E como não chega, a Câmara do Porto reflecte sobre as vantagens de um prejuízo anual de 700 mil euros com a prova. Porquê? Porque é bom para o turismo. Qual turismo? E é bom para a imagem do Porto. Que imagem? Quem diz o Grande Prémio do Porto diz o Red Bull em Lisboa, o Rali de Portugal, o Rock in Rio, o ALLgarve... Resultado: o mesmo Estado que não tem 500 mil euros para os melhores estudantes tem muitos milhões para outras coisas. Porquê? Os estudantes são "despesa", os espectáculos, "investimento".

    Défice de 5,9% em 2011? Será mesmo? Não. Será de 8% ou mais. Mas é preciso arranjar umas receitas extraordinárias para parecer que é, mesmo que já saibamos que não é. Confuso? Não, é economia. Com um sentido político: vende-se tudo, depressa, em péssimas condições. Quando acordarmos do pesadelo não controlaremos os centros de decisão na energia, a água será ao preço que o "mercado" quiser e os fundos de pensões dos bancos também contribuirão para rebentar ainda mais depressa com a Segurança Social. Isto é ser-se liberal? Não, é ser-se totó. É não pagar depois a factura. Não por acaso: Cavaco nunca optou pelo trabalho na economia privada, Guterres foi para a ONU, Barroso está em Bruxelas, Santana abrigou-se na Santa Casa da Misericórdia e Sócrates escondeu-se em Paris. Nenhum criou uma empresa. Mas o futuro do país qual é, disseram todos? Criar empresas e emprego...

    A saída? A condição-base para Portugal sair desta aflição permanece intacta: a determinação dos portugueses em responder com trabalho e empenho à proposta da troika. Mas precisamos de tempo para que não se gere uma falência descontrolada na economia em 2012. As receitas estão a cair a pique. A continuar assim, acabamos o próximo ano com o desemprego perto dos 20%. E depois falhamos todos - no défice, na capacidade de credibilizar o país junto dos mercados, no pagamento da dívida. O FMI é um alquimista que experimenta fórmulas macroeconómicas em cima de países e pessoas. Constrói ficções e tende a não querer adaptá-las à realidade. Hey tios: Portugal QUER CUMPRIR! Hello! Está alguém aí? Não rebentem com isto num só ano, ok? Sai-vos mais caro depois.

    Por Daniel Deusdado no JN

    O Grande Prémio chamado do Porto custa um balurdio!!! Para quê?!

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  2. Isto acontece porque de 4 em 4 anos a carneirada que vê as campanhas eleitorais vota sempre numa perspectiva direita vs esquerda, esquecem rápido que os status quo continuam instalados,e bem, nos centros de decisão, isto tanto barraca vai dar que não se admirem de um dia surjir um tipo qualquer com tendencias mais autoritarias que, com o apoio talvez das forças armadas, tome de assalto aqui o burgo, saia do euro e a Europa até agradece...moral da história já não estamos em altura de acreditar em pais natais, passos mente, muito, portas mente, qb, jerónimo mente, mas ao menos são sempre as mesmas mentiras, sócrates mentia, compulsivamente, durão mentia, mas mentiu durante pouco tempo, guterres mentia, mas era por distracção, cavaco mentia, nos intervalos do bolo rei, soares...almeidas santos, estes ainda mentem, há 50 anos que mentem...etcaetera, etcaetera, etcaetera...

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  3. eu tenho dificuldade em acreditar nessa do contributo do governo para com as corridas de automóveis no Porto.
    Promiscuidades não é com esta gente...

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  4. Nem sei que dizer, isto é um regabofe de pouca vergonha, um despautério, o ver quem mente mais e pior, estamos nús e corremos o risco de continuar nús por muito tempo.

    Mas tenhamos fé, sua excelência vai reunir o Conselho de Estado e dali, ninguém duvide, vai sair a solução para todos os problemas.

    Um abraço

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  5. e a das pensões dos ex-politicos não serm cortadas?

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  6. Enquanto confiarmos em Abutres como estes senhores, que se protegem uns aos outros e que mentem com quantos dentes têm; nem nós, nem o país, vai a lado nenhum.
    Ontem ouvi o ministro das finanças no seu habitual falar ao relantim, sem dizer nada de novo. Respondeu sempre com algum calculismo e muitas das vezes torneando as respostas. Não trouxe nada de novo que já não se soubesse, ou seja vai continuar a gamar (como se diz no bom Português) os portugueses.
    Mas até quando vamos levar com estes pinóquios, centralistas, lesa/ pátria, que nos sugam até ao tutano.
    Continuo a dizer; enquanto não forem julgados os responsáveis que puseram este país nesta situação, toda esta gente é conivente e responsável.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  7. - Conheces a nova receita de bacalhau?
    - Não, qual é?
    - Bacalhau à PSD/CDS...
    - Como é?
    - Só batatas...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...