12 novembro, 2011

Espírito nortenho, mito, ou contaminação política?


O Norte, anda há décadas a ser espoliado por uma política centralista digna de fazer ciúmes à ditadura de Salazar. No entanto, os nortenhos ainda não fizeram valer a reputação de gente rija e determinada, de que tanto  dizem orgulhar-se. O que estará então a acontecer? Terão os nortenhos mudado e perdido a capacidade de se indignarem? Será por alguma estranha alteração genética que os tornou frouxos e masoquistas? Será da globalização? Da migração proveniente de gente de outras regiões do país? Da clubite? Ou será que, nada mudou e a fama do Homem do Norte não passa de um mito? O que será, afinal?

Correndo o risco de parecer demasiado redutor, até porque raramente há uma só explicação para estas coisas, em síntese, diria que o que se perdeu quase por completo [e não foi só no Norte], foram os mais importantes valores de cidadania, como o sentido de ética e de responsabilidade. Para que tal acontecesse, não foi preciso nenhum fenómeno ambiental, responsável pela eventual alteração genética que atrás admiti. Não. Bastou que o povo copiasse os exemplos de quem os (des)governou, que passasse a fazer - como se diz na gíria benfiquista -, "as coisas pelo outro lado". De facto, não foi por fazerem as coisas pelo lado certo, que figuras públicas ligadas a casos de corrupção [BPN, BPP, Moderna, Freeport, Face Oculta, e tantos outros], ficaram subitamente milionárias. Isto, já para não falar da impoluta honra de Isaltino Morais, Dias Loureiro e Duarte Lima... E até de outros mais antigos, que metiam melancias e helicópteros, que a espuma dos anos se encarregou de fazer esquecer e "inocentar". E como em "guloseimas" destas não pode faltar a cereja, a Justiça faz esse papel.

Só a perda do sentido do que é correcto e do que é errado, e sobretudo do que é uma acção criminosa, é que explica a desonra generalizada que é nunca ninguém [particularmente gente graúda] admitir a culpa de um crime, mesmo que não faltem provas. Que diabo, a essa gente não se exige que limpem a honra da família como os samurais, praticando Hara-Kiri, mas querer convencer o Mundo inteiro que a delinquência é vocação reservada a gente pobre, é outra forma de crime. 

Só assim se percebe por que é que pessoas do Norte, algumas desempenhando cargos directivos em órgão de comunicação social, e outras em lugares destacados da política, não têm mostrado coragem para defender a causa regional, preferindo colar-se confortavelmente à concepção centralista, colaborando mesmo com ela. Dois jornais, ditos de referência, e com sede no Porto, o Público e Jornal de Notícias, andam a reboque da política centralista, ainda que, em privado e nalguns artigos se afirmem defensores da Regionalização.

Nas televisões públicas, e apesar de constar da Constituição a Regionalização, debatê-la é assunto tabu, quase crime! Na política, é pornográfica a descontracção com que os políticos mudam as agulhas, depois de gastarem rios de dinheiro em campanhas eleitorais prometendo à população que "desta vez é que vai ser" a Regionalização, para, mal chegados ao Governo, a deixarem cair, remetendo-a para um silêncio revoltante. 

Estas pessoas perderam a coragem para assumir responsabilidades para grandes desafios. Têm medo, imaginem! Em democracia! Dá para perceber por que é que vivemos 47 anos debaixo de uma ditadura. Dá para concluir também que se não fossem os militares, não seriam estas pessoas a dar o corpo às balas. Como agora.

Os espanhóis, anteriores donos do Porto Canal, tiveram a coragem e a inteligência, de lançar no Norte um canal de cariz regional, coisa que outros não conseguiram, ou não souberam impor. O FCPorto vai-lhes suceder, esperemos que seja para melhor. Há coisas que continuo a ver que não me agradam. Vejo demasiada abertura, quase subserviência, para os mesmos de sempre. Os convites para participação em programas de pessoas ligadas ao espectáculo, estão a ter uma preocupante incidência em pessoas de Lisboa, algumas delas até conhecidas pelo seu anti-portismo primário, como é o caso de António Salla*,  o próximo convidado de Ricardo Couto para entrar no "seu" programa. Não percebo isto.

Não esperem, porque não é isso o que pretendo dizer, que esteja aqui a defender uma posição discriminatória  na inclusão de colaboradores, ou convidados, de Lisboa. O que digo, é que me parece perigoso inverter a pirâmide das prioridades.

O Porto Canal ainda tem poucos anos de vida para se dar ao luxo de divagar com a génese do seu espírito, a pretexto nem sei bem de quê. Há, repito, imensa gente no Porto e em todo o Norte extremamente interessante em todas as áreas, sejam elas da ciência, da tecnologia, da cultura ou do desporto. Apostem nelas. O Porto Canal só tem de as procurar. Chamar até nós pessoas que já conhecemos de ginjeira e que se estão a borrifar para o centralismo, não é propriamente o mesmo que usar mel para caçar moscas. As "moscas" que nos interessam chamar vivem no Norte, e são essas que importa congregar no projecto da Regionalização, o que não é fácil.   

Não tenho nada de pessoal contra Ricardo Couto, pelo contrário. Acho que pode vir a ser um grande profissional de comunicação, mas precisa de saber o que quer, e onde o quer fazer. Mais do mesmo, já chega. Para isso, existem as televisões de Lisboa, mas por lá a concorrência é feroz...

Cabe à Direcção da Porto Canal decidir. Espero, é não estar a elevar as minhas expectativas para plataformas conceptuais de televisão incompatíveis com os interesses do FCPorto. Se for esse o caso, cá estarei para me pronunciar.

*
António Salla, nasceu em Vila Nova de Gaia, não é portanto de Lisboa, mas é quase como se fosse... Obviamente, não era a ele que me referia, quando falava de figuras de Lisboa, embora seja um anti-portista execrável.

12 comentários:

  1. Bastonário diz que "há cambões" ilegais entre Estado e sociedades de advogados

    O Bastonário da Ordem dos Advogados afirmou, este sábado, que "há suspeitas muito sérias" de que "existem cambões" entre alguns escritórios de colegas e o Estado, violando a lei.In JN

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  2. manuel moutinho13/11/11, 00:54

    Ainda ontem comentei isto que escreveu neste seu artigo com a minha família,não entendo como é que estes entrevistados aparecem no porto canal,será que são convidados pelo entrevistador ou pela direcção do canal? Será que o futebol clube do porto não controla totalmente o canal? Só há sulistas benfiquistas e anti portistas e anti portuenses para serem entrevistados? Afinal parece que estamos a promover os anti regionalistas e os anti portistas dentro da nossa casa.Também gostava de saber porque razão os comentadores políticos que lá vão,são todos ou quase todos dos partidos que nos têm governado desde o 25 de abril,e que nada fizeram pelo país excepto por lisboa porque para esses politicos
    nortenhos incluídos Portugal é lisboa e o resto é paisagem. Afinal a tal pedrada no charco que eu esperava está a sair frustada!A única diferença é a informação e a transmissão de jogos das modalidades amadoras do FCP só isso é que me agrada e mesmo assim acho que deve melhorar.
    manuel moutinho

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  3. Manuel Moutinho,

    só agora tive oportunidade para abrir a caixa de comentários. Talvez por isso, não sei bem, tinha o seu comentário em "triplicado".

    Quanto ao post, estou a pensar enviar uma cópia para a Direcção de Programas da Porto Canal, para ver qual é a reacção.

    Um abraço

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  4. Já seguiu este post para a Direcção de Programas do Porto Canal.

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  5. Não sei porque foi em triplicado,peço desculpa,mas eu não percebo nada disto,practicamente só sei escrever e pouco mais,Como dizia o outro informática é uma cena que não me assiste.
    Cumprimentos
    manuel moutinho

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  6. Carvalho Guimarães13/11/11, 19:02

    Boa noite Rui Valente. Realmente o convite ao Sala é no mínimo intrigante.Se eu pudesse nunca permitiria que esse gaijo entrasse sequer no edifício do Porto Canal. Mas por acaso parece-me que o homem é de Gaia !
    Saudações de um natural de massarelos que vive longe da sua cidade fisicamente, mas sempre perto, muito mais perto que muita gente que aí vive.

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  7. Nem é mito nem contaminação política!.. é dinheiro, tacho e poleiro.

    São todos regionalistas da treta.
    São regionalistas às segundas, quartas e sextas e centralistas às terças, quintas e sábados é conforme lhes dá jeito.

    Espero que o FCPorto em Janeiro, leve a vassoura ao Porto Canal, para varrer alguma escumalha vermelha que ainda lá existe.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  8. Concordo, com o post, mas continuo a pensar que muitos dos problemas que nos afectam tiveram origem no tipinho que os portuenses, continuo sem perceber como foi possível, elegeram para a CÂmara. O Porto com rio perdeu voz, força, poder e respeito.

    Quanto ao Porto Canal, veremos o que se vai passar a partir de Janeiro. Até lá não vale a pena fazer grandes análises.

    Abraço

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  9. meus caros, nas nossas elites ninguém é verdadeiramente regionalista: uns são do PSD, outros do CDS e outros ainda do PS. são também burgueses, gestores e membros da AEP - uma associação que não teve pejo nenhum em meter o liberalismo na gaveta para socializarem as enormes barracadas que acumularam. se um dia a regionalização for feita será pelo povo. borrifem-se para as elites.

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  10. http://desporto.publico.pt/noticia.aspx?id=1520748

    Leiam com atenção .

    O responsavel pelo PortoCanal é o Domingos Andrade ainda há dias se tivesse o artigo à mão lhe enviava o do Helder Pacheco no JN.

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  11. Vila Pouca,

    como sabe, para mim, Rui Rio é uma carta viciada que ajudou o Porto a descaracterizar-se, mas não é o único culpado. O sistema capitalista, tal com está, é o primeiro.

    Os outros culpados, são todos os responsáveis políticos e certa classe empresarial que apenas conseguem tornar-se famosos pela corrupção.

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  12. António Alves,

    100% de acordo. Os líderes, de facto, não existem. Temos imensos comentadores políticos, que, ao que parece, pela quantidade e frequência com que aparecem nas televisões, devem estar a resolver os problemas do país...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...