16 novembro, 2011

Um país chamado Estádio da Luz


Gosto de futebol, mas o meu gosto pelo futebol não comporta a parolice de cantar o hino nacional ao fim de um jogo que apenas assegurou a passagem da equipa à fase seguinte de uma competição. Este tipo de manifestações, de patriotismo de supermercado que os media tentam impôr à viva força ao resto do país, é de provocar vómitos. Agora percebo por que é que os bónios assobiaram o Ronaldo...

A comunicação social tratou de convencer a opinião pública que é dona de paradigmas de informação irreversíveis e indiscutíveis, ao ponto de tratar os espectadores como um bando de idiotas a quem tudo pode impingir. A verdade, é que o grande público, pouco exigente e altamente influenciável, tem-lhe dado aso a esses abusos, mas mesmo assim tudo tem limites.

Folheando o JN [há mais exemplos], tanto deparámos com uma pertinente crónica apelando à resolução dos problemas sociais, como encontramos dezenas de fotos com grandes seios e rabos ao léu, publicitando encontros com prostitutas e travestis. As televisões [ a SIC de Pinto Balsemão, por ex.] não são muito diferentes, promovendo conteúdos muito próximos da pornografia. No desporto, mais propriamente no futebol, a bagunça é semelhante, só que em vez de cus e de mamas, explora-se a intriga e o esbulho premeditado de méritos alheios. Enfim, há quem ganhe a vida assim, desta forma "nobre" e "pedagógica" e ainda sinta legitimidade para pregar a moral a outros... Os espelhos já não são o que eram.

O voierismo é outra das "minas" mais exploradas pelos media. Se programas deploráveis e decadentes, como "A Casa dos Segredos" e os "Big Brothers" existem - defendem eles -, é porque há público a quem os vender. E têm parcialmente razão. Esquecem-se, é de explicar que tipo de público é esse, porque isso, claro, seria matar o negócio à nascença. Além de mais, há sempre gente ordinária disposta a participar em programas ordinários, tanto na qualidade de apresentadores como de participantes. O lixo é o mesmo. Só que, enquanto uns [desgraçados], são enganados com uns cobres e falsas perspectivas de sucesso, outros [os apresentadores] recebem somas astronómicas apenas por lhes dar a cara, mascarando a própria vulgaridade, alternando o trabalho sujo com entrevistas a figuras mais ou menos ilustres da vida pública. Não custa viver... 

Finalmente, temos as páginazinhas dedicadas ao glamour cor-de-rosa. Ninguém pode duvidar, por exemplo, que para os responsáveis editoriais do JN e para a própria administração, é um emergente serviço público saber que o "Rui Costa já não usa aliança", ou que  "Orsi Fehér está ansiosa por ir viver para o Dubai"... Nem tão pouco pode ser indiferente ao sentir nacional [segundo o jornal A Bola], associar o estádio da Luz ao feito "heróico" da selecção pela qualificação para a fase final do Euro 2012! Heróis da Luz! Nem mais.

Se o jornal falasse, seria aos berros que a frase era lida. E se lhes déssemos ensejo, até nos entravam casa adentro para nos impingir uma pátria que só eles foram capazes de inventar e que até já confundem com o bairro vermelho de Benfica. Às tantas, até eu nasci benfiquista e ainda não sabia. 

5 comentários:

  1. manuel moutinho16/11/11, 19:59

    Contra os aldrabões marchar,marchar,é o que apetece cantar quando se vê um estádio em extase,e os governantes nos camarotes do coliseu de roma,perdão na catedral da luz,perdão no campo do benfica,que segundo o brutus da rtp é a casa da selecção,valha-me Deus,por onde isto já vai,estavam todos em delírio,conseguiram ganhar a uma super potência do futebol chamada bosnia,agora já ninguém os vai parar!
    manuel moutinho

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  2. Caro M.Moutinho,

    já faltou mais, para termos um Coliseu de Roma à moda de Lisboa. Nem o Salazar se atreveu a tanto!

    Pobre Porto, pobre Norte, que tanto vos ajoelhais a badamecos.

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  3. O jogo era para ser em Alvalade, mas segundo os iluminados da FPF, passou para o estádio do clube do regime, porque segundo eles, leva 6 milhões de tretas. O que se viu foi muitas cadeiras vazias.

    Hoje os programas, nos canais das nossas televisões, são para ganhar audiências, fazendo programas de Faca e Alguidar, Fados do Esgamanço
    O Neto que Bate na Avó, programas de Alentados, Casa dos Putêdos, Para onde vais Maria Alice.
    Tudo a bem da cultura Nacional.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  4. De facto essa capa do Pasquim da Queimada está o máximo. Aproveitam tudo para mostrarem aquilo que são: vermelhos rascas.

    Na televisão agora só vejo filmes...

    Abraço

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  5. Não podia estar mais de acordo com a sua opinião. Um abraço.

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