13 janeiro, 2012

Do centralismo ao separatismo a distância é curta


É uma maçada, mas lá vou eu ser outra vez politicamente incorrecto. Por precaução, embora não tencione difamar ninguém, o melhor é pedir antecipadamente desculpas públicas por me recusar a seguir a cartilha da hipocrisia institucional, não vá por acaso algum sacana mais sensível querer processar-me...

Afinal, o que tenho para dizer nada tem de transcendente e resume-se ao seguinte: se o 1º.Ministro, este, ou qualquer outro, ou o Presidente da República, este, ou qualquer outro, me forem ao bolso, sem minha autorização, e levarem a carteira [mesmo que vazia], tenho toda a legitimidade para os acusar de ladrões. Não deixarão nunca de ser gatunos por terem chegado a cargos para os quais não têm a exigível estrutura moral. Isso pode estar a acontecer, não de forma tão óbvia, mas por outras mais sofisticadas. Duarte Lima, que o diga. Foi Presidente do Grupo Parlamentar do PSD por decisão do actual Presidente da República, e no entanto, está a ser procurado pela justiça brasileira por suspeita de homicídio e detido pela portuguesa por branqueamento de capitais. Portanto, nada de melindres...

E por que é que coloco assim as coisas? Talvez para ajudar o próximo a passar a avaliar as pessoas por aquilo que elas realmente são, e não pelo estatuto que alcançaram. E muito menos pelo dinheiro que possuem. As pessoas, não são mais pessoas, pelo estatuto. Pelo contrário, o estatuto é precisamente a "arma" mais utilizada por certas indivíduos para passarem uma imagem de integridade que efectivamente não têm. Cito novamente, a título de exemplo, Duarte Lima, porque utilizou a sua condição de político e influência, para enriquecer, e para tudo o resto que mais tarde haveremos de saber. Mas haverá mais, e alguns deles, se calhar, até estão outra vez no Governo.

Estas conclusões, nada têm de inédito e abusivo, mas é importante transferí-las para escândalos aparentemente menos espectaculares, mas nem por isso menos graves. Refiro-me ao centralismo e à prepotência que lhe está colada.

Hoje, lendo o Gande Porto, fiquei a saber que o Governo se prepara para alterar o modelo de administração do sector portuário, no qual se inclui o porto de Leixões, que como é do conhecimento geral tem recebido toda a espécie de elogios à sua qualidade de gestão. A intenção, mais uma vez, é retirar ao Norte a autonomia administrativa da APDL para a concentrar em Lisboa. Tudo, com o sempre-eterno pretexto de reduzir custos.

Rui Moreira já se insurgiu contra esta nova ofensiva do centralismo, prometendo tudo fazer para impedir [cito] "a lisbonização do poder local", usando para tal a influência da Associação Comercial do Porto, mas duvido sinceramente que, se a intenção do Governo for para a frente, isso seja suficiente. Os governos centralistas há muito que perceberam o isolamento e a fragilidade reinvindicativa dos nortenhos, por isso, se decidirem avançar com a ideia, ninguém os deterá, e o Norte ficará mais uma vez a falar sozinho.

Apatias e oportunismos à parte - nomeadamente das suas vergonhosas elites -, os nortenhos estão a ser nitidamente gozados e desprezados pelo poder central, com a agravante de alguns deles se prestarem ao vil papel de serventuários do regime. Apesar disso, eu continuo a ter orgulho na minha condição de portuense e nortenho, não me revendo em nada nos exemplos miseráveis de alguns conterrâneos, que mal chegados ao poder, se vendem como putas.

E é chegados aqui, que chamo à colação a caricatura do início do post. O que os governantes estão a fazer, exacerbando irresponsavelmente o centralismo, é a fabricar um monstro. Estão a destruir e a dividir o país e, fanaticamente, a colocar nas mãos de cada nortenho que ainda mantém a dignidade intacta, um revólver que, mais cedo ou mais tarde se há-de voltar contra eles e, quem sabe, talvez matá-los.

É com estes actos irresponsáveis que nascem muitos movimentos separatistas, e não vale a pena depois chamarem-lhes terroristas, porque o mal estará feito, e a paz será então debitada, com toda a Justiça aos colaboracionistas do centralismo, de cá, e de lá. E pela minha parte, nessa altura, não verterei uma lágrima pelo que lhes possa acontecer.



 

12 janeiro, 2012

Deusdado pensa bem, mas pluraliza mal, as culpas*


Muita garganta


As derrapagens do défice são uma brincadeira de crianças quando comparadas às catástrofes que se abatem sobre o território. É nisto que o Governo devia ter pensado antes de entregar o que resta da EDP aos senhores das Três Gargantas, uma empresa detentora da maior barragem do mundo na China. Valeu só o encaixe imediato. A conta pagaremos nós a seguir.

Quanto mais o tempo passa, mais claro fica que o território e a língua são as únicas coisas portuguesas que parecem resistir ao tempo. Da língua valerá a pena falar noutra ocasião. Quanto ao território, ele vai-se desfazendo à medida que a nossa geração o hipoteca com a mesma ganância com que absorveu a dívida e agora se queixa da conta. Obviamente esta venda levanta perguntas como: os chineses vão querer saber do Douro Património Mundial? Das espécies ameaçadas? Do equilíbrio da biodiversidade nos territórios do mastodôntico plano nacional de Barragens? Das campanhas de eficiência energética? E não ficarão zangados se forem reequacionados os contratos "SCUT" das barragens que impõem milhões por décadas e décadas em cima dos consumidores?

Vejamos a barragem das Três Gargantas na China. Obrigou à retirada de 1,3 milhões de pessoas do local onde viviam e deixou debaixo de água milhares de locais de interesse arqueológico. Os geólogos assinalam que Xangai é uma cidade na rota de uma tragédia se um dia um sismo acontecer nas Três Gargantas. Num país democrático esta obra teria sido feita? Muito dificilmente. Excepto se for um país despovoado, gerido de forma autista a partir de uma capital distante e com uma opinião pública indiferente...

Esta é uma questão central do nosso tempo: quem anda a falar de crescimento económico no Ocidente pensa imenso na energia e esquece a água. A população mundial crescerá até aos nove mil milhões de pessoas e os bebés nascerão sobretudo na Ásia e América Latina. No recente relatório das Nações Unidas sobre a água e recursos do solo, a equação é clara: até 2050 vai ser necessário aumentar a produção de alimentos em 70%. O consumo de água será brutal porque a agricultura é responsável por mais de dois terços do consumo global. Ora, embora se pense que as barragens podem dar um contributo positivo para isto, a realidade é a inversa. Como dizia ao "Público" a directora da Agência Europeia do Ambiente, Jacqueline McGlade, "vimos muitas barragens na Europa a falhar rapidamente porque se encheram com sedimentos, ou ficaram secas, ou não funcionaram como se esperava". Junte-se a isto a impactante produção agrícola de biocombustíveis nos férteis solos do Leste da Europa, as perdas arrasadoras na Amazónia ou das florestas da Ásia, a seca em África, a ameaça sobre os insectos polinizadores (abelhas, borboletas, etc...) e percebe-se como vai ser difícil alimentar tanta gente e manter a qualidade de vida que o ser humano alcançou.

Quando o Governo português escolhe quase por unanimidade a proposta chinesa está a dar um sinal também ambiental. Para as pequenas e grandes coisas. A luta para travar a barragem do Tua (e a do Sabor) é um delas e torna-se ainda mais quimérica quando o poder na EDP é agora chinês. Para os que acreditam na "arquitectura naturalista" com que Souto Moura vai 'salvar o Douro', devíamos fazer um desafio: caso a UNESCO retire o estatuto de Património Mundial ao Douro, Mexia (e Catroga) deviam demitir-se. E no Governo, os responsáveis da Economia, Ambiente e Cultura também. Aceitam o desafio ou são todos inimputáveis? E a EDP, pode ir pondo um dinheirinho de parte para pagar as indemnizações ao sector do turismo ao longo de anos?

A venda do poder de decisão na EDP a chineses, e o que se pode seguir na REN, GALP, Águas de Portugal (com potenciais angolanos, chineses ou árabes) é assustador. Os compradores chegam com dinheiro mas não trazem no currículo respeito pela democracia. Condenam-nos depois à mais vil pobreza: a de não termos sequer opinião sobre todo o lixo que nos quiserem pôr em cima. Ora, lá por não termos dinheiro, não temos que alienar o direito a viver com o mínimo de saúde e memória. A nossa terra vale zero em bolsa. Mas é tudo o que temos.
[Fonte: JN]

*O grande mal dos jornalistas, é o medo crónico de apontar o nome aos responsáveis. Não havendo quem reaja às generalizações de responsabilidades, seguramente  para evitarem citar os nomes de quem realmente as tem e de sofrerem eventuais represálias, o grande público permitiu que elas se tornassem moda, uma espécie de mentira repetida que acaba por se transformar em "verdade". 

Eu não tenho exercido, conscientemente, o meu direito de voto,  simplesmente porque perdi a confiança nos políticos, e tenho sobejas razões para o fazer.  Por isso, sinto-me ofendido quando oiço ou leio alguém dizer, quando as coisas não correm bem [e terão alguma vez corrido?], que a culpa é de todos. Quem generaliza culpas, não pondera, deliberadamente, a hipótese da abstenção poder também traduzir uma forma de rejeição à eficácia do acto eleitoral, o que explica, em parte, o esforço dos políticos tentarem, sistematicamente, diabolizar os abstencionistas. 

Os media, ao fim e ao cabo, pouco mais fazem do que imitar os vícios da política. Só dizem meias verdades e convivem com os infractores. É preciso deixar de ter medo. Afinal, o tempo da censura e da perseguição política já acabou, ou não? Se não acabou, por que não a denunciam? Fazer o diagnóstico sem revelar o nome da doença, é só meio trabalho.

Não queria falar do exemplo deste blogue, porque pode transmitir a ideia de fanfarronice, que desprezo, mas não me incomoda nada que me colem rótulos de populista, ou até de fundamentalista pela forma directa como escrevo, porque sei o que digo, e a consciência não me pesa. 

Pensem antes o que temem, ou os rabos de palha que escondem, aqueles que usam o verbo (populista) com reaccionária regularidade. Desconfiem deles, e observem-lhes os procedimentos. Verificarão que por de trás de um anti-populista se esconde quase sempre um grande traste.

Portugal é quase um asilo de alienados a céu aberto, é verdade. Mas ainda tem gente boa e competente. Neste grupo, não se incluem, como a História dita, os políticos. Contudo, os governos têm sido submetidos, em teoria, a escrutínios populares. Conhecem-se portanto os nomes de quem fez parte dos governos. São esses os responsáveis da nossa desgraça. 

Na falta de castigo mais adequado, por que não começar por dar ouvidos a quem não tem culpa nenhuma do que nos está a acontecer, e esquecem a opinião dos políticos? 

É um pedido modesto, reconheço, mas é um começo. Discutir o sexo dos anjos não é bom jornalismo.

11 janeiro, 2012

A propósito dos raros prémios do Totoloto...


...enviei para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa o e-mail/sugestão abaixo colado:

Exmos Senhores,


Há uns mêses a esta parte que acompanho os sorteios do Totoloto e constato, com alguma apreensão, que raramente foi contemplado o 1º.prémio.  A última vez que isso aconteceu foi em Agosto de 2011, do 56º. sorteio até ao 89º (33) do mesmo ano, mais o 1º.(+1)de 2012. O Jackpot apenas saiu ao fim 35ºs. concursos, ou seja, ao 2º.sorteio de 2012! No total, foram 34 sorteios [seis mêses] sem premiar um único totalista! Além disso, durante o mesmo período de tempo, houve cerca de 13 sorteios sem premiar os 2ºs. prémios! Não será tempo demais?


Tudo isto pode ser muito sério, mas com estes resultados, mesmo tendo em conta a componente aleatória do próprio jogo, a verdade é que não o parece. 


Por estas razões, seria recomendável que V. Exas tornassem público nos jornais diários, não o nome do premiado [como é lógico], mas, no mínimo, o local/região do balcão onde se  registam os prémios mais importantes. 


Assim, se dissipariam as eventuais suspeições que podem pôr em causa o prestígio e honaribilidade dessa Instituição.


Com os melhores cumprimentos,
Rui Valente



Maçons. Só se for para partir pedra, mas com o ordenado mínimo...

Símbolo Maçónico
Desde há umas três dezenas de anos que tenho comigo o livro "A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo", de Oliveira Marques, cujo prefácio começa por dizer que o objectivo é esclarecer todos os leitores sobre factos e ideias da matéria.

Devo dizer, que não consegui lê-lo até ao fim, tal foi o sentimento de desconfiança que me deixou. Por princípio, suspeito das intenções de qualquer sociedade secreta [embora haja quem diga que o não é], e quando admitem políticos no seu seio, ainda suspeito mais.

A Maçonaria possui normas nalguns aspectos semelhantes às da Constituição da República, mas ao contrário desta, não as altera, porque não precisa de as pôr em prática. A Maçonaria defende a Justiça Social, o aclassismo, a fraternidade, a igualdade e...a democracia. Num país integrado numa Europa desigual e profundamente desgovernada, o espírito da Maçonaria seria  menos ridículo e mais aceitável se servisse de reforço aos valores democráticos. Mas quando estes valores andam pelas ruas da amargura, e o número de pessoas sem emprego sobe assustadoramente, a coisa muda de figura. 

Não gosto de perseguições e defendo fortemente o direito à privacidade individual dos cidadãos, mas a Maçonaria nada tem a ver com a privacidade comum, a Maçonaria é uma sociedade ritualista, fechada e elitista. Quando os governantes se revelam incapazes de administrar com talento e saber os países, com consequências gravíssimas para a vida dos povos, sou a favor da proibição total da participação de políticos em qualquer tipo de sociedades, sobretudo de cariz hermética.

Vou mais longe, ainda. Considero que os políticos também não deviam imiscuir-se no futebol. Ao fazerem-no, perdem o perfil de independência exigível a quem tem de decidir com isenção.  Os políticos, sendo pessoas como as outras, não deviam assumir as liberdades mundanas do cidadão comum. As suas responsabilidades não deviam ter a elasticidade das de um jogador de futebol, requerem outra austeridade, outra elevação, mais próprias de um missionário.

Ao contrário do que alguns defendem, essa irracional "colagem" às bases que permite a uma figura do Estado ir ao futebol com o cachecol do clube ao pescoço, é o princípio da sua desautorização moral e pessoal, enquanto figura pública.

Só isso explica essa aberração da "democracia" moderna que permite vê-los a consumir o tempo - que deviam dedicar à resolução dos problemas do país -, em programas de rivalidade clubísta. Tal costume não pode ser compatível com a grande política, e grande política no sentido nobre do termo, é tudo o que nunca tivemos, antes, e depois de Salazar.


10 janeiro, 2012

10 anos de um Rio sem vida nem alma


Ontem, houve quem não resistisse ao beija-mão a Rui Rio, sob pretexto dos 10 anos à frente da CMPorto. 

Supostamente, consta que a seriedade é a sua maior virtude. Eu, não iria tão longe, até porque as pessoas sérias abdicam naturalmente da auto-promoção e do auto-elogio, coisa que o actual Presidente da Câmara é incapaz de fazer.

Até porque não tem muito de que se elogiar. Se o turismo aumentou no Porto não foi seguramente por intervenção directa ou indirecta de Rui Rio. Os vôos low cost, o Metro do Porto e o Aeroporto Sá Carneiro - que não são obra da sua lavra - foram os impulsionadores principais. Se algumas [poucas] casas foram recuperadas, não é motivo para grandes manifestações de orgulho, porque o Porto ainda precisa de reabilitar centenas delas e com rendas suficientemente atractivas para repovoar a cidade, coisa que a "movida",  por si só, não resolve.

Para terminar, a seriedade, apesar de andar efectivamente arredia da classe política, é um dever cívico do bom cidadão, mas não chega para se ser competente.

Portanto, numa nota de 1 a 10, eu dou um 5 a Rui Rio. Pela seriedade...

09 janeiro, 2012

Aleluia! Houve prémio no Totoloto!

Ao fim de 33 sorteios consecutivos, sem que nenhum apostador tenha logrado acertar no 1º. prémio, eis senão quando, a "sorte" bateu à porta de alguém mais persistente e ...confiante.

Foi preciso esperar quase meio ano, para alguém ter direito a prémio. Por incrível que pareça, não houve 2º. prémio! Desde Agosto de 2011, a partir do 56º. sorteio, até 2º sorteio de 2012 que a Santa Casa da Misericórdia não teve de abrir os cordões à bolsa com prémios...

Consultar Sorteios

 Totoloto
Sorteio: 002/2012 - Sábado Data do sorteio: 07/01/2012
Chave:1220293241+6Ordem Saída:4129322012+6
PrémioAcertosNúmero de vencedoresValor
1.º Prémio5 Números + Nº da Sorte1€ 11.832.880,70 
2.º Prémio5 Números0(1)
3.º Prémio4 Números252€ 354,71 
4.º Prémio3 Números10.693€ 4,64 
5.º Prémio2 Números147.710€ 2,01 
Nº da SorteNº da Sorte183.115Reembolso do valor da aposta de Totoloto
Estatísticas
Nº de Bilhetes/Matrizes725.838
Nº de Apostas2.229.428
Receita ilíquida apostas€ 2.006.485,20
Montante para prémios€ 993.210,17

Nomeações para a EDP demonstram apropriação pelas clientelas do Governo

António José Seguro mostrou-se "muito surpreendido" com os nomes adiantados para o Conselho de Supervisão da EDP considerando que são uma "demonstração" da "apropriação por parte das clientelas dos partidos do Governo " de cargos públicos. 

Seguro referia-se à promessa feira durante a campanha eleitoral pelo agora primeiro-ministro de "por um travão" a este tipo de nomeações.

"Considero que isto é mais uma demonstração daquilo que é a apropriação por parte das clientelas dos partidos do Governo em relação a áreas importantes da nossa economia, onde o Estado ainda tem participação mas também do próprio aparelho do Estado", afirmou o líder socialista.

António José Seguro afirmou ter ficado "muito surpreendido" com as escolhas para ocupar o conselho de Supervisão da EDP e, realçando que não fazia "nenhuma referência a nomes", apontou como "facto" ser "evidente" a "identificação" dos nomes vindos a público com os "dois partidos do Governo".

Eduardo Catroga, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo e Ilídio Pinho são alguns dos nomes propostos à Assembleia Geral de Accionistas para integrar o Conselho de Supervisão da EDP.

Para o secretário-geral do PS, "houve um processo de privatização da EDP que aparentemente está associado a um processo de contrapartidas que passa pela governamentalização e partidarização deste conselho da EDP".
[Fonte: JN]



Nota de RoP:

Básicos, e mal formados que são, os governantes nem sequer são capazes de perceber que cada vez que falam de populismo quando são alvo da censura pública por se envolverem em constantes promiscuidades, mais não fazem do que acentuar a revolta dos cidadãos. Ninguém se aproveita. Nem partidos políticos, nem pessoas. Andam todos atrás do mesmo. E ouvir Seguro a criticar estas decisões, quando o PS se tem fartado de fazer o mesmo, dá vontade de vomitar.

Assim, os jobs for the boys vão continuar, e em força, alternando-se consoante se altermam os partidos no poder. É a vida. Num país onde o Ministério Público está mais preocupado em gastar o dinheiro dos contribuintes para tentar calar Otelo do que em concluir processos-crime em que estão envolvidas figuras públicas como Duarte Lima e Companhia, não podemos esperar grandes mudanças.

De facto, Otelo tem razão, isto só lá vai à força, porque estas elites de cáca não estão educadas para respeitar as regras democráticas.  São gente mal comportada. Estas notícias, provam-no, à exaustão.

05 janeiro, 2012

Que "modelo" sugere, caro Daniel?

Apesar da pertinência das questões levantadas por Daniel Deusdado na crónica plasmada aqui em baixo, não estou certo que "a pior coisa que nos pode acontecer seja fazer do FCPorto o líder do processo político de combate à macrocefalia lisboeta".  Estou para esta opção, como a anedota do limite da paciência: não vale a pena defecar para dentro de uma gaiola e esperar que o acto se transforme num belo canto de passarinhos... A mesma teoria aplico à regionalização. Não quero, nem preciso de me deixar matar pela ganancia centralista para me tornar num regionalista convicto. Essa, é a teoria dos falsos regionalistas, como Rui Rio. 

Deusdado diz que o FCPorto não é uma instituição pública imitável, e eu pergunto: qual é a instituição pública que o é? A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de Santana Lopes? Diz também que o FCPorto é uma empresa notável, de um líder absoluto, mas com uma capacidade de acção e métodos que não se compaginam com decisões democráticas, e eu questiono: que líder conhecerá Deusdado, que seja simultaneamente Líder, e compaginável com decisões democráticas? Os leitores conhecem? Eu não. 

Por mim, cansado que estou de políticos medíocres e desonestos, alguns deles, verdadeiros gangsters, já aceito qualquer solução, incluindo aquela que o Otelo defendia, um golpe militar, caso fossem ultrapassados todos os limites. Venha ele. Os limites já foram ultrapassados há muito, e estão directamente ligados com a degradação social, moral e económica da actualidade. 

Só quero, firmemente, é que me tirem deste pesadelo e metam os verdadeiros responsáveis pelo status quo nos calabouços, que é também para tipos como eles, que foram criados. 


F.C.Porto / Lisboa





Por que chegamos à indigência social e económica do Norte? Situo no tempo o ano de 1995 - quando o Banco Português do Atlântico (BPA) foi entregue ao BCP, depois fundido e arrasado na sua matriz de instituição com centro de decisão no Norte.

O BPA era o braço da indústria e o seu centro de estudos um alforge de pensamento estratégico para as universidades e Poder Político. Quem tomou a decisão de o comprar e levar para Lisboa? Um homem do Porto na capital, Jardim Gonçalves.

Quando um grupo dos empresários, liderados por Belmiro de Azevedo, tentou fazer frente à aquisição hostil (OPA) do BCP, a coesão do grupo nortenho falhou e venceu a lógica do encaixe rápido. Poderia ter sido diferente? O que seria hoje da Sonae, Mota (Engil), Riopele, entre outros, se um importante motor financeiro como o BPA tivesse existido?
E Portugal seria diferente se o portuense Valente de Oliveira, o ministro do Planeamento e Ordenamento do Território, não tivesse fomentado, durante o cavaquismo, a teoria de Lisboa como "centro de difusão de riqueza" para o resto do país?
Outra circunstância histórica: a globalização fez entrar os produtos asiáticos a preços imbatíveis. Uma boa parte da geração dos "capitães da indústria" do Norte vendeu ou fechou as empresas. Muitos dos que conseguiram aguentar-se transferiram boa parte do capital ganho na indústria para os negócios financeiros (acções de bancos, por exemplo). Ora, o mundo financeiro é controlado na capital. O Norte financiou a explosão do lobby financeiro gerido a partir de Lisboa... Obviamente, reconstruir uma geração de exportadores fortes e com força política para ser ouvida pelo Governo demora décadas. Estamos a meio deste processo.

Outra questão central é a dos média. E, neste ponto, o cenário é de catástrofe. Ainda há bem poucos anos havia pelo menos três órgãos de comunicação com dimensão e capacidade de influenciar as decisões em Lisboa: o Público, que lentamente perdeu pessoas e meios e cujo futuro é incerto; a TSF, hoje muito mais reduzida no Norte do que já foi; e a RTP, a única televisão com uma grande Redacção no Norte.

O actual processo de privatização da RTP é o novo momento de desmantelamento do que resta de "televisão com força política" fora de Lisboa. Sem média fortes, sem políticos, universitários e comentadores em estúdio, sem programas e notícias pensados e emitidos doutro sítio que não da capital, o mundo português é o eixo Lisboa-Cascais. Curiosamente, os média no Porto têm ignorado olimpicamente a questão da provável dissolução da RTP no Norte como se isso até fosse positivo.

Por fim: a pior coisa que nos pode acontecer é fazer do F. C. Porto o líder do processo político de combate à macrocefalia lisboeta, por muito que se goste do clube (e eu gosto). O F. C. Porto não é uma instituição pública imitável. É uma "empresa" notável e quase global, de um líder absoluto, mas com uma capacidade de acção (e métodos) que não se compaginam com decisões democráticas.
Infelizmente, a frase "Lisboa a arder" e a dúbia posição do presidente do clube contribuíram para tribalizar a gestão do território, como se ela fosse futebolística. Portanto: se o país não esquece as ameaças separatistas de Pinto da Costa e não deixa o Porto (o Norte?) ser "livre", qual o passo seguinte? Só vejo o caminho da internacionalização da economia. Exactamente o que aos poucos se vai fazendo. O que dará novo fôlego político à região.
E a regionalização? Sou a favor da ideia de que "perto" se gere melhor do que "longe". Não é um João Jardim que apaga milhares de bons autarcas (e não, a única rotunda boa do país não é a do Marquês do Pombal...). Mas estou convencido de que só haverá regionalização se a medida for imposta já que Portugal é o único país da União Europeia não regionalizado. Ora... alguém conhece um dos membros da troika e o convence a meter isso na agenda? Só assim. Não vejo a maioria dos portugueses a querer deixar de depender do "Estado centralista" gerido a partir da capital. Está tudo escrito há muito pelo Eça de Queiroz.

32º. sorteio consecutivo sem acertadores e novo 2º.prémio... sem prémio

NÃO JOGUEM NO TOTOLOTO, PORRA! 
ISTO É MAIS UMA VIGARICE!


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 Totoloto
Sorteio: 001/2012 - Quarta-Feira Data do sorteio: 04/01/2012
Chave:618253940+6Ordem Saída:391840256+6
PrémioAcertosNúmero de vencedoresValor
1.º Prémio5 Números + Nº da Sorte0(1)
2.º Prémio5 Números0(2)
3.º Prémio4 Números198€ 350,47 
4.º Prémio3 Números8.749€ 4,40 
5.º Prémio2 Números125.290€ 1,84 
Nº da SorteNº da Sorte148.180Reembolso do valor da aposta de Totoloto
Estatísticas
Nº de Bilhetes/Matrizes590.046
Nº de Apostas1.730.727
Receita ilíquida apostas€ 1.557.654,30
Montante para prémios€ 771.038,88
(1) Previsão 1º Prémio c / Jackpot€ 11.900.000,00
Observações


Jogos

O Departamento de Jogos tem por objectivo explorar os jogos sociais concedidos pelo Estado de forma eficiente, garantindo o cumprimento da política nacional de jogos definida, nomeadamente, o respeito pelo princípio da proibição, da ordem pública que visa preservar, contribuindo para a satisfação dos apostadores e criando valor a devolver à sociedade através do financiamento público das despesas de natureza social.
Nota do RoP:
Sobre a satisfação dos apostadores suponho que estamos conversados...

03 janeiro, 2012

Chamar os nomes aos "boys"

No seguimento de entrevistas anteriores a figuras públicas do Porto sobre a macrocefalia de Lisboa, o JN publica hoje a opinião de outras personalidades, àcerca  das declarações do bispo do Porto, D. Manuel Clemente feitas no Natal, inseridas no mesmo jornal, desse mesmo dia.

A avaliar pelas respostas, quase podíamos garantir que o Norte está finalmente determinado a libertar-se do velho jugo centralista, mas daí a transformar as palavras em iniciativas, tudo indica que ainda há um longo caminho a percorrer. Quando a palavra de ordem devia ser a União do Norte, com manifestos de claro repúdio às provocações a que temos sido sujeitos por sucessivos governos, continua a constatar-se da parte de alguns entrevistados pareceres ostensivamente reverenciosos, como foi o caso do Presidente do C.A. da Casa da Música, José Manuel Dias da Fonseca: " Lisboa, deve manter o seu caminho de crescimento e de referência nacional e internacional, sem esquecer as outras regiões"... Não sei de onde é este senhor, se é do Norte, do Porto, ou de Lisboa, mas pela resposta, só pode ser mais um oportunista. Se fosse eu o Director do JN era a última vez que o abordava para falar sobre o centralismo. Mas o JN deve entender o contrário, talvez por considerar "construtiva e democrática" a opinião de falsos regionalistas, como tudo indica ser este cavalheiro.

Já Júlio Magalhães foi bem mais frontal. Disse que as pessoas de Lisboa não conhecem o resto do país, mas acrescentou que "as mais decepcionantes que encontrou em Lisboa foram portuenses ou nortenhos". Vendem-se rapidamente ao centralismo e adoptam um discurso ainda mais duro em relação ao resto do país. Como querem entrar no circuito do poder, adoptam o discurso deles". 

Aquela que optou por um discurso mais "revolucionário" foi Beatriz Pacheco Pereira: "Já é tempo de as pessoas do Norte se insurgirem contra o actual estado de coisas". Apesar disso, faz-me espécie ouvir estes tipo de comentários, sabendo que um grupo de cidadãos anónimos [entre os quais eu me incluía] liderados pelos ex-deputados Pedro Baptista e Anacoreta Correia, criaram um Movimento político [Movimento Pró Partido do Norte], com vista a devolver à discussão pública o tema da Regionalização, e que, como devem estar lembrados, não conseguiu atrair às suas fileiras muitos dos que agora se "assumem" regionalistas e... se insurgem.

Talvez por isso, e também pela miserável adesão de muitos portuenses [e portistas] à assinatura de uma petição pública que visava responsabilizar as directorias da RTP pela discriminação feita ao FCPorto, subscrevo - com alguma mágoa, confesso -, as palavras do futuro Director do Porto Canal. Na realidade, os homens do Norte já não são o que eram. No entanto, para Júlio Magalhães ser conclusivo, faltou ao ramalhete, apontar os nomes desses tais portuenses e nortenhos que o decepcionaram. Eu por acaso, até conheço um, que é seu amigo e jornalista. Chama-se Manuel Queiroz, escreve as "Crónicas do exílio"  no Semanário Grande Porto de cariz circunstancialmente regionalista, mas é incapaz de se impor ao seu colega Valdemar Duarte, quando está a comentar os jogos do Futebol Clube do Porto na TVI com um fanatismo digno de talibans, em... Lisboa.

Vamos esperar que Júlio Magalhães também fale dos centralistas lisboetas, porque isto de dar uma no cravo e outra na ferradura, também não esclarece muito. É verdade que há muita gente do Norte a trair a região, mas também é verdade que os lisboetas ajudam à missa. Nada de branqueamentos, portanto. É tempo de dar os nomes aos bois, ou seja, é preciso começar a deitar cá para fora o nome desses políticos e jornalistas que nos envergonham a todos. Eu começo: Cavaco Silva, Rui Rio, Sócrates, Soares...


  

02 janeiro, 2012

O "impoluto" Rui Rio


O Comércio do Porto

Publicado em 2011-12-29

 
A esmagadora maioria dos leitores desconhece os meandros da relação esquizofrénica entre a Câmara do Porto e os principais jornais da cidade. Jorge Fiel, subdirector deste jornal, dedicou no sábado um editorial a Manuel Teixeira, o chefe de gabinete de Rui Rio, um "Richelieu" dos nossos tempos. Na base da atitude da Câmara do Porto está uma sistemática perseguição à Imprensa através de uma cruzada moral. De um lado os jornais politicamente orientados, do outro os políticos insubmissos salvadores da democracia. Nada mais triste e falso. Recuemos então uns anos.

Em meados da década de oitenta. Manuel Teixeira era director d"O Comércio do Porto", Cavaco Silva havia chegado ao poder em 1985, governava em minoria, e a tensão política levou à convocação de eleições antecipadas. No Porto, o "JN" era considerado um jornal de esquerda, o "Primeiro de Janeiro" vivia em pré-agonia e "O Comércio do Porto" tinha um obstáculo à tomada de controlo político pelo PSD: dois chefes de redacção independentes, Jorge Fiel e Rogério Gomes. Subitamente, numa noite, os dois foram afastados e Teixeira mandou vir um tal de Santos Martins, chefe da delegação de Lisboa, assumir a chefia da redacção. O "golpe de estado" destroçou a redacção por completo. Estava lá e vi começar a morrer nesse momento "O Comércio do Porto".

Como se sabe, Cavaco ganhou as eleições de 1987 com maioria absoluta. Fixei para sempre o Jornal da Tarde da RTP1 do dia seguinte à vitória: Cavaco filmado no alpendre do jardim do Palácio de São Bento. Em cima da mesa um único jornal: "O Comércio do Porto".

O Governo decide depois privatizar os jornais. Qual o primeiro? "O Comércio do Porto". Ganho por Manuel Teixeira e uma "cooperativa de jornalistas" feita à medida da lei. E é também a Rádio Press (de Teixeira) que ganha o concurso lançado pelo Governo para a principal frequência de rádio do Porto. Era o tempo do cavaquismo absolutista e imaculado. E depois vendeu tudo a quem percebia do negócio...

E aqui chegamos a Manuel Teixeira, contratado para chefe de gabinete de Rui Rio e aos seus métodos de fragilização sistemática da Imprensa. Um exemplo: em 2003, era eu subdirector do Público, e recebo um telefonema da Presidência da República no qual um dos assessores de Jorge Sampaio pedia para visitar o jornal no Porto. Quando chegou, explicou: "Temos recebido na Presidência queixas de Rui Rio contra o vosso jornal e o Presidente gostaria de saber a razão". Como se imagina, vistos os casos que Belém recebia da Câmara do Porto, sobravam cinzas e o ridículo das denúncias.

Dez anos passados, quase nada mudou. Rio e Teixeira usam e abusam do legal "Direito de resposta" para esclarecer coisas que qualquer outra Câmara (ou ministério) resolve com um telefonema de cinco minutos. O objectivo final é levar os jornais à humilhação. Gerar o desgaste no leitor através da ocupação do espaço das notícias com desmentidos sistemáticos, muitas vezes de pormenor. Instigar as outras câmaras a fazerem o mesmo.

Contra os média não é "Pacheco Pereira" quem quer. Infelizmente Rui Rio não sabe isso e Teixeira não lho diz. A Câmara do Porto, entretanto, é ela própria uma entidade de média. Edita revistas (por interpostas empresas) e publicita em ecrãs da cidade a informação que o presidente quer/gosta/controla. Criou uma micro "TV Porto" cujo interesse é dizer, sem "jornalistas", o que quer aos munícipes. Todas estas coisas pagas com dinheiro dos contribuintes para exclusiva propaganda do grande líder.

Se a cruzada é moral, deixo aqui manifestado o meu interesse em que surjam nos ecrãs luminosos da cidade, nas revistas (que abusivamente colocam no meu correio e no de milhares de habitantes da cidade) e na "TV Porto" a seguinte opinião como munícipe: "O presidente da Câmara Rui Rio usa dinheiro público para fazer propaganda a si mesmo neste meio de comunicação social". A bem da democracia. E só semanalmente, não precisa de ser todos os dias.

Nota do RoP: 
Este artigo já foi publicado há uns dias, mas o tema é imtemporal, sobretudo por desmontar a falsa imagem de homem integro do actual Presidente da Câmara do Porto.

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Mas onde é que já [ou]vi isto!?


Cheiro a canela




Em finais dos anos oitenta ou inícios da década de noventa, nas alegações finais de um julgamento em Lisboa, apresentei-me, como sempre gostei de o fazer na capital, como um advogado de província e provinciano. Logo o juiz, um jovem e simpático magistrado, veio em meu próprio socorro, contradizendo-me com bonomia e considerando que eu não precisava de ser tão severo comigo mesmo. Esclareci então que, ao contrário de Fernando Pessoa, para mim o termo provinciano não era depreciativo, bem pelo contrário, até era elogioso, porque - enfatizei - «nós na província distinguimos bem os provincianos dos parolos». Acrescentei que um parolo nunca se imagina como tal, pois, pensa que é superior aos outros, julgando-se sempre muito moderno, muito esperto e muito cosmopolita. E concluí: «Lá na província já quase não há parolos porque eles vêm quase todos para Lisboa, atraídos pelos néons ou pelo cheiro a canela que ainda subsiste por aqui». O juiz sorriu com um olhar breve e logo reassumiu o ar grave de quem condena e absolve, ciente, como eu, de que durante o julgamento ambos detectáramos um espécime do género.

Recordo ainda um outro episódio ocorrido posteriormente e que é também algo elucidativo da minha dificuldade em me relacionar com a grande metrópole. Um velho contemporâneo na Universidade de Coimbra que ocupava um alto cargo na administração pública convidou-me para almoçar. O almoço, que teve lugar num dos restaurantes mais caros de Lisboa, destinava-se a «vender-me» uma qualquer intrigalhada político-jornalística. O repasto decorreu com cordialidade e jovialidade, apesar de ele cedo ter percebido que eu não lhe «adquiria a mercadoria». No final, quando veio a conta, ambos fizemos o gesto de puxar da carteira e antes que eu tivesse tempo para propor o pagamento a meias, como nos bons velhos tempos, ele reteve-me com um gesto firme e, num tom algo teatral, determinou que ele é que pagava, sacando de um cartão de crédito do estado. Não gostei nem do gesto nem do tom e respondi-lhe com rudeza: «pagas tu, não! Pagas tu e eu porque 40% do plafond desse cartão de crédito é dinheiro meu, que é a percentagem que o governo me cobra de IRS todos os anos. Ele ainda fez um esgar de quem iria ripostar, mas optou por um sorriso forçado rematado com uma frase do género: «Vejo que não mudaste nada». Despedimo-nos com um abraço e promessas de contactos futuros, mas até hoje não nos voltámos a encontrar, já lá vão mais de quinze anos.

Tenho por Lisboa sentimentos contraditórios. Por um lado, gosto muito da cidade, da sua luz, da sua paisagem urbana, da sua fisionomia arquitectónica. Lisboa é uma das cidades mais bonitas do mundo. Gosto muito dos verdadeiros lisboetas - os alfacinhas - que resistem dentro da cidade às investidas do progresso e do desenvolvimento que os querem varrer para os subúrbios ou para os dormitórios da periferia. Mas não sou capaz de viver em Lisboa. Já tentei, mas nunca me dei bem com as suas regras. Por isso, mesmo agora, regresso todas as sextas feiras a Coimbra.

Sempre me recusei a aceitar a ideia de que, afinal, os encantos secretos com que a capital amansa os ímpetos mais regionalistas resultam apenas da circunstância de ser aí que se parte e reparte o bolo do orçamento de estado. Mas, não tenho alternativa. A facilidade (e impunidade) com que se esbanja dinheiro em Lisboa é confrangedora. E o dinheiro atrai ainda mais do que os néons e a canela. O centralismo e a macrocefalia lisboetas que asfixiam o país não são mais do que o resultado de opções concretas de pessoas, a grande maioria das quais nem sequer é de Lisboa. É essa espécie de estrangeirados que dá à cidade os tiques de capital do império. Tais degenerescências não resultam, afinal, de nenhum desígnio demoníaco, mas sim da incapacidade da província em gerar elites que combatam essas perversões com coerência. Se exceptuarmos o futebol, Lisboa hegemoniza (centraliza) praticamente tudo o que é relevante em Portugal. E o segredo desse sucesso está em atrair aqueles que na «província» mais se destacam no combate à sua macrocefalia, pois, dando-lhes algum poder e/ou algum dinheiro, logo passam a ser os principais defensores do statu quo. Pelo menos assim tem sucedido até hoje.

30 dezembro, 2011

Bom Ano 2012, para os leitores, amigos e comentadores do Renovar o Porto

Tempo para regionalizar?

Aqui há dias um Secretário de Estado ligado à administração do território veio declarar publicamente que os tempos que correm não são propícios à implantação da Regionalização.

Já estamos todos cansados de saber que, segundo os vários governos, há sempre um imponderável que impede a criação das Regiões. Se não é isto é aquilo, se não é aquilo é outra coisa qualquer. Até aqui nada de novo, são notícias requentadas. A realidade é muito simples. Os políticos não querem a regionalização porque isso corresponderia a abrir mão de parte do seu poder absoluto, com a correspondente perda de parte das benesses e regalias de que usufruem sem que, na maioria dos casos, as mereçam. Do outro lado, as populações que seriam beneficiadas com um regime de regionalização anti-centralista, mantêm-se mudas e quedas, numa apatia de lorpas.
Emquanto este panorama persistir, a regionalização será um mito, a cabeça do país continuará a engordar e o resto do território continuará a definhar.

Ao contrário do senhor secretário de estado, eu penso que é precisamente nas actuais circunstâncias que mais se impunha a criação das Regiões, em moldes que teriam de ser largamente discutidos. Regionalização é uma palavra de significado muito genérico sob a qual se podem conceber inúmeros conceitos objectivos. Acho que as várias alternativas nunca foram discutidas a sério. Já é mais do que tempo de o fazer.

Por que motivo penso que estamos em tempo adequado para uma Regionalização? Estou convencido que a actual política de merceeiro que o governo adoptou, nos leva ao desastre. É fundamental aumentar a actividade económica, potenciar recursos naturais, tornar o país atrativo ao investimento estrangeiro. Nós temos recursos potenciais abandonados pelo país fora que o Terreiro do Paço nem com binóculos enxerga. As Regiões, pela proximidade com os problemas e com as potencialidades locais, se tiverem capacidade de decisão estarão em muito melhores condições para tomar atempadamente as melhores soluções do que o poder centralizado embrenhado na sua pesada burocracia, afogado em problemas e pedidos que caem de todo o país, e tantas vezes decidindo baseado em informações que nada tem a ver com a realidade.
Resumindo, necessitamos de um sistema político e administrativo que permita o aproveitamento integral das potencialidades nacionais, em vez do actual sistema que deliberadamente abandona partes enormes do nosso território, transformando-o num encargo em vez de o transformar num contribuinte, por modesto que fosse, para o Produto Nacional.

Isto, em minha opinião, passa por uma descentralização séria que deixe ao Estado as funções de soberania nacional, chamem-lhe Regionalização ou outra coisa qualquer. O nome não é importante, o importante é a delegação de poderes e decisões.

Mas isto é o que o Estado se recusa a fazer. Como resolver esta equação?

29 dezembro, 2011

Movimento Partido do Norte - Convocatória


Press release
Convocatória para conferência de imprensa aberta do MPN - Movimento Partido do Norte, o Partido das Regiões
Sábado 31 de Dezembro, 15 horas, Rua de S.Brás
"Contributo para o desenvolvimento e a criação de emprego em Portugal"

1. De acordo com o Secretário de Estado Adjunto Carlos Moedas, "Fevereiro é o mês decisivo da avaliação da reforma da economia portuguesa" (Público, 29.12).

Do que tivemos conhecimento, os Governos continuam a demonstrar uma consequência de se terem formados tantos juristas no País, dado ser simplesmente um conjunto de articulados legais, que neste momento não serão o detonador do desenvolvimento, pese embora os bloqueios que se corrijam.

Consideramos que temos mais um Governo falho de acções concretas no tecido empresarial e na Economia, porque não os conhecem e não estão vocacionados.

Fica aqui um contributo do MPN, complementar a estas medidas.

2. No MPN entendemos que desde logo crucial uma mudança da perspectiva, considerando-se o mercado interno como prioritário para o nosso desenvolvimento.

Repetimos: o mercado interno!
Exportações, internacionalização e emigração é algo dos genes dos portugueses, nada têm a ver com políticas económicas ou sociais de promoção, que não são necessárias.

A necessidade e o exíguo mercado interno há muito que direccionam as empresas, sobretudo as do Norte e Centro, nesse sentido.

As televisões continuam a encher-nos da Geração Erasmus, mas não estamos aqui a falar de turismo universitário, pago pelos pais das classes alta e média/alta. Mas das situações em que a pobreza e o desespero empurraram muitos para a emigração.

Como criar valor e escala no mercado interno, como captar investimento para Portugal, como fazer crescer a população em Portugal, como contrariar o despovoamento?...

Esse é o tipo de questões que consideramos cruciais.

3.Devemos passar da fase de planos e protocolos para projectos concretos.
Exemplos, entre muitos:

(i) Neste momento, o Brasil envia 100 mil bolseiros para se formarem no estrangeiro (Programa Ciência sem Fronteiras).
Algumas Universidades Portuguesas estão a deslocar-se para este mercado quando a perspectiva deverá ser a de trazer esses estudantes para Portugal.

No Público de 28.12, são referidos casos de estudantes e professores estrangeiros, que na busca do nosso sol, gastronomia e segurança, se impressionam com a qualidade do nosso ensino, que sobe nos rankings internacionais. O objectivo deverá ser trazer esses estudantes para Portugal, para criarem por cá laços, e para gastarem dinheiro cá.

O mesmo em relação ao "rico" país de Timor, que tão mal tem sido tratado pelos responsáveis Portugueses. Há dois anos, tinham 2 mil milhões de euros para investir, ninguém quis! Agora têm mais.Angola e, em breve Moçambique e o pequeno S.Tomé e Príncipe e Cabo Verde, estarão também no Grupo de potenciais imigrantes universitários.

(ii) A "importação" de reformados europeus
Podemos constatar a existência de uma empresa asiática, com participada em Portugal, que poderá colocar, a titulo experimental, centenas de reformados da Escandinávia, Alemanha e Inglaterra em clínicas geriátricas do Norte de Portugal. Como primeiro teste e de imediato.

Adicionalmente, as suas altas reformas induzirão consumo nas zonas em que se instalem.
As outras vantagens estarão na promoção de investimento de valor acrescentado, por assente nas competências de profissionais de saúde e não em serviços de limpeza de imigrantes vindos dos PALOP's, que tem sido o modelo apoiado pelo AICEP para o Alentejo e Algarve.

Este é o modelo de turismo, geriátrico e de saúde, que deverá ser apoiado pelo Estado e seguido pelo sector privado.

(iii) A inevitável protecção do ambiente
Necessária para o turismo, imigrantes reformados europeus, sectores agro-industriais e como protecção de danos para a indústria do vinho do Porto e Douro.

Portugal tem mantido relativamente preservado o seu ambiente e é um factor diferenciador e de atracção, pese embora os atropelos no Algarve, os riscos dos projectos PIN para a Costa Alentejana e o assassino Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hídrico,

Aqui é fácil para advogados e legalistas. Cartão Vermelho!
Parar com o Plano no Tua, Sabor e Tâmega. Ir para Tribunal com quem aprovou licenciamentos ilegais, pagou adiantamento por obras não licenciadas como forma de pressão e criou dívida odiosa em Portugal.

(iv) A reabilitação das linhas ferroviárias
O despovoamento de Trás-os-Montes e Alto Douto está directamente relacionado com o encerramento das linhas do Sabor, Corgo, Tâmega e agora Tua e depois Douro.

Quando deveriam ser potenciadas, e ligadas a Bragança (no caso do Tua) e a Salamanca (no caso do Douro), fazendo-as tocar na Alta Velocidade Espanhola, que passa em Sanábria e Zamora. O mercado emissor de turistas de Madrid ficaria a 1h30 do Património do Douro e de Trás-os-Montes.

Do outro lado, por 23 milhões de euros, a linha do Minho deverá colocar Vigo-Porto a 1h30 de distância e voltar a tocar na Alta Velocidade Espanhola.

Esta "mão ferroviária", articulada com o terminal de Cruzeiros de Leixões e as dezenas de milhar de novos turistas que aí vão chegar, oferecerá os Patrimónios da Humanidade do Porto, Guimarães, Douro, Salamanca e Santiago de Compostela, de forma organizada e integrada, resolvendo o problema do pouco tempo de permanência no Douro e no Porto.A gestão ferroviária deverá ser regional, entregue para já ao Eixo-Atlântico, com mercado liberalizado, admitindo-se a entrada da FEVE e REFE no território português.

(v) A exploração de minério
A reabilitação da linha do Sabor e o licenciamento à Rio Tinto da exploração de ferro, entre outros casos e a título de exemplo.

(vi) A importação de empreendedores e o "intra-empreendedorismo" com spin-offs
Existe um déficit muito grande de capacidade empreendedora e de risco em Portugal, e falta o investimento em dois domínios cruciais e de resultados mais rápidos. Trazer empreendedores para Portugal (será feito a partir de um programa de TV, realizado por especialista nacionais, que procurará locais em Portugal, articulação com artesãos locais de grande qualidade, ambientes natuais de eleição como o Vale do Tua e os Rios Sabor e Tua, e divulgados no estrangeiro) e desafiar as nossas maiores empresas a criaram dentro de si núcleos de empreendedorismo que possam resultar em novas empresas (em preparação pela Sedes Porto).

(vii) A reabilitação low-cost das cidades, por arquitectos e engenheiros das Universidades do Porto, Minho e Aveiro
Desafio aos arquitectos e engenheiros de apresentar soluções e implementá-las, direccionadas para um poder de compra que permita o regresso de habitantes ao centro das grandes cidade, começando pela do coração do D. Pedro IV, o Porto.

4. Deste plano, apenas a reabilitação das linhas ferroviárias e a reabilitação urbana necessitarão de fundos.
Atendendo aos apoios comunitários a 85% e aos já previstos para a Alta Velocidade, seriam mais que suficientes para a "mão ferroviária" do Norte, necessária ao apoio a esta politica de desenvolvimento, que trará mais impostos para bem do país, em vez do desvio destas verbas para a terceira travessia do Tejo, sem benefícios visíveis para o País.

A reabilitação urbana será paga pelos Fundos do Programa Jessica.
Nada se pede que não exista já.

Fica aqui um contributo nosso, porque queremos um País melhor e uma Região mais forte.

José Ferraz Alves
Secretário Geral
Coodenador Empresas e Empreendedorismo