19 agosto, 2008

Ministros alérgicos ao Porto

Simpatizo muito com o Dr.Rui Moreira, e este é um sentimento partilhado por muitos portuenses. Gosto das suas opiniões, do modo educado como se exprime - mesmo se essa educação lhe reprime uma certa dose de agressividade que seria necessária em confrontos televisivos com "colegas" mal intencionados - da clareza e objectividade com que expõe os seus pontos de vista. Pena que não queira ter uma participação mais activa no movimento de emancipação - seja o que for que isto signifique - que mais cedo ou mais tarde terá de eclodir no Porto, mas a verdade é que cada um sabe as linhas com que se cose, e cabe-lhe igualmente a definição do timing para as atitudes que entenda convenientes.

Vem isto a propósito da sua crónica de domingo passado, no Público, que merece ser lida. Os seus contactos com o ministro Mário Lino permitem-lhe traçar uma "fotografia" realista do que ele percebeu serem as reacções do ministro de cada vez que regressa a Lisboa depois de uma visita ao Porto. No diagnóstico de RM, é à beira do Tejo que o ministro se sente bem, tranquilo e em sossego. Quando cá vem, diz RM, "percebe-se bem que tem connosco uma incompatibilidade de feitios e de interesses e que após cada viagem ao Porto (...) regressa a Lisboa aborrecido e renitente". RM acha também que o ministro não gosta do nosso sotaque, irrita-o a cidade lamurienta, não compreende porque razão os tripeiros não entendem que " há uma evidente vantagem para toda a nação em tudo o que beneficie a sua excelsa capital".

Infelizmente não se trata da reacção de apenas um ministro; se assim fosse, haveria simplesmente que aguardar a sua substituição. Para nossa infelicidade, este é um retrato generalizado dos governantes deste país, mesmo quando nados e criados na nossa região. Nós, os que vivemos fora de Lisboa e arredores, somos considerados uns pedintes, tão incómodos como aqueles desgraçados que não nos largam enquanto não lhes dermos uma esmola e a quem damos o mínimo possível, apenas para que deixem de nos importunar. Mas pior ainda. A generalidade dos lisboetas despreza os tripeiros, e criou um cliché, da cidade e dos seus habitantes, bem pouco lisongeira. Nós somos, dizem eles entre outras coisas, uns invejosos porque queremos ter tudo o que Lisboa tem, esquecendo-nos que o dinheiro é de Lisboa, competindo ao governo, que os representa, definir o tamanho da esmola, e se esta for grande demais ficará menos para eles próprios. Os lisboetas acham que somos egoistas segundo a definição da lei de R.Nego: " Egoista é quem pensa mais em si mesmo do que em mim".

Falando seriamente, cada vez me sinto menos como integrante "deste" país. O mínimo a que aspiro é uma autonomia legislativa e administrativa à moda das Ilhas. Por isso a regionalização de que fala a Constituição não me interessa para nada. Em post anterior expliquei porque penso assim, e assim continuarei a pensar até que alguém consiga convencer-me de que fiz uma leitura errada.

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