20 agosto, 2008

A REGIONALIZAÇÃO SAZONAL

O ano de 2009 está a aproximar-se e com ele o súbito - mas previsível -, apetite de lançar para debate o tema da Regionalização. Não será por aí que virá mal ao mundo. Discutir, tout court, a Regionalização não provoca urticária à classe política, desde que se cumpram os requisitos da praxe. Por outas palavras: desde que, terminado o período eleitoral, as «tropas» recolham todas disciplinadamente aos respectivos quartéis e o impertinente dossier "Regionalização" seja devidamente arquivado na gaveta do oportunismo político. Para não chocar os corações mais conservadores disse oportunismo político, mas se quiserem substituir a palavra oportunismo por vigarice talvez se ajuste com maior precisão ao caso.

Discutir a Regionalização está para os PQT (políticos que temos) como discutir o sexo dos anjos para os sexólogos. Ambos sabem de cor e salteado que não leva a nada, que terminada a época da caça regionalista (ao voto) não há lebres nem perdizes para ninguém. Por isso a Regionalização para os PQT não passa de um ligeiro frete.

Findas as férias grandes, aí temos o JN, remoçado e afoito, a retomar o assunto que lhe poderá render mais uns milhares de periódicos vendidos, o que, em época de crise, dá um jeitão aos cofres da empresa, enquanto vai lançando poeira para os olhos dos cidadãos mais distraídos levando-os a acreditar que agora é que vai ser.

Entretanto, parecem recomeçar em força as declarações sapientes de todo o tipo de colunáveis, à excepção daqueles a quem, em teoria, o tema mais interessaria comentar: os cidadãos. Os jornais consomem-se a usar o nome do povo como argumento para as mais ínfimas questões, mas nunca se decidem procurá-lo para saber a sua opinião para os assuntos que lhe dizem respeito. Critérios.

São preferencialmente políticos (Pachecos Pereiras & Ca.) e ex-políticos, são jornalistas e politólogos, é um regalo lê-los e ouví-los dissertar sobre o Estado da Nação.

O politólogo António Costa Pinto dá-nos algumas pistas. Vejamos o que ele diz no JN de hoje sobre o assunto : «Parece haver algum receio da parte da classe política em relação à criação de unidades políticas regionais». Que tal meus senhores, ainda não tinham pensado nisso?

Outro politólogo, de seu nome André Freire, vai um bocadinho mais longe e retira as seguintes conclusões: «Uma solução séria implica um poder regional com algumas competências e orgãos eleitos. E isto custa dinheiro». Que tal? Surprise!

Ora ainda bem que existem os politólogos para detectar os temíveis problemas da regionalização com a mesma previsão de quem descobre a pólvora! Custos! São os custos o grande calcanhar de Aquiles da Regionalização! É claro, que os custos que os portuenses (e não só) *já pagaram e continuam a pagar pela macro-centralização levada a cabo por este e outros governos não constam do cardápio de preocupações economicistas dos politólogos, só falta é explicarem seriamente porquê.

Resumindo. Reafirmo aquilo que venho escrevendo sobre a política em Portugal: não é a designação dos regimes político-administrativos que mais me preocupa, é a qualidade dos protagonistas que têm de os desenvolver.

Urge descobrir uma espécie de peneira que consiga separar o trigo do joio do carácter dos políticos. Então sim, poderemos finalmente falar de coisas sérias.

OBS.

O negrito é apenas para realçar um facto tragicómico, que é o seguinte: os anti-regionalistas e jacobinos (como diz, e bem, AJJ), temem a regionalização pelos custos que ela poderá comportar para o país, mas ainda ninguém lhes apresentou a factura. Nós repudiámos o centralismo porque já a estamos a pagar e há muitos anos.

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