12 agosto, 2008

TELEVISÃO A NORTE = PROJECTO FALIDO?

A Televisão em Portugal começou - através da RTP -, a ser emitida regularmente com dois canais abertos de administração pública, a partir do ano de 1957. Decorridos 35 anos, e apesar das sempre eternas dificuldades de mercado, o Estado abriu à iniciativa privada a exploração da primeira emissora de TV generalista à SIC (em 1992) e outro à TVI, um ano mais tarde. Todos eles com sede e direcção concentrados na capital.
Salvo melhor informação, foi sensivelmente a partir dessa data que se deu o tiro de partida para a maratona centralista que acabaria por redundar na actual desertificação social e política da cidade do Porto. As elites do Norte, e do Porto em particular, assistiram a esta ameaçadora concentração de poder, impávidas e serenas, sem esboçarem, ao longo de três dezenas de anos, uma reacção digna de realce susceptível de criar embaraço aos sucessivos dirigentes governativos. Sem obstáculos de maior, o centralismo cresceu confortavelmente para dimensões tão grandes quanto inesperadas e assim se manteve até aos dias de hoje.
Nem o fado chorado tradicional, 'prevenindo-nos' da inviabilidade económica para novos projectos de televisão (como acontece agora com o A. Sá Carneiro), obstou que, entretanto, outros canais de televisão temáticos se instalassem de novo e sempre em Lisboa, sem o mínimo esboço concorrencial do empresariado local. Só a SIC, à sua conta e à conta das influências político-económicas de Pinto Balsemão (paradigma do político oportunista), conseguiu montar em canal fechado - o tal que para o país é mini (mercado) mas para a capital já é maxi - mais 4 canais temáticos (SIC Notícias, SIC Internacional, SIC Mulher e SIC Radical). Por sua vez, a RTP, televisão do Estado, não perdeu tempo a emitar a concorrente privada, instalando para além da 2, o canal Madeira, Açores, RTPN, África, Memória e RTPInternacional, sem que com isso evidenciasse grande vocação para um verdadeiro serviço público em termos de autonomia informativa.
Foram muitos anos de laxismo regional - tanto a nível político, como da iniciativa privada - , no que concerne a preocupações com uma área de negócio, porventura pouco estimulante, em termos de rentabilidade a curto prazo, mas fundamental para a consolidação e desenvolvimento regionais de todas as outras. A sociedade civil elitista em vez de procurar afirmar-se com mecanismos de poder próprios, enveredou pela solução mais simples, fez como Maomé, foi ao encontro da Montanha, com os custos terríveis que hoje estamos a sentir na pele.
Não há portanto quaisquer dúvidas que, se existem responsáveis por toda este desleixo regional(é o termo correcto), eles chamam-se: elites políticas e elites privadas. Mais nada.
Por todos estes factos, ainda hoje continuo sem perceber o que se passou exactamente com a NTV para não ter vingado. Manuel Tavares, director do jornal O Jogo, numa troca de e-mails há já alguns anos, informou-me que foram "comidos" na NTV cerca de 20 milhões de euros, mas nem ele, nem ninguém conseguiu explicar-me concretamente como, e isso era muito importante que fosse do conhecimento público nortenho. Há um manto de mistério sobre as causas da falência deste projecto, tão promissor para os nortenhos, que até hoje não consegui desvendar.
Chegados a este ponto, não estou preparado para me convencer a aceitar como bom o argumento simplista de que o negócio televisão é inviável por questões relacionadas com as dimensões de mercado "nacional". Creio antes, que o que faz falta é perceber do que é que cada mercado específico precisa concretamente.
E a Norte, há ainda um potencial de mercado por explorar, para benefício directo, não apenas dos investidores, como das populações. É preciso descobrir qual, e ter a ousadia para enfrentar previsíveis contrariedades e até boicotes. Mas, não é seguramente aquilo que a RNTV e Porto Canal nos estão a oferecer. É muito pouco.

6 comentários:

  1. É realmente um ponto muito interessante a situação da TV no Norte,e que é ainda mais lamentável se pensarmos que a sua crítica pode ser estendida a outros tipos de media, especialmente à imprensa escrita.Não temos um diário,generalista ou desportivo,genuinamente portuense.Causa-me especial confusão a inexistência dum semanário de médio porte,quando por esse país fora qualquer cidadezeca tem o seu.Culpa das elites sim,mas não só.
    No caso da TV acho que o Porto Canal está a fazer um esforço meritório,mas imagino que com grandes dificuldades financeiras,e não vejo um único grupo empresarial nortenho que o ajude atravez da concessão de publicidade.Eu sei que será um caso de "it's the economics,stupid"mas será que o equilíbrio financeiro de tais empresas ficaria comprometido se atribuissem uma pequena parte do seu orçamento de comunicação a um projecto de menor rentabilidade?

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  2. Caro Rui Farinas,

    Naturalmente que a crítica se estende a todos os media, mas a televisão pelo seu "peso" mobilizador e influência na opinião pública é a mais significativa. Basta lembrar que infelizmente em Portugal ainda há muita gente que não lê jornais e a lerem será mais A Bola ou o Jogo.
    A Porto Canal não estará mal (agora não tenho), mas talvez por falta de recursos financeiros ainda não preenche as necessidades locais. A RNTV então, é uma perfeita sensaboria, tanto em criatividade como em tecnologia.

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  3. Meus caros quando RTN começou a crescer e a ser um espaço muito visto e às vezes incomodativo, trataram logo de lhe alterar o nome e o estatuto, não fosse vir a dar problemas ao país Lisboa.
    Porque é que o Belmiro investe milhões no Público que é um sorvedouro de dinheiro e não investe um centimo no Porto Canal?
    Mais uma morte na grande Lisboa - agora um jovem de apenas 13 anos -, mas não se passa nada.
    Um abraço

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  4. Entao mas a RTP N não é a mesma coisa que a NTV ?

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  5. na minha opiniao os canais regionais não tem futuro em Portugal. Não é só no norte. o CNL em lisboa foi logo "comido" pela sic.

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  6. A NTV (Norte Televisão)surgiu da intenção de aproveitar os estúdios da RTP do Monte da Virgem para dar ao Norte mais autonomia informativa. Foram lá investidos cerca de 20 milhões de euros e, embora a sua promissora qualidade (ainda que incipiente), foi abrupta e surpreendentemente dada como inviável e absorvida pela RTP de onde surgiu a actual RTPN ( o N é de Notícias e não de Norte como alguns pensam). Daqui retirem-se as conclusões que se quiserem...

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