03 dezembro, 2008

Os "optimistas" e a realidade

Não raro, deparamos com determinado tipo de frases do estilo "abre-latas", que devem deixar muitos portugueses ainda mais deprimidos do que com as mazelas das crises económicas e financeiras. Tornou-se já uma moda, uma longa moda.
Os autores dessas máximas, portadoras de esperança e de muito optimismo, raramente pertencem àquelas pessoas que mais delas precisam, ou seja, a classe média. Ou, partem de gente bem instalada na vida e respectivos amiguinhos, ou da malta da política. Depois - com jeitinho -, aproveitam a embalagem do discurso para colarem às suas mensagens de "bondade" a ideia de que, também eles, passaram por grandes dificuldades e que, graças ao seu optimismo, à sua perseverança, a muito e árduo trabalho, lá conseguiram vencer os obstáculos até alcançarem o estatuto de homens de sucesso. Todavia, por norma, «esquecem-se» de revelar o que mais interessa, que é, explicar, com seriedade, como lá chegaram (o segredo é alma do "negócio", não é assim?)
Temos um desses casos de sucesso, recentíssimo - que me escuso agora a repetir para não enjoar os leitores, e por ser demasiado óbvio -, que apesar dos primeiros flashs de suspeitas da comunicação social, também já está a ser branqueado por ela. Nestas negociatas, onde entram bancos e governantes ou ex-governantes, o mundo de interesses é tão vasto, que o melhor é usar de prudência e acautelar o futuro... De uma coisa temos já a certeza, tudo isso não vai passar de fumaça. Comme d'habitude.
Os media fartam-se de realizar debates e de entrevistar pessoas, mas ocupam-se primordialmente, com a que mais têm a ganhar com a omissão da realidade, ou mesmo com a mentira, do que com aquelas que, sem cunhas nem compadrios, se fizeram ao caminho para contornar dificuldades e que perceberam, pela sua própria experiência, que o percurso optimista do "caminero" está repleto de escolhos (ignorancia e burocracia), não bastando por isso caminhar.
Aqui há umas dezenas de anos, o Governo lançou alguns programas de apoio ao mercado de trabalho autónomo, criando as RIME's (Regime de Incentivos às Pequenas e Médias Empresas) e as ILE's (Iniciativas Locais de Emprego), às quais decidi, juntamente com outra pessoa, candidatar-me. Depois de termos elaborado o respectivo (e exigido) projecto, começaram a surgir as dificuldades da praxe. A primeira, foi ter de o submeter (e pagar) à apreciação de um economista para o apreciar e atribuir (ou não) viabilidade económica, o que constituía, desde logo, uma contradição à própria iniciativa.
O estudo económico teria também de ser pago à cabeça, do bolso do próprio candidato, o que equivaleria a um primeiro custo sem retorno para o mesmo. Ora, um estudo económico não passa disso mesmo, de um estudo, que pode ser bem elaborado ou não, que pode não prever outros itens fundamentais para a viabilidade do negócio, como por exemplo, o próprio economista não saber levar em conta aspectos como: oportunidade, originalidade, visão futura do mercado, dinâmica comercial, etc. Nem todos os economistas são bons homens de negócios. Enfim, este foi o primeiro entrave, porque o estudo era caro e naquele momento, o dinheiro era o que mais faltava.
Seguiram-se, em catadupa, todos os entraves. O financiamento do projecto. Percorremos tudo o quanto era Banco, apresentamos a ideia, questionamos os técnicos bancários sobre quantos projectos é que até ao momento haviam sido financiados e as respostas eram sempre sempre vagas e imprecisas. Concluímos, rapidamente, que a informação sobre tais "incentivos" era escassa, que os deferimentos de outros projectos eram praticamente inexistentes e que não havia uma coordenação efectiva entre o Governo e a Banca.
O cúmulo da incongruência, aconteceu quando nos dirigimos ao enésimo banco, na expectativa de recolher dados mais precisos, caso tivéssemos a sorte de deparar com um banco melhor informado sobre o assunto. Enquanto esperávamos para sermos atendidos pelo gerente, reparei nuns folhetos que estavam num expositor que faziam publicidade aos referidos projectos governamentais. Qual não foi o nosso espanto, quando constatamos que o Gerente do Banco não sabia do que estávamos a falar. Eu ainda disse: desculpe, mas o senhor tem lá fora folhetos no expositor a publicitar o assunto. O homem quase corou; meio atrapalhado, foi então ao expositor e começou a ler à nossa frente aquilo que desconhecia!
Conclusão: tivemos, com imensas dificuldades, de nos fazer à "estrada", sim, mas sem qualquer tipo de apoio, porque aqueles incentivos eram um autentico bluff. Naturalmente que, haverá (tem de haver), alguém por aí, a quem foram concedidos tais apoios, quanto mais não seja para servir de álibi à fraude, mas a minha experiência foi exactamente a que aqui relatei. E, é a que conta.

2 comentários:

  1. Pof falar em Optimistas estou agora muito esperançado no ano de 2009 pois, ao contrário do que todos dizem, desde o PR ao Ministro das Finanças, o pinóquio socras acabou de proferir um discurso animador prometendo um novo ano em cheio!!!!!!!!!
    Haja pachorra...

    ResponderEliminar
  2. Pergunta indiscreta:

    Que espécie de Democracia é esta que "obriga" um povo a suportar tantos anos estes inaptos a comandar no País? A "nossa" Democracia é igual oportunismo. Mais nada!

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...