28 abril, 2009

... um pobre com uma camisa lavada

Há pessoas das quais se diz que "não podem ver um pobre com uma camisa lavada". Significa que elas são simultaneamente invejosas e convencidas, pois se convenceram de que só elas merecem ter acesso a bens e regalias que consideram deslocados e desperdiçados se possuídos por terceiros, mesmo que tenham sido legitimamente conseguidos.

Num plano colectivo, Lisboa é uma cidade a quem essa afirmação se pode aplicar. A Lisboa não basta ser a mais populosa cidade portuguesa e ser a capital, uma capital que ainda por cima até é doentiamente centralizadora, funcionando como um aspirador em relação aos bens produzidos em todo país. Lisboa não admite que nenhuma outra cidade tenha algo que ela não tem.

É assim que Lisboa tem inveja do Porto. O Porto tinha um Salão Automóvel de sucesso? Pois não descansaram enquanto o não levaram para Lisboa. O Porto tinha (e tem) um bom festival de cinema? Pois criaram um. O Porto lançou um importante festival de moda a que deu a designação nacional de Portugal Fashion, que óbviamente engloba Lisboa? Pois surgiu o festival lisboeta ao qual deram o nome de Moda Lisboa, para vincar que não querem misturas com os "parolos" do Porto. O FCPorto tem um domínio hegemónico do futebol português e ridiculariza os clubes da capital? Incapazes de serem melhores dentro das quatro linhas e não aceitando que outros os suplantem, inventaram o Apito Dourado acompanhado por um cortejo infindável de torpezas. Já que estavam com a mão na massa, e porque o Boavista é da mesma cidade e até já foi campeão nacional, aproveitaram para o assassinar.

A lista até talvez tenha mais exemplos, mas surgiu agora o último que é de um ridículo que certamente não só fará corar de vergonha os lisboetas honestos (que os há) mas também todos os portugueses. Que o Porto tenha um vinho que tem o seu nome, que é conhecido universalmente e é um dos grandes vinhos mundiais, era com certeza um insuportável espinho cravado no imenso ego da capital, que julga ter resolvido agora o problema ao conseguir que os vinhos da Extremadura passem a ser oficialmente designados por vinhos de Lisboa!

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3 comentários:

  1. Caro Rui Farinas,

    ainda há entre nós quem tenha a "coragem" de ser contra as teorias da conspiração...Há lata para tudo!

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  2. vinho lisboa? É claro que azeda!

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  3. Fosso de riqueza

    A distribuição geográfica das receitas do IRS é o melhor retrato das desigualdades regionais de Portugal, um País onde a riqueza mora numa pequena faixa litoral, de Setúbal a Braga, com um enclave no litoral algarvio. Ora, mesmo neste País rico, sobressai Lisboa, capital que concentra o poder político e económico. O mapa de receitas fiscais é a aplicação da expressão tão velha e tantas vezes repetida de que o País é Lisboa e o resto é paisagem.




    O Interior, pobre, paga poucos impostos porque a produção de riqueza é escassa. De Bragança a Beja, a fonte de rendimento mais importante, na maioria das localidades, é as pensões de reforma. Os trabalhadores do sector privado são poucos e a bitola do rendimento não anda muito longe do salário mínimo nacional.

    Os funcionários públicos acabam por, no Interior, ser os únicos trabalhadores com o mesmo nível de rendimento do que o dos seus congéneres das grandes cidades do Litoral. Porém, o fecho das escolas, dos serviços de saúde e de muitos outros serviços públicos provocou uma razia de trabalhadores do Estado das pequenas localidades. A coesão que Portugal pede na Europa não é praticada cá.

    O Alentejo, Beira, Trás-os-Montes e Alto Minho são, cada vez mais, uma imensa paisagem. E, na realidade, Portugal fica cada vez mais pequeno e mais injusto.



    Armando Esteves Pereira, Director-adjunto

    Do CM

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