28 abril, 2009

Nostalgias erradas ou diagnósticos incompletos?

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"Transportámos até ao presente um
guilty pleasure, uma dificuldade em viver em democracia e compreender os seus limites. Nesse desconcerto sobrevive também um desejo camuflado de voltar ao tempo dos ditadores, onde se pode gozar a pouco recomendável liberdade de entregar a nossa responsabilidade a outros. Essa passividade está por trás da forma como desprezamos o sistema partidário e da forma como o sistema partidário evoluiu, afastando-se dos cidadãos e transformando-se num universo opaco, oligárquico."
Este pequeno trecho da crónica plasmada, resume uma reflexão respeitável sobre a realidade contemporânea do país, só pecando por alguma surperficialidade quanto à explanação das causas. Como na medicina homeopática, quando se pretende chegar à cura da doença, buscam-se as causas que a originaram, recomendavelmente, antes que ela se instale de vez no corpo (ou na mente) do portador, caso contrário, só resta o recurso aos fármacos tradicionais com os incontornáveis efeitos secundários que estas sempre comportam.
O silogismo aqui não é irónico, procura apenas estabelecer uma similitude entre diferentes situações realçando o que de comum há entre ambas, incluindo as respectivas consequências. Nesta perspectiva, o desejo camuflado de voltar ao tempo dos ditadores de que fala o autor do artigo, devia ser bem explicitado, de modo a sabermos o que é que, e quem, o provoca.
Numa democracia representativa, é abusivo deixar pairar no ar a ideia de que, quando os governantes falham, falha implicitamente o eleitor que o mandatou, porque a responsabilidade dos eleitos é diferente e infinitamente maior. Se, à posteriori, estes se revelam incapazes e desonestos, como pode o eleitor evitá-lo? E, quando o desempenho governativo não evolui, se pauta por crescentes e douradoras crises de mediocridade, com consequências gravíssimas na qualidade de vida das populações, como é possível evitar a tentação de um regresso ao passado nas suas mentes?
A vontade de um povo, não se controla com dissertações e terminologias de cariz político, como ditaduras ou democracias. É urgente "descobrir" algo mais do que a Liberdade de expressão a diferenciá-las. Tem de haver entre ambas, substância de conteúdo efectiva, traduzível, por exemplo, nestas duas frases: credibilidade nas Instituições do Estado, e qualidade de vida das populações.
Aceita-se, no entanto, o argumento do cronista sobre o desprezo popular pelo sistema partidário como justificação para a sua passividade, mas não me parece sustentável relacioná-lo de forma qualificativa com o discurso do Presidente da República, porque o eleitorado é também composto de memória colectiva e não é obrigado a compartimentar a figura de Cavaco Silva entre o que ele foi (e fez) no passado com o que é no presente. Os cargos são diferentes, mas a pessoa é a mesma.
Mais do que o protocolo, mais do que enfatizar, tout court, o discurso do Presidente da República, o eleitor deverá atentar às suas acções do passado enquanto 1º Ministro, e investigar até que ponto também ele deu o seu contributo para a situação que hoje o país está a viver. Por que razão os discursos dos Presidentes da República não devem ser escrutinados também pelo o seu histórico? Por carneirice? Se assim for , então, já não estamos a falar de Democracia, mas sim de pastoreio.

2 comentários:

  1. Caro Rui, em Lisboa apareceram dois movimentos de cidadãos - um a líder é a Laurinda Alves e o outro é um moço que não sei o nome, mas ouvi-o há tempos atrás numa entrevista à Antena 1 -, que se vão candidatar às eleições. Podem não conseguir nada , mas já se mexeram. Aqui não aparece ninguém e quem tem possibilidades e visibilidade, para encabeçar um projecto idêntico, que podia ser o início de qualquer coisa, não se quer chatear...Assim, continuamos a marcar passo e se o Rio voltar a ganhar a Câmara, vamos andar mais uns anos para trás.

    Você fala no 24 horas e eu compreendo-o, mas o Público que só dá prejuízo, também deixa a desejar, como se viu na miserável crónica do jogo Porto/Setúbal. Tenho pena que o Belmiro - deve ser chique, agora que anda de conferência em conferência, lá por Lisboa, ser dono do Público - nunca tenha mostrado disponibilidade para apoiar um verdadeiro projecto nortenho, seja na Rádio, nos jornais ou na televisão.

    Um abraço

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  2. «Tenho pena que o Belmiro - deve ser chique, agora que anda de conferência em conferência, lá por Lisboa, ser dono do Público - nunca tenha mostrado disponibilidade para apoiar um verdadeiro projecto nortenho, seja na Rádio, nos jornais ou na televisão.»

    Caro Vila Pouca, sobre este assunto já escrevi e assino por baixo.

    Agora, quanto a preferências de jornais,considero o Público (é um jornal do Norte dirigido por Lisboa) um jornal melhor estruturado e com mais qualidade que o JN, apesar das lacunas que aponta e do sempre-eterno vírus centralista.

    Já sabe, de resto, que 90% dos articulistas de futebol cantam ao som e ao serviço do "glorioso", incluindo do JN e até de O JOGO, mas um jornal não é só isso.

    A Laurinda Alves está em Lisboa, perto do Poder, é mais simples arregimentar movimentos, mas também não irá longe, vai ver.

    Um abraço

    (PS-Recebi o email que me enviou. Obrigado)

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