29 maio, 2009

Porque tenho memória

Depois da polémica entrevista de M.Moura Guedes ao bastonário da O. d. A., consumiram-se rios de artigos de opinião nos jornais, e centenas de posts na blogosfera, uns, a criticar a jornalista, outros, a malhar no advogado, como se o assunto fosse uma espécie de Porto-Benfica.
Os advogados, elitistas e duvidosamente liberais, tudo têm feito para correr com o bastonário, os outros [que não devem ser poucos porque Marinho Pinto teve a maioria dos votos], remetem-se a um prudente silêncio, a ver para que lado cai a balança, não vá o diabo tecê-las e comprometerem o futuro das suas carreiras com opiniões "extemporâneas". Decidiram-se pelo comodíssimo ditado popular que manda que "o calado é o melhor". Afinal, haverá numa sociedade de consumo praticamente desregrada como é a nossa, alguém que não almeje a enriquecer depressa? Por que terão os jovens advogados de pensar diferente?
No outro lado da barricada encontram-se os jornalistas que, a pretexto da liberdade de informação, fazem dela uma bandeira atrás da qual se convenceram que tudo lhes é permitido. Falam de ética, estão sempre a falar dela quando se trata de figuras públicas, mas mandam-na às urtigas quando a coisa é com eles. Manuela Moura Guedes, podia e devia ser acutilante com M. Pinto, mas esqueceu-se da ética. O advogado, é preciso reconhecê-lo, aguentou o mais que pôde as investidas que os espectadores em casa [e esses é que deviam contar] perceberam que lhe estavam a ser impiedosamente dirigidas, e ansiavam afinal que o advogado fizesse o que fez [e muito bem], que foi responder-lhe, como se costuma dizer, à letra.
O respeito e a ética, para funcionarem, tem de ter sempre dois sentidos, o de ida e o de volta. Os senhores jornalistas consideram-se no direito de escolherem o caminho que mais lhes convém e isso, é tudo menos democrático. Daí, não surpreender que quase todos os jornalistas tenham enveredado pelo tradicional corporativismo de classe, defendendo o indefensável, dando mais um claro sinal de que se lhes for dada rédea solta são capazes do melhor, mas também do pior. Há uma ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação], mas como outros organismos, não regula coisa nenhuma, acabando por não ser mais do que um mecanismo de censura mandatado pelo governo. Existe para regular a comunicação, não para a censurar. Regular pressupõe uma intervenção rigorosa pela prática do bom jornalismo, onde a investigação e a coragem são a palavra de ordem mas não a provocação.
Há na blogosfera blogues ditos de referência que devem considerar muito "democrático" publicar todo o tipo de comentários, com provocações e insultos para todos os gostos, e deixam-nos passar. É claro que assim, tornam-se campeões das visitas, mas a que preço? Lembram-se da Bússola? Começou bem e hoje praticamente só lá está o Jorge Fiel para não fechar a "Loja"! Eu não entendo essa opção como democrática, mas antes uma janela que se abre para a bandalheira, a crítica torpe e a má educação. Aqui, não permito isso, corto! E não sinto minimamente beliscado o meu sentido de democracia. Por que será então que os jornalistas, com muitas mais responsabilidades e proveitos, teatralizam a informação? Acrescentar um ponto a um conto, não é informar, é manipular a informação. Há que repetir isto à exaustão. O jornalismo não é o menino bonito da sociedade. Porta-se como tal, é mimado, mas muito mal comportado.
Enquanto portuense e portista, senti na pele como em nenhuma outra situação, a forma sectária, corporativista, vergonhosa, anti-democrática, como o meu clube, na pessoa do seu timoneiro, foi perseguido pela comunicação social. Não o esquecerei nunca!
Não me venham por isso santificar o trabalho dos jornalistas, porque está longe, mesmo muito longe de nos servir de paradigma de boas maneiras.

1 comentário:

  1. Muito bem!
    Permita-me que assine por baixo meu caro Rui Valente.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...