23 outubro, 2009

O Plano

Quando Cavaco Silva era primeiro-ministro, enunciou o princípio que desde então tem sido posto em execução e que, progressivamente como uma doença incurável, tem minado a saúde social e económica do país, ameaçando remetê-lo a um estado terminal. O princípio dizia que Portugal tem uma pequena população e recursos financeiros muito limitados, pelo que seria ilusório ter a pretensão de possuir vários centros de desenvolvimento. Assim sendo, o modelo económico consistiria em concentrar os recursos materiais e humanos unicamente na zona da capital, deixando definhar o resto do país, e fazendo apenas atenção (digo eu) a que não se repetisse a história do escocês sovina cujo cavalo, o qual não alimentava, "morresse quando já estava a habituar-se a não comer". Acrescia ainda, para os mentores desta filosofia do desenvolvimento apenas em Lisboa, que assim se criaria um centro (cultural, financeiro, industrial e político) que serviria de contra-ponto a Madrid e a Barcelona, opondo-se deste modo a uma subjugação económica e política por parte de Espanha. Este último desiderato, vê-se claramente que não resultou. O domínio espanhol é imparável em todos os campos. O último exemplo é a proposta de campeonato do mundo de futebol em 2018, que mais não é do que um campeonato realizado em Espanha com uma limitada extensão territorial a Portugal. Haverá um único centro de decisão. Advinham onde será?

Mas se este aspecto da teoria centralista não funcionou, o outro, o da "secagem" do país, corre às mil maravilhas. Olhando com atenção para trás verifica-se que há um plano minuciosamente elaborado e rigorosamente cumprido no sentido de o fazer resultar. Certas perguntas que se fazem ("isto é assim porquê?") tem uma explicação lógica e coerente à luz da implementação do princípio centralista. Tomemos alguns exemplos.

Partidos regionais - foram proibidos pela Constituição de 75, alegadamente para evitar uma pulverização de partidos políticos que poderia ser prejudicial naquela fase da jovem democracia. Este perigo desapareceu, mas a proibição mantém-se.

Círculos eleitorais - permitem a existência dos deputados paraquedistas, uma maneira de distribuir benesses e manter os beneficiados "na mão". Por isso, aos círculos uninominais que tornariam este tipo de corrupção menos viável, foram apontados "defeitos" que na prática inviabilizaram a sua adopção.

Deputados "nacionais" - a Constituição determina que, ao entrar na Assembleia da República, os deputados perdem a sua matriz regional (distrital) e passam a ser "nacionais", desde logo ficando condicionados no grau de liberdade inerente às suas intervenções e decisões, evitando-se assim questões ligadas à defesa do interesse das suas regiões.

Criação de regiões administrativas - impensável na lógica centralista, por corresponder a um movimento centrífugo do poder. A Constituição de 75 tinha um grave "erro" que era necessário emendar. Com efeito as Regiões eram estabelecidas praticamente sem qualquer formalidade, apenas porque a Constituição determinava a sua existência. Por isso, em posterior revisão, foi introduzida a obrigação de serem referendadas, com a dupla salvaguarda de que:

a - o resultado dos referendo só são vinculativos se tiverem votado mais de 50% dos inscritos.

b - a implementação das Regiões tem de ser efectuada simultaneamente, o que na prática significa que se houver uma única Região que vote NÃO, inviabiliza os votos SIM das restantes Regiões. Por isso digo que, no actual contexto, a regionalização está em coma profundo com pequeníssima probabilidade de sobrevivência.

Estas são apenas algumas medidas adoptadas, mas não são as únicas, longe disso. Não é por acaso que a OPA da Sonae sobre a PT foi inviabilizada que esta mesma Sonae tenha sido arredada de ficar na indústria de celulose, que o Banco Português do Atlântico tenha sido levado "à má fila" do Porto para Lisboa ( para subsequente desaparição ) que o mesmo tenha acontecido com o INE, com a API, até com a mais que centenária AEP, com as delegações regionais das grandes empresas majestáticas, com a localização na região de Lisboa de tudo o que seja novo organismo, nacional ou internacional. Assim se concretiza o plano de engordar Lisboa à custa do esvaziamento do resto do país, sobretudo o seu interior.

E como reage o país a este saque organizado, especialmente como reage o populoso e ainda económicamente relevante Norte (graças sobretudo às PME's) e dentro deste, o seu hard core que é o Porto e a sua área envolvente? Pelo que se tem visto, reage com a passividade do gado a caminho do matadouro! A combatividade, o orgulho, até a rebeldia, perderam-se. Os sociólogos que expliquem porquê, mas mais importante do que explicar a razão do nosso abastardamento, seria a descobrir o remédio para que os nortenhos compreendessesm que, por omissão, estão a contribuir para a sua própria destruição, e que simultaneamente esse remédio lhes desse a clarividência para descobrir o caminho da redenção e a coragem para accionar as medidas necessárias, já que tudo leva a crer que as reformas não terão nunca origem no interior do próprio sistema. Dependemos de nós próprios. Isso será bom ou será mau?

12 comentários:

  1. Os piores não são esta corja de
    governantes !...mas sim aqueles
    que lhes engraxam os sapatos.

    Anda aí muita raia miúda que recebe
    uns cobres dos partidos; para dizer
    sim e não (comprados)que são a escória da democracia.

    Muito das vezes a culpa não é do agressor, mas sim das vítimas que
    não têm coragem de reagir, e morrem
    cobardemente.

    Aqui neste país não faltam vendedores, vendidos,acomodados,
    quietos e parados.
    São aqueles que costumam dizer: quem vier atrás que feche a porta.
    Os que estão bem acomodam-se, os
    que estão mal acobardam-se.

    Quase que apetece dizer Viva Portugal "a bem da nação".

    O PORTO È GRANDE VIVA O PORTO.

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  2. Apresentação do livro de Carlos de Brito, prefaciado por Leonor Beleza, hoje, 23 de Outubro, pelas 21.15h, no Café Majestic

    "Regionalização-Uma questão de coragem"

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  3. Caro Rui,

    O Porto e Norte vão «a caminho do matadouro» porque vivem alienados.
    http://norteamos.blogspot.com/2008/05/alienao-desportiva-no-norteia.html

    É a minha tese. É certo que o Rui Valente e o António Alves não a aceitam. Mas não tenho outra explicação.

    Abraços

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  4. Caro José Silva,

    devo deduzir que o facto de eu e o António Alves não aceitarmos a tese generalizada da alienação, nós também fazermos parte desse grupo e o José não?

    Vamos lá ver. Pelo que eu, o Rui Farinas e o A. Alves temos escrito e comentado, não é difícil perceber que concordamos parcialmente que existe efectivamente alguma alienação das bases. E creio não ser preciso fazer grandes dissertações sobre os factores culturais e económicos que estão por detrás dessa alienação.

    Mas que diabo, José, tanto você como todos nós vamos fazendo o possível para lutar contra isso dentro das nossas "frágeis" armas.

    Não é o que nós precisámos, mas diga-me, o que é que cada um de nós estará disposto a fazer para além do que fazemos? Criar um Partido? Com que forças? As do PCP ou do Bloco?

    Vá lá, responda-me p.f. a estas questões.

    Abraço

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  5. Rui Valente,

    «devo deduzir que o facto de eu e o António Alves não aceitarmos a tese generalizada da alienação, nós também fazermos parte desse grupo e o José não?»

    Obviamente que não. Os alienados são os que apesar de prejudicados se sentem satisfeitos com as vitórias do FCP e ficam calados. Não é o caso do Rui, do António ou de Rui Moreira que continuam e bem a protestar. Os alienados são os que lhes basta a vitória do FCP.

    Eu não afirmei que o nosso trabalho blogosférico fosse em vão ou inutil, apesar de pessoalmente começar a concordar com a tese do António: Já chega de conversa.

    O que eu escrevi foi apontar uma explicação ao Rui Farinas para a sensação de gado submisso a caminho matadouro: O Norte vive alienado e não tem consciência da sua realidade. Esta é uma abordagem totalmente marxista (proletariado alienado), mas francamente não tenho outra.

    PS: Acho a máxima alienação do povo do Norte é o futebol. Mas reconheço que não é a única.

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  6. José Silva,

    e o povo do Sul, não é alienado pelo futebol? Os tais 6 milhões de benfiquistas [veja bem, são quase a população inteira do país]. Qual é a diferença?

    A apolitização, ou o alheamento de práticas de cidadania se preferir, são um problema geral dos portugueses.

    O futebol, para nós, nortenhos, ajuda um pouco a ver melhor as diferenças de tratamento. Além disso, o povo, o que é que pode fazer? Isto só lá vai À FORÇA, e essa esta controlado por quem sabemos.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. A alienação pelo futebol existe, mas sempre existiu, não é fenómeno novo. Poderá constituir uma das causas do alheamento dos nortenhos quanto ao seu próprio destino, mas tem de haver outras. Penso aquilo que escrevi no post: os sociólogos deviam debruçar-se sobre este problema. Se não se conhecem as causas reais de uma doença, não há terapeuticas efectivas. E entretanto, vamo-nos afundando...

    p.s. No sul também há alienação futebolística, mas os sulistas têm quem olhe por eles, alienados ou não alienados. Nós não, somos orfãos...

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  9. Rui,

    O problema é que os do sul não tem razão para se preocupar. o seu futuro não está a ser roubado. Com a alienação deles posso eu bem.

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  10. Caro Rui Farinas,

    Você reconhece que a alienação futebulística, de caracter nacional, é bem mais destruidora no Norte. É a minha tese.

    Outras explicações para esta alienação, feita por sociólogos ? Ora ai está um excelente desafio ao sociólogo António Alves.

    Abraços.

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  11. José Silva,

    eu não sei em que bases sustenta essa sua tese. Você não vê televisão? Não vê a propaganda que os próprios media fazem ao Benfica? Não repara nem ouve com que frequência e à vontade falam de futebol que é no vocabulário deles o mesmo que Benfica?
    Serão estas evidências que o fazem tirar tal conclusão?

    É claro que, nós no Norte temos mais razões para não nos deixarmos "alienar", mas se por acaso já leu o meu post de ontem, encontra lá outro tipo de alienações quiça mais perigosas do que o futebol. Os shows em que os media transformaram os "debates" políticos são puro branqueamento para as suas patranhas. Eles não se incomodam com o que o povo pensa a seu respeito enquanto pensarem, como pensam "os câes ladram, mas a caravana passa". O Mário Soares foi o melhor professor que tiveram. Não fez nada de verdadeiramemnte relevante pelo país, forjou um partido com ideais postiços, enganou os eleitores e ainda hoje há que veja nele "um animal político". E não o dizem no sentido prejorativo, dizem-no como um grande elogio!
    Há maior alienação do que esta?

    Esqueça o futebol. Você faz-me lembrar o Pacheco Pereira que deve ter um trauma com o futebol.

    Esqueça isso, e procure cativar os eleitores amantes de futebol para assuntos mais sérios, porque [com todo o respeito] não é com "fel que se apanham moscas".

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  12. Rui,

    Eu e o Rui Farinas já explicamos: A alienação é um fenómeno nacional mas é muito mais grave quando os alienados são ao mesmo tempo roubados. É o que acontece com os do Norte: aliendados e roubados pelos os alienados do sul.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...