31 janeiro, 2010

31 de Janeiro de 1891. Terá valido a pena?

Faz tempo, muito tempo mesmo, que interiorizei convictamente que o defeito dos maus governos tem mais a ver com a qualidade da massa humana de que são compostos, do que propriamente com as ideologias.
Por esta altura, torna-se tão fastidioso rebater a tecla dos perigos da Ditadura como a lengalenga de lembrar que a Democracia é o pior dos regimes à excepção de todos os outros. Apesar de tudo, a Ditadura é mais conclusiva, ou seja, sabemos que o Poder é exercido à "força" por um só homem e seus fiéis servidores, e que o Povo não tem voto na matéria. Ponto.
A Democracia é aparentemente mais respeitadora dos direitos e liberdades dos cidadãos, mas é ao mesmo tempo mais ambígua e enganadora. A forma como os cidadãos votam e elegem quem os irá representar está longe de ser fiável dado o desconhecimento absoluto que têm dos mesmos. Por sua vez os partidos políticos não veículam, como seria de esperar, a voz do Povo mas sim os interesses dos respectivos aparelhos.
Dito isto, estou-me nas tintas para a República e para a Monarquia. Lutar por um ou outro regime, é igual [ou quase], se a massa humana dos respectivos governos fôr imprestável. Que me importa a mim ter um Rei ou um Presidente como representante máximo da hierarquia do país se ele se mantiver ingovernável como o nosso? Haveria algum português do povo/povo que se incomodasse muito de viver numa monarquia como, por exemplo, a Suécia, a Noruega, a Dinamarca ou mesmo a Holanda, se tivesse o mesmo nível de vida dos povos destes países? Estou convencido que não. O mal, está na qualidade de quem Governa. Quem governa mal, terá «mau» povo, quem sabe o que está a fazer e sabe dar bons exemplos acabará por gerar um grande povo, um povo cumpridor e civilizado. O nosso problema está única e exclusivamente nos nossos governantes. Quem contestar tal realidade, estará por qualquer razão que só ele saberá, apenas a branquear e a contribuir para a manutenção do status quo da mediocridade regimental .
Vem isto a propósito das comemorações da implantação da República que hoje, 31 de Janeiro de 2010 cumpriria 119 anos caso a primeira tentativa de 1891 não tivesse fracassado. Há quem defenda que não passou de uma revolta de amadores. Há quem afirme que foi uma revolução. Não sei bem distinguir a fronteira entre uma coisa e a outra, apenas respeito quem defendeu a causa republicana com profunda convicção e pelo facto da monarquia revelar manifestos sinais de fragilidade. Por esse tempo o povo sentia a pátria e ainda acreditava que podíamos fazer frente aos ingleses. Por isso se indignou com o ultimatum que foi feito a Portugal e com a subserviência revelada pelo governo monárquico. Há quem defenda que o primeiro golpe republicano falhou porque as tropas municipais de cujo apoio os revoltosos contavam, foram aliciadas, pouco tempo antes com um aumento do pré. Não sei bem de que lado estava a razão, o que sei, é que nenhum povo se revolta quando está bem. Mas sei também, que não é por se mudar o nome às coisas que um país renasce das cinzas e se levanta.
Se a Monarquia falhou, falhou também a República, como agora está a falhar a Democracia, o que reforça a minha tese de que, não são os regimes os maiores responsáveis pelos fracassos governativos, mas sim a qualidade da gente que os desempenha. É urgente, fundamental, imperioso que o Povo exija dos seus governantes a excelência. Então sim, podemos talvez sonhar com um excelente país.
Nota:
Ora digam lá se este pedaço de texto extraído de uma crónica de Germano Silva no JN, da autoria de Dionísio Santos Silva não encaixa como uma luva na realidade actual do Porto: "não basta para o movimento ter sucesso, que os militares saiam à rua com as armas na mão, é preciso que sintam o apoio do Povo e, para isso, é mister mentalizar as massas, formá-las no ideal republicano*, o que só será conseguido através das colunas de um jornal, que tome a dianteira aos demais já existentes. Assim nasceu o jornal A República Portuguesa...
*onde se lê republicano devia ler-se agora regional/democrático

2 comentários:

  1. «...que o Povo exija dos seus governantes a excelência»
    Ó Rui, já nem digo tanto...

    Um abraço

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  2. Concordo consigo que a qualidade dos agentes é extremamente importante, mas essa qualidade advém também daquilo que será o ideário desses agentes...Não estou a ver um "bom, perfeito e genuíno fascista" pretender e conseguir ser um excelso democrata...
    -Mas o que me interessa referir, é que todos estes sistemas têm realmente falhado nos seus objectivos programáticos, e têm falhado porque zelam, a partir de determinados momentos, mais pelos interesses particulares, que pela prossecução e consumação dos interesses gerais...E estes é que verdadeiramente são importantes, se o interesse particular se integrar e satisfizer naquilo que é o interesse geral, não haverá nunca nesses interesses, qualquer contradição.
    O contrário é no entanto mais possível de ser conseguido e harmonioso, o interesse geral satisfará sempre o interesse particular, desde que este, se não queira sobrepor àquele...Que não é, o que normalmente, acaba por ser perseguido...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...