28 abril, 2010

Populismo de classe

Já repararam que a palavra "populismo", ou populista, é a arma de arremesso  mais usada por políticos e alguns empresários para se atacarem uns aos outros? No entanto, se forem ver ao dicionário, populista, significa amigo do Povo. Então, se empresários e políticos andam, há séculos, a tentar convencer o  Povo que são muito seus amigos, por que é que argumentam com este adjectivo? Só pode haver uma resposta: na realidade, não gostam do Povo. Quando estão a acusar o outro de ser populista, não estão mais que a dizer: ó pá, tu sabes que eu sei que estás a mentir. E na primeira oportunidade, fazem o mesmo. Mentem . Mentem ao Povo de que dizem gostar, sem gostar de populismos... É giro.

Isto, vem a propósito de um fórum na SIC sobre a eventual alteração ao subsídio de desemprego que tinha como convidado o economista Pedro Duque, aquele senhor que costuma participar no programa da SIC Notícias com o polémico Medina Carreira. Tenho uma ideia bastante positiva do Dr. Pedro Duque. Parece-me uma pessoa competente e bastante ponderada. Mas, isto, vale o que vale, porque hoje em dia as questões de carácter foram completamente secundarizadas pela ditadura dos números. E a Economia não passa de um jogo de números. Acho, no entanto exagerado que os senhores economistas tomem a Economia como uma espécie de poção mágica para os males da Humanidade. Há mais vida, para além da Economia.

A dado passo do fórum, Pedro Duque começou a falar sobre a crise económico-financeira,  sobre o desemprego e sobre uma questão muito em moda agora, que são as baixas qualificações da mão de obra portuguesa, para justificar os baixos salários. Deu como exemplo, a empregada de caixa de supermercado, que sendo uma actividade fácil de desempenhar por qualquer pessoa [foi assim mesmo que se exprimiu], não podia almejar ganhar mais do que o salário mínimo. Ouvi isto, e disse cá para mim: também tu, Duque? Será que ainda não percebeste que não há sangue azul? Azul e branco é a Lua, o  Mundo e o FCPorto. Perto do sangue, só as veias!

É claro que, pôs-se a jeito, e teve de ouvir umas respostas desagradáveis da parte de pessoas que não gostaram do paradigma. Porque, pela sua ordem de ideias, as pessoas menos qualificadas estariam condenadas a viver para sempre na miséria. As pessoas menos qualificadas terão sempre de existir, quanto mais não seja para servir as mais qualificadas, mas esse serviço para ser socialmente sustentável tem de compensar quem serve, caso contrário regressámos à idade Média. E não quero pensar que seja esse o ideal-social do Dr. Pedro Duque.

Mais grave, é percebermos que certas pessoas tidas como especialistas em determinadas matérias quando convidadas para as explicar se fiquem pelo meio caminho, nunca vão até ao fim. Ficam-se pelo tal populismo de classe ou pelo corporativamente correcto. Nestes casos, caberia aos apresentadores "puxar" pelos convidados, fazê-los falar, coisa que raramente fazem. Confrontá-los, por exemplo, com os milhares de jovens licenciados no desemprego que têm de recorrer a actividades básicas para arranjar trabalho, se o arranjarem. Essas pessoas são qualificadas, estudaram para isso, e no entanto, não têm mercado, ou no caso de arranjarem trabalho têm de se contentar com os tais ordenados minimalistas. Se o problema está nas licenciaturas, ou no tipo de formação, anuncie-se de uma vez o que se pretende, de que tipo de formação carece mais o mercado. A velha história da cana e do pescador é muito engraçada, mas não funciona se o mandarem pescar no Saara.  O discurso da formação técnica virou moda, mas não pega, porque o mercado é pobre de mais para a absorver. Além disso, as agências de emprego nem sempre são transparentes. Começa mesmo a constar-se que algumas delas direccionam de forma  altamente suspeita as verbas que lhes são concedidas para o efeito. Há pequenas máfias instaladas nessas agências.

É chegada a hora de arejar as mentes das Associações Patronais [CIP's] de as obrigar a fazer jogo limpo, de deixarem de sonhar com o regresso ao passado, com o Salazar. Acabou. Está cada vez mais difícil meter a cabeça na areia, as populações aceitam bem  os deveres se os direitos forem respeitados. Não adianta puxar a carroça para trás. O futuro tem de falar verdade.  

11 comentários:

  1. LABAREDAS




    Serviço público?

    «À excepção dos lesionados de longa duração, a equipa do FC Porto encontra-se na máxima força para o jogo com o Benfica do próximo domingo, às 20h15». O Labaredas detectou esta «imprecisão» no site oficial da RTP e resolveu partilhá-la com os Portistas.

    O serviço público tem destas coisas… Por engano ou desleixo, esqueceram-se de que os Dragões não poderão actuar com o seu melhor marcador. Importante, pelos vistos, continua a ser entrevistar gente que pendura tarjas em monumentos. Falar de Falcao não interessa nada…

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  2. Rui, eles pensam mesmo assim, julgam que nasceram em ninho de ouro e que existe uma maioria para os servir...Não são burros, são mesmo assim, pensam assim, operam assim, vivem assim, por isso é que o Mundo está como está...De um lado os que têm algum, do outro os que não têm nada!
    E no meio estão os oportunistas, à espera da porta aberta para darem o salto!
    Mas até o Medina pensa assim, reforma choruda desde jovem e acha que os de agora -não ele- devem reformar-se só a partir dos noventa anos, reformam-se hoje e morrem amanhã de manhã...É mais barato e permite custearem-se reformas de Milhares como a dele e de muitos outros. Pergunto, o patrão da CIP já estará reformado?...E o da CCP?...Eu acho que até o Cavaco Silva já está reformado...Para os outros, 75% do Ordenado Mínimo, toma é excelente!...Mas só durante dois dias, que a Segurança Social está falida.

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  3. Meireles,

    as coisas estão difíceis. Hoje, o capitalismo para não ser esmagado pelas suas próprias contradições vai ter que inventar um novo inimigo de estimação.

    O comunismo, praticamente faliu.

    Em Portugal, pouco mais serve do que para dar emprego a alguns deputados e funcionários do Partido. Isto também se aplica a todos os outros partidos, de esquerda e direita. Portanto, a máscara do regime capitalista está a cair de pôdre em todo o Mundo.

    Seja por incompetência, ou não, o sistema capitalista é sempre uma burla, onde a arrogância se impõe ao humanismo.

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  4. O problema meu caro Rui é que estes tipos são os fazem opinião, os que passam as mensagens que interessam, seres superiores que só olham para o umbigo deles...É caso para dizer: só nos saem duques.

    Um abraço

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  5. Vila Pouca,

    gostava de acreditar que o regime capitalista é uma espécie de diamante em bruto que continua à espera de ser burilado de forma a criar e distribuir riqueza para todos de forma justa.

    Acontece, é que a maior fatia da riqueza desse diamante vai invariavelmente só para o bolso de uns poucos. É um paradigma que me recuso a aceitar.

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  6. Eu ouço todos esses debates, mas na verdade todos se exprimem conforme lhes dá jeito.
    Aqui vai o meu grito:
    Quando é que se faz um tribunal para condenar todos estes políticos corruptos e incompetetes que ao logo destes anos se têem governado e estão todos bem de saúde econômica, e puseram este país na banca rota.

    Poupar no quê!... só se for no TGV NA PONTE SOBRE O TEJO ou no megalomano AÈROPORTO DA MARGEM SUL.
    A maior parte dos políticos, deviam era de estarem presos.A justíça é um nojo neste país! só defende os poderosos.
    Desculpem meus amigos, de eu dar este grito de desabafo: se o 25 de A bril foi para isto; que se Fo.. o 25 de Abril.

    O PORTO È GRANDE VIVA O PORTO.

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  7. Portucalense29/04/10, 14:40

    TGV, para quê?!

    E outra ponte, porquê?!

    E claro que a solução mais racional no caso do aeroporto é a T1+1 ou seja Portela e por exemplo Beja que está as moscas depois de lá terem investido milhões,,,,,,

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  8. Meu caro Rui Valente, o seu post cobre tantos aspectos distintos que se torna dificil comentar, mas há dois pontos que gostaria de referir.
    Ao contrário do que crê com optimismo, a generalidade das pessoas preocupa-se muito com os seus direitos mas tem uma lamentável tendência para esquecer ou desleixar os seus deveres. O nosso dia-a-dia está permanentemente a fornecer provas desta afirmação.
    Em segundo lugar, e excluindo casos pontuais, não é possivel a população usufruir de boas condições económicas se não tiver adequada educação. É verdade que a instrução não é suficiente po si só, mas é necessária. Um povo "analfabeto" nunca poderá aspirar a mais do que ser um povo de serventuários, e a lamentável evidência é que as novas gerações correm esse risco, dada a falta de qualidade de que enferma o ensino público em Portugal. Podia contar-lhe casos reais passados com gente que tem o 9º ano, que o Rui nem acreditava! Há gente com licenciaturas a desempenhar funções modestas? Infelizmente é verdade, mas o aproveitamento que (não)se faz da juventude instruida é uma questão completamente diferente que tem a ver com muita coisa, incluindo como referiu, o caracter explorador e até negreiro de grande parte dos patrões portugueses. Um abraço.

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  9. Caro Rui Farinas,

    é verdade o que diz, mas eu continuo convencido que o exemplo tem de vir de cima, e de cima, como estamos fartos de verificar, só há maus exemplos. Por isso, não esperemos pela inversão desta lógica, porque não funciona. Eu já trabalhei por conta de outrem e por conta própria tenha essa pequena experiência para me poder colocar dos dois lados da "barricada". Não suporto ouvir pessoas pedirem sacrifícios a quem menos pode e serem incapazes de fazer os seus, que são incomparavelmente menores.

    Criem riqueza, digam de uma vez o que querem e acabem definitivamente com o choradinho do costume. Já me cansa ouvir irresponsáveis a indicar o que se deve ou não deve fazer. Esses fulanos da CIP ainda vivem com a imagem do Salazar na cabeça.

    Um abraço

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  10. Sim, aquela forma velha de ver o Comunismo está completamente caduca, mas este sistema em que vivemos é terrível, mais pelo que não permite sonhar especialmente aos jovens, do que por qualquer outra coisa...A Europa e os EUA descapitalizaram-se, o Capital tornou-se volátil, completamente volátil e incontrolável...E é electrónico...É o Liberalismo ao seu mais alto nível.
    Ausência de obrigações Sociais, ausência de contrato-social, a mais completa lei da selva...Um Paraíso!
    -Ouviram aquela dos Romenos que na Dinamarca, tinham que entregar todo o dia em passo de corrida, os jornais diários nas casas dos consumidores?...Subiam e desciam as escadas dos edifícios, depois pedalavam...Nem a Rosa Mota!...Ganhavam 1300 Euros de salário e pagavam 800 de aluguer de casa...

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  11. Em Portugal seriam mais generosos?
    -Talvez pagassem apenas uns 400 Euros, mas em troca, deixavam-nos cristãmente dormir nos vãos das escadas...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...