09 maio, 2011

Marinho Pinto, será assim tão populista?

Marinho Pinto tem vindo a ser acusado por parte do sector mais conservador da sociedade [incluindo o referente à sua área profissional], de excesso de protagonismo, e de fazer declarações polémicas e populistas. Dentro desses ataques, há que procurar conhecer bem quem os faz, e porque os faz.

Talvez por não ser muito sensível ao ruído produzido por certa ala ultra-conservadora da vida pública, que é por natureza pouco dada ao aprofundamento das verdades, o certo, é que depois de ler e ouvir Marinho Pinto, não consigo descobrir nada que me pareça falso, ou sequer exagerado. O que me surpreende e estranha em Marinho Pinto, é sim, criar conflitos com quem muitas vezes aparenta pensar como ele, como sucedeu recentemente com Manuel António Pina. Mas, esse é um mal que se estende a outros protagonistas, mesmo no seio dos próprios partidos e que [desiludam-se os que já tinham a resposta na ponta da língua] nada tem a ver com a conversa fiada da democraticidade interna. Terá a ver, talvez, com querelas pessoais mantidas nos segredos dos deuses, dos quais o público nem sempre se dá conta.

Não sei, portanto, porque haveria de ficar escandalizado com o que o bastonário dos advogados escreveu ontem no JN, se estou totalmente de acordo com ele, se nem vejo qualquer demagogia no seu conteúdo. Marinho Pinto disse, por exemplo, que não vai votar nas próximas eleições, e explica porquê. E a primeira explicação é esta: "nestas eleições não haverá uma efectiva possibilidade de escolha porque não há alternativa a nada e tudo ficará na mesma depois delas". Alguém com plena maturidade duvidará disto? Depois, acrescenta: "Praticamente todos os actuais partidos já estiveram no governo desde o 25 de Abril, mas os resultados foram sempre os mesmos..." Ou: "são muitos os que exploram inescrupulosamente os recursos públicos, desde os gestores e as «aristocracias laborais» das empresas públicas, até aos grandes grupos económicos privados cuja riqueza tem aumentado escandalosamente à custa de negócios leoninos com o Estado". Alguma destas declarações foge da realidade que conhecemos? Outra coisa: o facto destas declarações serem proferidas por um bastonário, obriga-o a ter de fazer delas prova, apesar de termos a percepção de corresponderem à realidade? Por que será então, que certas pessoas tanto se incomodam com elas? Essa reacção, isso sim, pode inspirar a desconfiança popular sobre quem as manifesta... 

Tal como ele, também penso que "nunca umas eleições serviram para tão pouco, nunca a desinformação e a alienação foram tão grandes como hoje". Mas, já discordo de Marinho Pinto quando diz que "a culpa deste estado de coisas não é da democracia mas dos democratas que se apresentam às eleições", porque vê a Democracia como um regime quase sagrado, correcto, onde nada há para melhorar e aperfeiçoar! É um erro em que muita gente continua a laborar, só faltando saber se por ingenuidade ou por pérfida conveniência sócio-política!

Antes de atacar os "democratas" que se candidatam às eleições, Marinho Pinto devia interrogar-se sobre a forma como os eleitores votam, ou seja, que segurança e conhecimento têm os eleitores sobre a personalidade e o real valor dos diversos candidatos. A resposta é simples, retirando a propaganda dos aparelhos partidários, esse conhecimento é: zero! E a história, como só é possível fazer-se de trás para a frente, diz-nos que, afinal, os governantes a quem confiamos o país foram todos incompetentes, e em certos casos [muitos], mesmo oportunistas. E, paradoxalmente, em lugar do devido castigo, alguns, até enriqueceram... Inventaremos, ou estamos apenas a reconhecer  factos?

Começa assim, logo no momento de votar, a sucessão de outras debilidades da democracia. Uma delas, é a obrigatoriedade dos eleitores terem de assistir passivamente ao incumprimento das promessas eleitorais dos candidatos eleitos até ao mandato seguinte,  sem disporem de mecanismos legais para se livrarem deles em tempo útil, de modo a evitar descalabros de toda a ordem, como os que conduziram o país ao actual  fundo do poço! Não é sério nem justo, que sabendo do labirinto de interesses que entretanto se foi instalando em todas as áreas da sociedade, incluindo as da Justiça, continuemos a assobiar para o lado, dando como inevitável o percurso de uma democracia repleta de buracos e armadilhas que podem levá-la [como já levou] ao descrédito total.

Insisto na ideia que mantenho desde sempre, principalmente desde que me apercebi da praga de abusos cometidos à Liberdade: não acredito de todo numa democracia onde o respeito pela legalidade não é levado à letra. E ainda acredito menos numa democracia cujos cidadãos se demitem do dever de a reabilitar.

Deixando a democracia à mercê de uma fraca casta de políticos sem escrúpulos, o povo deixará também de ter qualquer razão no dia em que, sem disso se aperceber, sejam eles exclusivamente a determinar o seu futuro.  

2 comentários:

  1. Marinho Pinto não me encanta, mas eu cá também no dia 5 não voto...
    Vou até Vila Real, ataco um bom "joelho de porca " com um tinto da Adega Cooperativa (está otimo), e assim digo aos 5 lideres partidários, que ou não estou interessado na vida que se advinharia com ele ( Jerónimo, bom homem!), ou que os detesto (aos outros 4 artistas).

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  2. Caros,

    Permitam-me discordar da opção de não votar, seja em que eleições forem.

    Estou de acordo com a incompetência reinante nos nossos políticos, mas a abstenção não é solução.

    Não partilho da opinião que a abstenção dê um sinal de descontentamento com o estado actual das coisas.
    A abstenção é um indicador demasiado ambíguo, tanto pode indicar descontentamento, como desinteresse pelo destino do país...

    A verdadeira forma de mostrar descontentamento seria um voto em branco.

    Aí sim, o sinal é claro:
    "Eu voto! Eu preocupo-me com o estado das coisas, mas nenhum de vós (políticos) me agrada!"

    Na minha opinião, não votar é um erro!

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...