28 abril, 2008

Automóvel Clube de Portugal: mais uma face do centralismo selvagem

Sou sócio do ACP ( Automóvel Club de Portugal) e uso sempre que necessário os serviços correntes prestados aos sócios: renovação de carta de condução, substituição de documentos, serviços de desempanagem, etc. Funcionam bem e o pessoal é extremamente educado e prestável.

Isto não me impede de afirmar que o ACP está cada vez mais virado para os sócios de Lisboa e arredores, e que desde que o actual presidente tomou posse do cargo, a restante massa associativa, aquela que vive noutras regiões, é nitidamente considerada como "verbo de encher". Eu sei que este tipo de atitude é corrente e normal: o poder central ou centralizado funciona numa lógica autenticamente colonialista. Uma das primeiras medidas tomadas por esta presidência foi "roubar", do Norte e do Centro, o Rally de Portugal, passando-o... para o Algarve obviamente. Míticos troços cronometrados, como Góis, Arganil, Piódão e tantos outros a norte do rio Douro, conhecidos e apreciados ano após ano por toda a comunidade automobilística europeia, foram sumariamente varridos para o caixote do lixo, e substituídos por troços, no Algarve, que nunca sairão da mediocridade, nem nunca farão parte da elite das provas europeias. Em compensação, os senhores que tomaram essa decisão terão mais um pretexto para se pavonearem no Algarve, pretendendo mostrar como são importantes e como fazem parte de uma determinada elite. Para eles, constituintes da corja para quem o país a norte das Caldas é a horrorosa província, povoada por seres cuja convivência não é recomendável, para eles, dizia eu, é mais fashionable mostrarem-se em Vilamoura ou Albufeira do que terem que andar pelas serras e "vilórias" do Norte e Centro do país.

Fico a pensar que só por comodismo e conveniência continuo sócio de tal organismo. Fico a pensar também que se existisse um Automóvel Clube em Espanha que tivesse actividade efectiva aqui no Norte, imediatamente eu mudaria. Ou então um Automóvel Clube do Norte de Portugal, mas provavelmente seremos poucos para isso, até porque nessa eventualidade o ACP substituiria o descaso a que nos vota por uma interesseira atenção.

Muita gente acreditará, como eu acredito, que seria mais benéfico ter ligações efectivas à Galiza, de quem somos genéticamente irmãos, do que manter-se a situação actual de sermos apêndices, pouco mais que tolerados, duma casta pretenciosa que nos dirige e condiciona à distância, e com a qual poucas afinidades étnicas temos. Separa-nos a cultura, a vivência, a idiossincrasia. Deles, somos primos, não somos irmãos. Até nos poderíamos dar bem com eles, mas só com estatuto de igualdade, e não com a actual situação que é algo muito parecido com o relacionamento de colonizadores com colonizados.

Este tipo de antagonismo, que se espalha cada vez mais, é prova provada que o regime centralista em que vivemos é altamente desagregador da chamada coesão nacional, muito mais desagregador do que aquilo que poderia resultar da criação de regiões, sejam elas administrativas ou até mesmo autónomas, por muito que esta suposta desagregação seja um "papão" a que os anti-regionalistas gostam de recorrer à falta de melhores argumentos.

1 comentário:

  1. Caro Rui Farinas

    O que é estranho para mim já nem é o sorvedouro do centralismo, esse vai continuar até implodir.

    Estranho sim, é que a nossa capacidade de tolerância seja tão excessiva.

    Isto está a parecer-se mais com laxismo, com a perda de identidade, de amor próprio e com subserviência. Sei lá.

    As pessoas perderam a alma e não são capazes de dar um grito de revolta.

    Não temos líderes. Os políticos são meros funcionários públicos. Nâo se percebe tanta falta de determinação e coragem para falarem com mais frequência das questões regionais, do desemprego, do desprezo a que o Porto está a ser votado, etc.

    Então,não são eles que gostam de dizer que são os representantes do povo?

    Será que estão à espera de uma ETA em Portugal? Afinal, qual será o objectivo desta garotada? Sabe?

    Como é que esta gente se quer fazer respeitar?

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