Peço desculpa por voltar a um assunto que já aqui foi tratado, mas por circunstâncias várias só hoje tive oportunidade de ler o texto completo do discurso do Dr.Rui Moreira na cerimónia da ACP, discurso este que em boa hora foi colocado pelo Dragão Vila Pouca neste Renovar o Porto, com a anuência do caro Rui Valente.
Não resisto a fazer um ou dois comentários, com a esperança de que não tenham perdido a actualidade.
Em primeiro lugar quero dizer que se trata de um discurso notável, e por várias razões. É um discurso claro, bem articulado, objectivo, chamando os bois pelo nome à boa maneira nortenha. Mencionou claramente algumas das questões que nos preocupam ( TGV, aeroporto, regionalização, reabilitação urbana) e não se furtou a estabelecer comparações com o que se passa para os lados de Lisboa. E tudo isto sem abandonar a sua proverbial atitude de grande elevação moral.
Ao desafio de Rui Moreira a José Sócrates ( "É sobre tudo isto que agora o queremos ouvir") optou o primeiro ministro por responder aquelas banalidades rançosas que já estão esfarrapadas de tanto uso. Em relação aos problemas enunciados que requeriam, se não uma resposta concreta, pelo menos um comentário adequado, nada. Pode utilizar-se neste caso aquele jargão de Tribunal que diz "e aos costumes disse nada". Realmente o senhor primeiro ministro de Portugal, aos costumes disse nada. Este silêncio, para além de uma falta de consideração pelos anfitriões do evento, por todos que estavam presente, e por todos os nortenhos, é uma péssima indicação. Nada a que não estejamos habituados, pois há muito que somos vítimas de um tipo de relacionamento colonizador/colonizado ( esta é a enésima vez que insisto nesta figura de retórica, mas não me cansarei de insistir e insistir).
A luta que Rui Moreira trava contra o "sistema" é uma luta inglória, porque é uma luta solitária. Acaba por ser uma atitude quase quixotesca, só que os inimigos não são moinhos de vento, são inimigos bem reais de carne e osso, para além de bem organizados e combativos.
Longe de mim pretender dar conselhos ao Dr.Rui Moreira, mas continuo a ter esperança de que, pelo menos, um dia se resolva a exercer um papel de catalizador, aquelas substâncias que fazem iniciar uma reacção química, mas na realidade não tomam parte intrínseca nela. Compreendo que, por razões pessoais e por falta da atractividade dos actual partidos políticos, eventualmente Rui Moreira não queira ser um actor político de longa permanência na primeira linha. Mas acho que é uma pena não aproveitarmos o seu prestígio, qualidades pessoais, posição social e profissional para pelo menos iniciar a congregação de vontades que pusesse em marcha a reacção à situação abúlica, de "apagada e vil tristeza", em que nós, portuenses e nortenhos, vivemos. Seria um contributo inestimável que a região lhe ficaria a dever.
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