28 abril, 2008

Flexi-segurança à Dinamarquesa ou à Lisboeta?

Para nosso infortúnio, os dirigentes políticos deste país periférico, habituaram-se a governar pela boca, e pela boca vão continuar a governar. Por que haveriam eles afinal de mudar?

Não têm nada a perder e não correm grandes riscos. Não arriscam a ser despedidos com ou sem justa causa, como muitos assalariados que trabalham por conta de outrem, nem correm - como eles - riscos de falência económico-financeira.

Que se saiba, não há nenhum a quem tenha sido indiferido o pedido de reforma ou o acesso à direcção de grandes grupos financeiros. O "crime" compensa em Portugal, e podemos ter a certeza que não são os do tipo "Apito Dourado" os mais escandalosos. Esses são apenas o manto diáfano da verdadeira corrupção. Portanto, em termos de serviço público, só podem, é fazer mais do mesmo, ou seja, nada verdadeiramente significativo.

Esta redundância de afirmar que os nossos governantes se habituaram a governar pela boca, não me parece nada excessiva se fizermos uma simples recapitulação de todas as promessas eleitorais não cumpridas e até da violação frequente de algumas normas constitucionais, mas mesmo assim, não deve faltar por aí quem os queira proteger. Eles lá saberão porquê...

Estas minhas preocupações fundamentam-se no histórico passado,mas igualmente no futuro e sustentam-se nesta ideia luminosa da "flexi-segurança" que andam agora a tentar impingir-nos como remédio milagroso para os nossos problemas. Sem qualquer originalidade, os nossos governantes quando pretendem ser mais convincentes com uma "nova" reforma, costumam zumbir-nos a célebre frase: "lá fora também se faz" ou, "nos países desenvolvidos é assim".

O problema, é que quando o fazem, só se preocupam em aplicar o lado mais sombrio da moeda, aquele que implica a anulação de algum privilégio ou um aumento da carga fiscal. O outro lado, aquele que deveria justificar positivamente o reforço dos encargos do cidadão, esse, raramente lhe é explicado e garantido. Ao contrário do que sucede na Dinamarca, por exemplo...

A Dinamarca, é um país pequeno como o nosso, mas é um país nórdico. E - lamento dizê-lo,porque infelizmente eu não nasci na Dinamarca - os dinamarqueses são um povo com processos de vida sérios, também porque os seus responsáveis políticos lhe transmitem seriedade. Essa seriedade, manifesta-se na forma e no conteúdo, o que significa que quando é proposto ao cidadão o pagamento de mais um imposto é-lhe imediatamente explicada (e passa a direito legal) a vantagem/benefício desse mesmo imposto. Depois, é posto em prática!

A flexi-segurança dinamarquesa cobra uma enormidade de impostos aos seus cidadãos, começando por (aquilo a que aqui alguns, chamam "demagogia") retirar a fatia maior do bolo contributivo a quem ganha mais e depois, por pagar salários médios relativamente altos.

Mas os dinamarqueses, não se preocupam com os altos impostos, porque o que ganham (apesar do seu alto custo de vida) chega e sobra para viverem com dignidade. Se um trabalhador vai para o desemprego, o Estado garante-lhe mais de 80% do valor salarial e fornece-lhe cursos de formação para um futuro posto de trabalho que também se encarrega de assegurar. As pessoas têm um conhecimento profundo e rigoroso das aplicações e benefícios específicos dos seus encargos fiscais. A isto chama-se fazer política com elevação e sentido de cidadania.

Aqui, a flexi-segurança à portuguesa vai ser um alfobre de problemas para os mais desprotegidos. A mentalidade da classe média empresarial nacional não prima pelos bons exemplos e vai ver nela um óptimo trampolim para alastrar o foco de desemprego que já existe na região.

O primeiro já começa a dar os primeiros passos. Há "empresários", que no respaldo da crise (sempre ela), perderam completamente a vergonha e já começam a habituar-se a dizer aos seus empregados que não sabem se têm dinheiro para lhes pagar ao fim do mês. Não será este, um indício de uma outra crise?

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