19 maio, 2008

As falsas ofensas

Quando se constatam (o que, está sempre a acontecer), factos tão obscenos como este, pedir aos cidadãos sacrifícios e toda a sorte de deferências não é querer ser-se mais papista que o Papa? Não é, revelar uma incomensurável ausência de sentido de Estado? Que reacção podem esperar do povo os representantes do Govêrno que assim procedem? Respeito? Compreensão? Simpatia?
A Sra. Dra. Manuela Ferreira Leite bem tentou, em entrevista à SIC Notícias, demarcar-se da concorrência partidária (interna e externa), procurando, à sua maneira, convencer-nos que é pessoa mais credível. Nestas coisas, como sabemos, os jornalistas só mostram as unhas com perguntas pertinentes quando estão perante alguém que já foi pública e previamente julgada por algo que ainda não se sabe se efectivamente fez, ou quando o entrevistado não corresponde aos seus cânones de preferência política, social e clubística. Há mais, mas Alberto J. Jardim e Pinto da Costa, são apenas dois exemplos suficientemente convincentes do que acabo de dizer.
Daí que, quando a Dra. Manuela andava ali às voltas, a tentar não chamar mentirosos aos seus colegas de profissão (políticos), alegando que ela não era como outros que prometim e depois não cumpriam, a jornalista não soube tirar partido do filão que inopinadamente a entrevistada lhe tinha oferecido para explorar e dissecar até à última réstea de resistência a simulação. Até os jornalistas são coniventes com o poder, quando lhes convém.
Se consultarmos um bom dicionário ou uma enciclopédia, todos sabemos que é apenas aí que podemos encontrar a descrição rigorosa do significado das palavras e é com base nela que devemos aferir as nossas opiniões, jamais em quem as manipula.
Na Diciopédia de 2007, da Porto Editora, podemos verificar que a palavra insultar, é um verbo transitivo que significa injuriar, ofender e ultrajar. Do adjectivo/substantivo impostor, apuramos que tem vários sinónimos, como: embusteiro, charlatão, mentiroso, vaidoso, hipócrita, caluniador, propagandista de falsas doutrinas. E, chega.
Já abordei de outra forma e noutra altura esta questão, mas volto à carga, porque nunca é demais fazê-lo. Os senhores ministros e quejandos adoram argumentar com a palavra-chave demagogia, quando são confrontados com simples questões como estas, mas para as quais não encontram resposta, porque a única aceitável seria terem de admitir que são de facto mentirosos. Ora tal, não é propriamente prestigiante para a classe. Por isso, repudiam-na, não por ser afrontosa - porque podem bem com o fardo -, mas por revelar uma realidade com a qual não gostam de conviver. Eles detêm o Poder e acham que ele lhes confere tudo, até a honra. Outra ilusão, porque o Poder não dá nada disso. Se a honra não existir antes de beneficiarem do Poder, depois, só pode corromper.
Decorre desta realidade a maior demagogia que alguma vez se pode praticar, que é a possibilidade de permitir às "autoridades democráticas" incriminar um cidadão comum por difamação ou injúria, só por eventualmente se atrever a dizer, cara a cara, nas barbas de algum político aquilo que ele muitas vezes é: um impostor.
Contudo, o cidadão não ofendeu, limitou-se a falar verdade. Pergunta que se impõe: será isto democracia, ou um problema de fonética? Hipocrisia, quem sabe.

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