11 maio, 2008

"Crónica de uma morte anunciada"

Sempre tive uma grande inquietação sobre o desfecho do ASC, isto é, entre a alternativa da entrega da sua gestão à entidades nortenhas ( possivelmente uma parceria público-privada) por oposição à sua entrega ( no pacote da ANA) aos privados que ganhem o concurso do aeroporto de Alcochete. Receia-se fortemente que esta última hipótese arraste a sua desqualificação por razões estratégica do novo concessionário. Se tal ocorrer a região Norte sofrerá um desastre económico de enormes proporçoes, que irá muito para além da perda de um profundo envolvimento da Ryanair com o nosso aeroporto. Nunca confiei neste governo( nem nos outros, aliás...) no diz respeito ao tratamento dispensado ao Porto e região Norte, mas sempre quis convencer-me de que se tratava de pessimismo meu, e que a questão teria um desfecho favorável.

Depois de ler a crónica de Rui Moreira no PÚBLICO de hoje, convenço-me de que os meus temores se vão realizar.

Rui Moreira é um espectador privilegiado deste problema, fruto da sua intervenção activa como presidente da Associação Comercial do Porto, e poderá ter acesso a informações que não foram divulgadas. Daí a importância da sua crónica de hoje.

Questiona ele se " alguém persuadiu Sócrates de que o seu repto aos empreendedores do Norte, a propósito da privatização do ASC, fora um erro de cálculo? Será por isso que GQT ( Governo Que Temos) prepara a privatização da ANA e faz ouvidos de mercador aos que responderam ao seu desafio?"

Mai a frente afirma que " Alguém lhe terá dito que, para que Lisboa possa dispor de um novo aeroporto de raiz destruindo o valor da Portela, é preciso que a ANA seja privatizada, e que este negócio só será atrente e viável se incluir o ASC no pacote. Não admira, porque, se este fosse entregue a outro proprietário ou concessionário, poderia crescer muito, nos dez anos que serão precisos para terminar a construção do novo aeroporto de Lisboa, transformando-se entretanto num perigoso concorrente".

Acrescenta depois esta frase que é um apelo: " Assim, e se nada for feito, o ASC ficará integrado num monopólio privado. (...) essa é a pior das soluções para a região".

Segue-se uma autêntica afirmação de impotência. " Os privados que se interessaram pela oportunidade pouco mais podem fazer e a Junta, que já fez muito ao encomendar um estudo científico que demonstra a razoabilidade da solução reclamada, está condicionada pela chantagem do Metro. Dos partidos, nada há a esperar, porque o PSD está mercê dos anti-regionalistas que detestam o Norte, enquato o PS-Porto se especializou em mendigar benesses do GQT."

Termina assim. " Acho que, enquanto é tempo, os cidadãos do Porto têm de voltar à rua para gritar: "Basta" !"

É a última solução, uma solução de desespero, mas teremos nós quem encabece este movimento, e compreenderão os nortenhos, especialmente os portuenses, o que está em jogo? Quererá o próprio Rui Moreira aceder a um eventual apelo para que avance? O que pensam a Associação Industrial, a Universidade, a Junta Metropolitana, a própria Diocese, os grandes empresários, as figuras gradas da região? Vamos permitir a morte do aeroporto, e da região com ele? Vamos continuar impavidamente a deixar-nos conduzir para um triste futuro, como um rebanha de ovelhas a caminho do matadouro?

Interrogo-me se haverá, em tudo isto, precipitação da minha parte. Gostaria que houvesse, mas quando me lembro do silêncio absoluto de Sócrates na sessão solene na Associação Comercial, quando desafiado por Rui Moreira a falar sobre vários temas importantes para a região, entre os quais o ASC, não posso deixar de temer que estamos na presença de uma autêntica "Crónica de uma Morte Anunciada".

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