05 maio, 2008

Não será, antes: "Masoquismo tripeiro"?



Sobre este artigo, pretendo dizer o seguinte:

já dei muitas vezes comigo a perguntar-me por que raio é que, quando vejo alguém a torcer o nariz à Regionalização, ou a "bater no ceguinho da historinha do Calimero, cujo objectivo não vai muito mais além do que procurar responsabilizar todos os portuenses pela crise do Porto, me deixo logo invadir por um enorme sentimento de desconfiança em relação a essas mesmas pessoas e não consigo levá-las a sério.

Afinal, não terão o direito de entenderem as razões da nossa decadência de modo diferente do meu? Estará o meu espírito democrático a precisar de uma revisão técnica? Acreditem ou não, penso amiúde nessa hipótese.

O que é significativo, é que, à medida que os anos passam, essa desconfiança não só se acentua como se fortalece, o que contribui seriamente para credibilizar os meus fundamentos.

Vejamos. Continua a haver por aí quem, numa primeira impressão, nos transmita do seu discurso opinativo - como é o caso do autor do artigo linkado - a ideia de estar do nosso lado da barricada, de repudiar como nós, a situação pungente vivida no Porto, mas imediatamente a seguir parecem ficar bloqueados perante a palavra Regionalização. Se em vez de pessoas falássemos de ouriços, seria muito provável notarmos-lhes os picos eriçados, tal é a aparente aversão ao tema.

Honestamente, não gosto de fazer juízos de valor instantâneos, mas ainda não consegui compreender profundamente este fenómeno. Em abono da verdade, há que dizê-lo, estas pessoas também não ajudam muito. A coesão nacional, o caciquismo local e a suposta presunção alienatória dos adeptos da regionalização, são os únicos argumentos que conseguem apresentar para justificar este reaccionarismo, mas nenhum deles faz qualquer sentido.

Vamos por partes.

Coesão nacional:
sabendo como sabem, que o país está (ao contrário da prometida, mas sempre rejeitada, descentralização), mais e mais concentrado na capital, e com isso, a gerar fenómenos promotores de divisionismos e fragmentadores da unidade nacional, como podem simultaneamente os anti-regionalistas, defender essa coesão, continuando a credibilizar quem e o que, a promove, sem sequer darem sinais de querer mudar de política? Será justo, razoável, continuar-se à espera que Suas Exas., os nossos desgovernantes, numa espécie de iluminação súbita, se decidam finalmente a descentralizar o país? Quem nos garante que o farão alguma vez? A não ser que os anti-regionalistas estejam dispostos a esperar mais 34 anos, o que, diga-se, chega a ser sádico. E os portuenses, o povo, esse, não o merece.

Caciquismo local:
é um risco em qualquer sistema político,que não difere muito do risco consumado das oligarquias centralistas actuais, mas que sempre se poderá controlar melhor dentro de portas (no governo regional) do que a 300 kms de distância com um governo de costas viradas para o Norte do país. Por que não se inquietam os anti-regionalistas com factos concretos, protagonizados pelo caciquismo central? Mais grave: por que não o repudiam ao ponto de o quererem ver rapidamente dizimado do país?

Suposta alienação dos adeptos da Regionalização:
quem aliena quem? Os protestantes anti-calimeros, tão vulneráveis a promessas de banhas da cobra, há 34 anos por cumprir, ou aqueles que procuram outro caminho para que elas possam ser mais facilmente cumpridas? E o que explica a rejeição absurda dos anti-regionalistas/anti-calimeros pelo sucesso governativo de países pequenos como o nosso, regionalizados como é o caso da Dinamarca e Holanda, só para dar dois exemplos? Receiam perder porventura algumas mordomias secretas? O emprego? A chefia na redacção de um jornal? O quê? Mas por quê tanto receio infundado?

Agora, debruçando-me mais directamente no artigo em questão e nos exemplos apresentados pelo seu autor, volto ao mesmo ponto de incompreensão entre as suas causas e respectivos efeitos.

Jorge Vilas, o autor do referido texto, aponta-nos Rui Reininho, Pedro Abrunhosa, Mário Cláudio, Agostina Bessa Luís, Manoel de Oliveira, Júlio Cardoso, José Rodrigues e Pinto da Costa como casos pessoais de sucesso e projecção profissional em que foi possível ultrapassar as " benesses" (a expressão é dele) do centralismo deixando pairar no ar a ideia optimista de que: " se eles conseguiram por que não conseguimos nós?"...

Eu podia responder-lhe com optimismo maior, e perguntar-lhe porque é que ainda não fundou o seu próprio jornal ou (com um pouco mais de exagero), por que é que não conseguiu criar uma estação de Televisão autónoma para o Porto. Se quisesse ser mauzinho, poderia ir um pouco mais longe e estender o optimismo do racicínio à população e perguntar por que é que não há um Belmiro de Azevedo em cada cidadão, mas fico-me por aqui, quando muito atinjo o estado perfeito da autonomia humana: a anarquia, no seu estado mais puro. Mas não irei por aí, gosto de ter os pés na terra.

Quero, é de uma vez para sempre (se possível) saber quem são os Calimeros deste Porto, porque devem (e convém sabê-lo) ter nome. Ora, é isso que o senhor Jorge Vilas não diz, ou não quer dizer, mas devia dizer se quisesse emprestar objectividade ao seu artigo. Todos ou quase todos os personagens de sucesso por ele exemplificados já se queixaram do centralismo. O próprio Pinto da Costa já começa a usar o termo como arma de combate nos seus discursos, como aconteceu recentemente em Vila Real, daí que não percebo onde quer chegar verdadeiramente o respeitável jornalista.

Mas eu posso ajudar. Já aqui citei nomes como António Amorim e Belmiro Azevedo,como exemplos de pessoas que podiam ter dado uma ajudinha (se quisessem) à vertente autónoma da região caso tivessem concorrido com a SIC de Pinto Balsemão e outros. Mas, admitindo que também não se lhes pode exgir sucesso mais polivalente do que aquele que já têm, afinei a pontaria e dirigi baterias para alvo mais objectivo, como é Joaquim Oliveira, um homem do Norte (não Calimero, suponho) dono de vários jornais e estações de radio e TV que até hoje não ousou deslocar ou criar para o Porto um canal autónomo de televisão.

Este é, objectivamente, apenas um caso concreto e paradigmático da culpa de um homem do Norte devidamente identificado (não o único) pela degradação económica e social portuense. Não forçosamente, de todos os homens do Norte, como gostam de dizer.

Como pode constatar-se, os jornalistas nem sempre escrevem com objectividade. Às vezes confundem (mais do que esclarecem) a parte com o todo.

Como é o caso, os Calimeros do Porto talvez sejam eles e os Oliveiras lisboetizados. Os Joaquins, sobretudo...

2 comentários:

  1. Ao velho estilo nazi:uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade, já está afazer efeito e agora nós somos como o Calimero.
    Aeroporto, TGV, Estação do Oriente, Zona Ribeirinha de Alcântara, Ponte Chelas/Barreiro...quantos são? Quantos milhões são?
    E para o Metro do Porto? Diz um "senhor" que me recuso a dizer o nome;"anda ao milimetro".
    Esse senhor Vilas fala do F.C.Porto e de Pinto da Costa e não vê o preço que estão a pagar por ousar bater o pé ao centralismo?
    Você fala e bem do Quim Oliveira, agora joga golfe com os ministros, já se esqueceu dos tempos em que se não fosse o F.C.Porto não vendia a ninguém, já se esqueceu das campanhas que fizeram contra ele nos tempos de Vale e Azevedo.
    Os piores meu caro Rui são os que foram daqui, são mais centralistas que os lisboetas.
    Um abraço

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  2. Caro Vila Pouca

    Como dizia outro dia o nosso amigo Victor Sousa, este espaço não suscita muitas intervenções talvez por falar claro demais. Só não sei é, se é por cobardia ou conveniência tácita...

    Abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...