Tenho todo o respeito por quem - apesar do cenário real aqui exposto no post anterior -, ainda acredita nos mecanismos desta democracia e por isso o meu cepticismo não deve ser interpretado como uma crítica indirecta a quem tem essa posição.
Há quem, por fé religiosa, acredite que a fé move montanhas, que faz mesmo milagres, mas com toda a franqueza, tenho fundadas dúvidas para estender essa crença ao destino dos povos.
Acredito sim, que o destino dos povos depende da qualidade dos povos. Um povo terá grandes governantes se o seu grau de exigência em relação a si e a estes for elevado.
Custa-me a acreditar que num bordel democrático a democracia surta qualquer efeito. Não por causa da democracia nem dos seus princípios, mas pelos frequentadores do bordel.
Presos ao ferrete da democracia, os povos assistem meio resignados meio revoltados, a todas as aberrações que ela permite, sem compreenderem bem a substância do princípio que lhes garante ser ela o governo no qual, o poder e a responsabilidade cívica são exercidos pelos cidadãos, directamente ou através dos seus representantes.
A incompreensão só surge quando o povo é confrontado com demasiada frequência com comportamentos da parte dos seus representantes completamente contrários às suas perspectivas e anseios. Nessa altura, percebe finalmente que os poderes que o citado princípio democrático lhe garante pecam por demasiado teóricos e com resultados altamente duvidosos.
Deve ser esse estigma democrático que leva muita gente a predispôr-se e continuar a aceitar sucessivos incumprimentos e deslealdades por parte dos seus representantes e govêrnos. Uma vez eleitos (esta é outra vicissitude democrática), os governantes assimilam imediatamente a ideia de que lhes é permitido tudo, incluindo mentir a quem os honrou com a eleição.
Aquilo de que o Renovar o Porto mais tem falado, é do Centralismo, um perfeito tumor em qualquer regime, mas que em Democracia corre o risco de suscitar separatismos dispensáveis e até novos regimes ditatoriais. Há quem (irresponsavelmente) defenda que a adesão de Portugal à União Europeia o coloca ao abrigo de qualquer "inconveniência" anti-regimental desse tipo, esquecendo aquela sábia e sensata profecia que lembra que os acordos se fizeram para não serem cumpridos...
O cerne da nossa questão não passa apenas pelos partidos políticos, pela democracia, pelo centralismo versus regionalização, tem antes a ver se estamos ou não dispostos a permitir que a democracia seja uma espécie de desporto político onde o jogo sujo faz escola.
Os mecanismos de controle democrático (recordo para quem se esqueceu que"demos" significa povo) têm de ser aperfeiçoados nomeadamente sobre o desempenho da actividade governativa. Caso contrário, podem crer, continuaremos a discutir o sexo dos anjos e não política. E isso, acreditem, é exactamente o que pretende um número muito considerável dos políticos da nossa aldeia.
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