05 maio, 2008

Os escolhos que podem afundar o referendo (1)

O referendo de 1998 sobre a regionalização, foi o fracasso que não podia deixar de ser, tratando-se, como se tratou, de um jogo com cartas marcadas. Como se está podendo verificar, o seu resultado negativo vai atrasar, em mais de dez anos, o lançamento de nova consulta popular. Julgo não estar muito enganado se disser que no caso de nova rejeição da regionalização em futuro referendo, ela sofrerá mais um atraso, mas desta vez equivalente a uma geração. Os apoiantes do presente centralismo estão certamente tão conscientes deste facto, que é minha convicção que a sua estratégia será baseada no lançamento do referendo o mais inopinadamente possível, para que não haja tempo para longo debate com a consequente divulgação das vantagens e benefícios que advirão da criação de Regiões.

É por isso indispensável que antes do referendo se realizar, tenha havido um prévio trabalho de informação e doutrinação que permita aos cidadãos terem uma visão o mais completa possível daquilo que realmente está em jogo e da influência que terá nas suas vidas. Só assim poderão votar conscientemente.

Penso assim porquê? Por várias razões.

Primeiro porque não se pode esquecer que o resultado dum referendo só é vinculativo se a participação for superior a 50%, e elas têm sido bem inferiores, incluindo a de 98. Imperioso se tornará a implementação duma estratégia que "mexa" com o eleitorado e o motive a ir as urnas. Isto é possível de ser feito, há especialistas que o podem fazer, só que custa tempo e dinheiro ( e o governo não paga, é obvio!).

Em segundo lugar há muita gente que acredita em slogans como estes:

- " Isto é uma luta entre partidos. Eu não quero saber de política."
- " O país é pequeno de mais para ser dividido."
- " O que os políticos querem é mais tachos para se governarem."
- " Agora somos governados e prejudicados por Lisboa. E depois? Pasamos a ser espoliados pelo Porto (ou Coimbra, ou Braga, ou Évora, etc). Então mais vale deixar tudo na mesma"
- " Com a regionalização o país vai gastar mais dinheiro e a burocracia vai aumentar. Vamos ter a nossa vida mais complicada."
- " A corrupção vai aumentar."

Sentimentos como estes são reais. Para verificar a sua existência, basta falar com as pessoas, sobretudo as menos politizadas, ou então percorrer a blogosfera e ler muitos dos comentários sobre o tema. Torna-se assim imprescindível esclarecer atempadamente uma significativa fatia do eleitorado. Se isto não for feito, e não vejo quem o queira fazer, receio bem que o próximo referendo constitua o requiem da regionalização. Pessimismo? Chamar-lhe-ia antes realismo.

Para além dos obstáculos proveniente daqueles a quem o tema regionalização não interessa, ou que têm uma opinião negativa, há ainda a considerar eventuais resistências oriundas de apoiantes da causa. Abordarei esta particularidade em próximo post.

1 comentário:

  1. Caro Rui Farinas

    Se alguma vez me passasse pela cabeça que a democracia ia parir monstro tão execrável como é o Centralismo e respectivos criadores, nunca na minha vida me teria dado ao trabalho de votar.
    Agora, só se for em branco.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...