Portugal é um país com fronteiras praticamente imutáveis há mais de 700 anos, mas esta unidade geográfica está longe de co-existir com uma unidade étnica. Embora não sendo historiador interessou-me a leitura da obra de uma autora francesa retratando a História Medieval da Península Ibérica, da qual extraio factos históricos que nos ajudam a compreender porque razão estamos mais próximos dos nossos vizinhos galegos do que dos nossos compatriotas a sul, e que também mostram que o noroeste peninsular foi sempre, através dos tempos, uma unidade humana diferente das várias outras unidades que constituem a península.
1 - Na reforma romana do ano de 297, a Gallecia já era uma unidade bem diferente da Lusitania. A primeira estendia-se ao norte do rio Douro e ocupava grosso modo o que é hoje o norte de Portugal e a Galiza. A segunda era o restante do país actual, com um alargamento para nascente na zona do actual Centro.
2 - Em 409 começa a invasão da península pelos bárbaros. No noroeste peninsular , os Suevos estabelecem-se entre o Douro e o Minho e os Vândalos na Galiza. Mais uma vez o Douro é uma fronteira pois a sul, na Lusitania, estabelecem-se os Alanos, povo de origem asiática ao contrário dos Vândalos e Suevos que eram germanos.
3 - Seguiram-se os Visigodos, originários da Escandinávia, que em 585 anexaram o reino Suevo, e que acabaram reinando sobre toda a península. A Gallecia continuou , no entanto, separada administrativamente da Lusitania e das restantes regiões ibéricas.
4 - Em 711 os muçulmanos invadem a península e progressivamente estabelecem o seu domínio. Foi no norte e no noroeste (Gallecia) que surgiu a maior resistência armada contra os mouros, e foi também nestas regiões que se refugiaram os cristãos que fugiam das provincias ocupadas pelos muçulmanos. Depois de muitas peripécias históricas formou-se um estado islâmico independente denominado Al - Andaluz, que incluia todo Portugal actual excepto o território a norte do Douro. A Gallecia e a Cantábria mais uma vez manifestavam a sua independência e recusavam submeter-se ao jugo dos mouros.
5 - Não é de admirar que a reconquista da peninsula tenha começado no norte, em Cangas de Onis ( batalha de Covadonga em 722). Duzentos anos depois os reinos cristãos, na parte que nos diz respeito, estendiam-se até ao Mondego. Para sul era a "mourolândia".
Perante todos estes factos, apetece dizer que a existência de Portugal é uma aberração histórica. Sempre fizemos parte da Gallecia e sempre estivemos separados da Lusitânia até D.Afonso Henriques ter feito o que fez. Atendendo ao modo desenfreado como somos actualmente colonizados pelos lusitanos, tenho pena que D.Tareja não tenha conseguido impor-se ao filho, e em consequência não se tenha conservado a integridade territoral da Gallecia, velha de mais de 800 anos.
P.S. Este texto deve valer-me o epíteto de "traidor". I couldn't care less.
P.S.1 Algo de estranho se passou na primeira tentativa de publicação deste post, pelo que peço desculpa.
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Traidor, meu caro Rui Farinas?
ResponderEliminarDepois de uma tão honesta, clara e brilhnte exposição histórica sobre a "nossa" Gallecia, nós é que somos os traidores?
Há traidores há, mas todos sabemos onde encontrá-los e quem são.
Basta "olhar" para a televisão...
Traidores são os que querem acabar com tudo que a cidade tem.
ResponderEliminarVejam mais outro jornal "http://www.oprimeirodejaneiro.pt/"
Que vai acabar.
O único que resiste e nunca capitulará eles sabem quem é, por isso é que fazem uma guerra tremenda.
Não esquecer que a nossa língua deriva precisamente do galaico-português falado na Idade Média na Galiza e em Portugal. Portanto tudo a ver, a nossa uidade cultural com a galiza....
ResponderEliminarTraidores são os centralistas e pior ainda muitos nortenhos centralistas fascinados pelas migalhas do poder da capital ed pelo seu pseudo brilho.
Lembro-me de uma excelente c rítica ao facto feita pelo Herman quando caricaturava o Inginheiro que era do nuorte, carago, e que em ida à capital, pouco a pouco foi mudando o sotaque nortenho pela verborreia alfaciha... Notável.
Triste ver desaparecer mais um Jornal histórico, " O Primeiro de Janeiro ".