01 agosto, 2008

Estamos encavacados

Patético e revelador de uma noção vincadamente preconceituosa sobre os seus próprios domínios, Cavaco Silva perdeu uma boa oportunidade para prolongar o estado de graça da sua verdadeira dimensão, enquanto homem de Estado.

Quando a riqueza e os poderes se concentram na capital de uma forma inusitada, que ultrapassa todas as escalas possíveis da aberração político-administrativa que qualquer país pode suportar; quando, ano após ano, crescem assustadoramente na região Norte os índices de pobreza; quando (apesar disso), se continuam a canalizar para o Sul (a Embraer é o caso mais recente) os novos investimentos, Sua Exª., o senhor Presidente da República, não conseguiu descobrir assunto mais importante para justificar a solenidade da uma comunicação ao país do que queixar-se da hipotética perda dos seus próprios poderes! Dignificante, sem dúvida!

Esta declaração do senhor P.R. espêlha bem, numa perspectiva invertida da lógica da pirâmide dos poderes institucionais, a qualidade e o real nível dos nossos representantes. Nem mesmo a aparência de alguma elevação escapa à vulgaridade! Depois, somos nós os Calimeros, não é...!?

Como tenho vindo a dizer (até, confesso, já com algum fastio), estamos, efectivamente, orfãos! Não temos governantes, temos pessoas caprichosas e personalistas, que confundem as Instituições do Estado com as suas residências particulares, decisões políticas, com decisões domésticas, e o povo, com as sua prole. Isto, até poderia ser positivo se essa relação "familiar" fosse em si um garante de boa gestão, mas nem sempre é.

Há figuras do Estado que, uma vez chegadas ao tôpo da pirâmide, imaginam ter atingido o climax da realização pessoal. Amiúde, nem sequer lhes ocorre que a substância prestável do cimo piramidal do poder é a única parte consistente do prestígio e, principalmente, do auto-elogio. A substância de um desempenho desta natureza, tem um único mestre: o povo. E mesmo assim, quando o povo avalia por antecipação (como acontece quase sempre), engana-se muitas vezes.

Pessoas auto-promovidas, arrogantes e enganadas sobre as suas valias técnicas e humanas é o que por aí mais há. Portugal, sabe produzir como ninguém e a grande escala, estes produtos. O problema, é que depois, é sempre o mexilhão quem se lixa.

1 comentário:

  1. Que tristeza quando a mais alta figura do Estado é apenas isto.
    Ontem falavamos de não termos voz, de não conseguirmos passar a mensagem...hoje a notícia:" o Janeiro vai fechar" Será que ao menos aquilo do aeroporto é para valer?
    Um abraço

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