28 julho, 2008

Sobre a liberdade dos jornalistas







"Temo, fundamentalmente, que o ar modernaço que estes projectos emprestam a quem a eles se associa acabe por não ter repercussão prática. Sobretudo porque a História nos mostra que aquela que foi, durante anos, a mais romântica ideia da região - o metro do Porto - continua aprisionada na criatividade das desculpas que o Governo vai dando para não aprovar o seu crescimento para Gondomar, Trofa, zona ocidental do Porto e a extensão, em Gaia, até Laborim. E não parece adiantar muito protestar, como tem feito, e bem, Rui Rio, presidente da Junta Metropolitana do Porto. Há coisas que nos afectam a nós mas que dependem fatalmente dos outros. Estamos, está visto, condenados a ser criativos."
Pedro Ivo Carvalho (JN)
Seleccionei, intencionalmente, o último parágrafo deste artigo de opinião por me parecer o mais interessante e conclusivo.
O senhor jornalista resumiu as suas conclusões a isto: "Estamos, está visto, condenados a ser criativos." Dessa conclusão, realço ainda este detalhe: "...a mais romântica ideia da região - o Metro do Porto - continua aprisionada na criatividade das desculpas que o Govêrno vai dando para não aprovar o seu crescimento para Gondomar..."
Mais criativos. Só? Então, quer dizer, se o Govêrno trava o avanço do Metro, a melhor forma de o fazer avançar é sermos mais criativos? E que tal, sermos também mais afirmativos, mais exigentes e mais corajosos?
Foi pena que o senhor jornalista tivesse rematado o bem estruturado artigo, de forma tão pouco ambiciosa - porque até estava a ir bem -, mas reduzir à criatividade dos cidadãos uma promessa por cumprir do Govêrno é um convite à manutenção da bandalheira do Estado. Se alguém acredita que é ao comum cidadão que compete corrigir o laxismo e as ilicitudes da sociedade, desengane-se, porque quando as regras do jogo se invertem raramente o "jogo"acaba bem. Os cidadãos, têm sempre como referência os procedimentos do Estado, para o melhor, mas preferencialmente para o pior... Diariamente temos provas disso.
Resulta daí que, os conselhos dirigidos aos portuenses pelo senhor jornalista para decidirem o que querem fazer ("uma cidade que se projecta à custa do FCP, do património da Humanidade ou outra coisa qualquer, permeável às circunstâncias de cada momento?) pecam por simplistas e redutores, por não descortinarem melhor solução para as trafulhices praticadas pelo Governo aos portuenses, que não as da "Criatividade".
E que tal, por exemplo, propôr aos portuenses a exigência ao Estado de uma imprensa e televisão mais independentes para a região? Reinvindicarem um JN menos lisboetizado, que defenda mais objectivamente os interesses do Porto e se deixe de slogans e metáforas inconsequentes?
Essa treta bem sonante, espécie de recado dado (e complexado) de origens centralistas, tipo "do Porto para o Mundo" já não convence ninguém, sobretudo quando a essência do slogan denuncia algo substancialmente diferente. Uma coisa mais ao modo de: "do Porto, por Lisboa"...
Os senhores jornalistas esquecem-se com demasiada frequência da poderosa ferramenta que a sua profissão podia constituir para os interesses das regiões, se democraticamente utilizada. Tão democraticamente, quanto sectária será (como é), se usada ao serviço priveligiado de uma só região/cidade do país. Esquecem-se também, que antes de serem jornalistas são cidadãos, não devendo conformar-se em ser a voz do dono (patrão). Que diabo, há que dar alguns sinais de coerência com aquilo que escrevem.
Nos jornais, como nas televisões, o seu trabalho é condicionado desde logo pelas linhas editoriais mandatadas pelas chefias de informação e sabem que essas directrizes nem sempre se pautam por critérios de seriedade e isenção. Portanto, pactuam com as conveniências mercantilistas da entidade patronal como se o produto "informação" fosse idêntico ao produto "batata" ou "CocaCola", e fazem gala de argumentar como se assim fosse. O dever de informar por informar só é lembrado quando fazem grossas asneiras, quando abusam ou extravazam das suas funções para degraus de insolência próximos da criminalidade. O que, diga-se, não é raro. É claro que, há sempre alguns mais ponderados, menos bombásticos que outros, mas pouco mais do que isto temos para avaliar sobre a sua integridade profissional. É urgente pois, começarem a olhar para as suas próprias casas (locais de trabalho), antes de se prestarem a filosofar sobre a desarrumação da casa do vizinho, porque podem estar a ganhar pó...

A criatividade é, sem dúvida, um bem não negligenciável, dá até muito jeito desenvolvê-la, mas não resolve tudo. Além disso, pode ser aplicada em sentidos antagónicos. Haverá, por exemplo, quem não reconheça criatividade em Vale e Azevedo? E então? Não deve ser a essa criatividade que o senhor jornalista se refere, suponho.

O Porto, precisa sobretudo de gente que o ame e respeite. De gente que não precise de evocar Lisboa, quer para se promover, quer para justificar carências individuais ou corporativistas. Precisa de se desenvolver sem rivalizar com a capital, porque se tem a si mesma, mas também não precisa de se intimidar para a afastar do caminho, se for preciso, se essa Lisboa Centralista lhe tolher o passo do progresso. É só, e apenas, contra essa Lisboa que devemos combater, contra a Lisboa sorvedouro. Contra essa Lisboa, sim, devemos bater o pé sem esmorecer.

Sejamos portanto, um pouco criativos senhor jornalista, siga você mesmo o seu próprio conselho: exija à Administração da Controlinveste que faculte desde já à classe profissional a que pertence, uma direcção de informação insofismavemente regional, e idependente. E já agora, por favor, aproveite a embalagem e passe a palavra aos seus colegas da rádio e da relevisão.

Nós por cá, envidaremos esforços para também sermos criativos. Está prometido.

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