18 julho, 2008

O Mário Lino é muito esperto

A questão que arruinou em definitivo a credibilidade de Nixon (“compraria a este homem um carro em segunda mão?”) deixou-me com uma péssima impressão dos vendedores de automóveis usados. Até que, há coisa de cinco anos, uma “performance” do meu amigo Miguel Vaqueiro, num stand que ele tinha em Matosinhos, apagou por completo esta má impressão.

O cliente, um fulano para os seus trinta e tais, chegou num Mercedes SLK preto.. Deu os bons dias e começou logo a namorar um Porsche Carrera. Passados uns 15 minutos,. tomou a iniciativa de fazer perguntas, a que o meu amigo respondia num tom correcto mas desinteressado.

A páginas tantas começou a descobrir defeitos no Porsche:

- Já viu estes riscos aqui atrás?

O Miguel concordou:

- Pois tem. Comprei-o à noite a um tipo de Lisboa e não reparei nisso. Além dos riscos tem a lona da capota toda manchada. Quer ver?

Passado um bocado, o cliente voltou à carga:

- Um Porsche é muito bonito mas é sempre um carro complicado...

O Miguel voltou a concordar:

- Pois é. Vamos num Porsche na auto-estrada e se os tipos da BT nos vêem colam-se logo a nós, porque sabem que mais tarde ou mais cedo nos vão apanhar a mais de 150!

O interesse do cliente aumentava a par do (aparente) desinteresse de um bom vendedor, que manipulava com maestria todos os ingredientes do jogo psicológico do negócio, invertendo as bases do ditado “quem desdenha quer comprar” e subvertendo os princípios de um outro: “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”..

A técnica do meu amigo é tão boa que até está a ser copiado pelo Mário Lino no caso do Aeroporto Sá Carneiro.

Todos os aeroportos são da estatal ANA, cuja privatização em bloco (passando de monopólio publico para monopólio privado) é apontada como parte do financiamento de Alcochete.
Esvaziado de voos pela TAP que centralizou a sua operação na Portela (é por estas e por outras que a Portela está à beira da saturação), o aeroporto do Porto estava moribundo até que o investimento numa moderna gare o tornou atractivo. As low cost apaixonaram-se por ele. A Zara passou a usá-lo. A Lufthansa aumentou os voos, drenando passageiros do Norte e Galiza para o seu hub de Frankfurt.

Eleito melhor aeroporto da Europa, o Sá Carneiro tornou-se incontornável .- até para a TAP - e seduziu os privados. A Sonae e.a Soares da Costa puseram o dedo no ar. Sócrates desafiou-os a avançarem.

Quando tudo parecia bem encaminhado, é revelada na imprensa a existência de um estudo que declara o Sá Carneiro um mono, apenas viável mediante brutais e irrealistas aumentos das taxas e do número de passageiros.

Vi logo as impressões digitais de Mário Lino nesta notícias, plantadas pelo seu Ministério. Inteligente, o ministro copia a táctica do Vaqueiro e está a desvalorizar o produto, para melhor o vender.

Outra explicação não arranjo para o caso. Se o aeroporto do Porto fosse mesmo uma catástrofe, o fino do Mário Lino não arejava o estudo – punha-lhe o carimbo de Confidencial e arrumava-o no fundo de uma gaveta fechada à chaves. Não seria justo que o aeroporto de Lisboa perdesse competitividade por ter de aguentar o deficitário aeroporto do Porto, pois não?

Jorge Fiel
(In DN)

2 comentários:

  1. Meu caro Rui eu sei que o Post não é seu, mas sr. Ministro Jamé, esperto?...
    Um abraço

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  2. Caro Dragão,

    Faltam as aspas no "muito esperto", mas convenhamos que o Jamé é tão burro que as podemos bem dispensar. Creio que foi isso que o Jorge Fiel pensou quando escreveu o título do post. Ou, melhor, as aspas até estão lá, só não estão é bem colocadas.

    Abraço

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