06 abril, 2009

«Nós, na Europa»

Sou um português típico. Como já devem ter reparado, sou um tipo altamente sugestionável. Basta-me ouvir um qualquer bem falante [daqueles que têm o dom da palavra e se esforçam por parecer as pessoas mais sérias do mundo], que fico logo rendido à prosápia. Tivesse eu o dinheiro que a RTP nos rouba para nos atacar, como ataca a cidade do Porto, o PdC, e o FCP, e pagar-lhes-ia um balúrdio, mais do que já lhes paga, só para os ouvir e aprender qualquer coisa. Como não tenho, contento-me com o supremo prazer de os ouvir.
A propósito, não sei se já repararam nos painéis publicitários que começam a aparecer um pouco por toda a cidade a anunciar a bazófia politiqueira do costume. Se ainda não repararam, recomendo um, que me foi particularmente sensível. Era do PS, mas podia ser de outro partido qualquer. Tinha a fotografia do ex-comunista Vital Moreira, e dizia isto: "Nós, na Europa". Singelo e profundo, como exige um português típico como eu.
O que me ocorreu logo, talvez por culpa das minhas limitadas aptidões intelectuais [nem todos podem ser Pachecos Pereiras], foi um órgulhoso [o "ó" agudo, é para lhe dar um toque de cosmopolitismo e classe alfacinha] sentimento de pertença à Europa, esse nobre continente onde impera a sabedoria, a qualidade de vida, mas da qual Portugal nunca soube (ou quis) fazer parte no que ela tem de melhor. "Nós, na Europa"! Que requinte, que afirmação de esperança sublime! Assim, não resisto, fiquei rendido. Acho que já votei no PS antes mesmo de ir votar, e que até já me esqueci do cuspe que, através da televisão do Estado [e não só], tem lançado à cidade do Porto.
Depois, há outra coisa. Agora, começam a falar de Regionalização. E se falam, não pensemos que é por falar, ou por essa minudência da aproximação de eleições. Nem pensar, credo! É mesmo a sério, porque agora, estão determinados em ir para a frente com a reforma administrativa do território, nem que seja daqui a vinte anos! Mas, vão! E não comecem já a fazer perguntas disparatadas, a questionar porque é que estiveram estes anos no «poleiro» mudos e quedos, porque os afazeres são tantos que não sobra tempo para ninharias. Já nos esquecemos dos cansativos serões no Prós e Contras? Dos debates na SIC Notícias e na RTPN (éne de Notícias)? Já limpamos da memória os grandes problemas do país que ali foram resolvidos? Sejamos compreensivos, bolas, não pode haver tempo para tudo e um homem não é de ferro!
Está decidido, vou votar PS! Só mudo a decisão se o PSD ou outro qualquer partido conseguir ser mais original na propaganda política. Fica aqui prometido. Se descobrir um painel a dizer: "Um euromilhões para cada português", mudo imediatamente o sentido do meu voto. Pronto. Eu avisei que era um português típico, não avisei?

5 comentários:

  1. Acho que é "Nós, Europeus" - o que é ainda mais sublime, porque procura uma identificação / atributo comum. Parece coisa de sueco.

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  2. de sueco...hum, acho que está a ser pouco órgulhoso, ó Miguel. Já se esqueceu dos Descobrimentos?

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  3. 'Nós, Europeus' parece-me coisa de sueco ou belga.

    Antes de sermos Europeus devemos ser outra coisa qualquer, certo? Portugueses de certo somos, mas antes de o sermos devemos também ser também outra coisa qualquer.

    Quando a nossa população não conhece minimamente as suas raízes, se proclama Lusitano, pequena tribo do interior centro do País, não há identidade europeia possível.

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  4. eu estava a ironizar Miguel. Só posso é concordar com o que diz.

    Antes de ser portuense 'sou outra coisa qualquer', certo. Mas, antes de ser português, tenho a certeza que sou portuense.

    Aliás, se o Porto fosse (como é) uma Nação, é que devia chamar-se Portucale!

    'Nós europeus', ou 'Nós, na europa', vai dar ao mesmo.

    Um abraço

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  5. Somos portuenses e tripeiros, com muito gosto e sem complexos.
    Ah, e eu, adoro falar com sotaque à moda do Porto.

    Um abraço

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