Para surpresa de muitos, e para esvaziarem as dúvidas sobre as ficções criadas por alguns historiadores, seria interessante ler o que Camilo Castelo Branco escreveu sobre o mito chamado Marquês de Pombal. Entre outros "galanteios", Camilo dizia de Pombal o seguinte:
«Foi um espancador distinto e um estremado trocista. A sua mocidade agitou-se em tempestades que hoje chamaríamos canalhas e a polícia castigaria a espadeiradas. O seu intelecto não era acessível às ideias de Liberdade mental e política.»
Sobre o seu papel, no terramoto de 1755 que tão heroicamente a história tem propagado, Camilo escreveu isto:
«Pretendem convencer-nos de que sem Sebastião de Carvalho e Melo, a terça parte de Lisboa arrasada pelas convulsões e pelo incêndio, nunca mais se levantaria. Não fugiu de Lisboa? Nenhum dos seu colegas fugiu. De resto, ele ficou-se sentado, de luneta no olho a dar ordens, enquanto os frades e demais padres andavam pelos escombros procurando salvar os feridos e sepultar os mortos enquanto os fidalgos como D. João de Bragança Lafões e os filhos bastardos de D. João V recolhiam nos seu palácios e jardins centenas e até milhares de desgraçados, albergando-os e alimentando-os à sua custa, durante meses, coisa que ele não fez, pois não albergou nem alimentou ninguém no seu Palácio».
Só transcrevi estes trechos de Camilo sobre a figura do Marquês [havia imensos], para dar uma pequeno exemplo de como os historiadores, quando querem, subvertem o rumo dos acontecimentos e transformam um crápula num herói nacional. Isto para lembrar que neste momento preciso está a acontecer história que daqui a uns anos será também seguramente desvirtuada.
Foi essa trafulhice histórica que fez de Francisco Sá Carneiro um mito. Estivesse hoje ele vivo, presumivelmente, ou já nos teria decepcionado, ou já tinha sido silenciado pelos malandros do regime.
Com Mário Soares, apesar de algumas intervenções importantes na vida nacional, nomeadamente no contributo que deu à nossa integração europeia, vai acontecer o mesmo. Vão dizer dele muito mais do que aquilo que vale. Enquanto político e governador, foi o que se viu... Já há até alguns jornalistas a tratá-lo por "dinossauro", por "animal político", seja lá o que isso for na mente ficcionista desses analistas.
Estou farto desta política, deste folclore de fingidores com o qual nos "obrigam" a viver. Os debates, são meras discussões, simples manifestações de invejas e ambições pessoais. Nada do que dizem tem substância, nada é verdadeiramente sério. Já nem vontade tenho para os criticar. São simples animais, tenho de me conformar a deixá-los viver. Coitados.
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