«Sempre fui contra a Regionalização, porque não vai em nada beneficiar o país. É uma opinião pessoal e toda a gente conhece a minha posição sobre o assunto. Não é por causa de uma eleição que a vou mudar».
Estas palavras foram proferidas pelo monstro sagrado da imprensa nacional, Sua Exa. o Dr. Mário Soares, na cerimónia dedicada ao empresário do Norte Luís Portela, da Bial, e extraídas do semanário Grande Porto. Ora aqui está outro exemplar do visionário político.
O Dr. Mário Soares, tem um ar bonacheirão e de pessoa bondosa, mas já tem idade para perceber que há quem não se contente com as aparências e quem goze de boa memória. Começou por se enganar na nomenclatura do partido que ajudou a fundar, chamando-lhe socialista, coisa que verdadeiramente nunca foi. Primeiro logro. Depois, afundou-se nas contradições doutrinárias desse mesmo partido e nas suas. Pertence a uma casta de políticos que têm de si mesmo uma ideia de valor sobredimensionada. Um confortável sofá numa sala recheada de livros e os óculos a penderem-lhe do nariz são o cenário perfeito para representar o papel de grande estadista mas não chega para convencer alguns [como eu] que tudo o que diz faz lei.
Teria muito mais utilidade, se em lugar de se afirmar anti-regionalista fosse capaz de explicar como é que o Centralismo quase despótico praticado pelo seu partido [e pelo PSD/CDS], é forma de unificar um país e distribuir a riqueza nacional quando os resultados provam rigorosamente o contrário.
Mas, mais do que explicar, seria importante que fundamentasse alguma razão prestável para continuarmos a acreditar na descentralização que foi sempre prometida e nunca concretizada. Já lá vão 35 anos, sr. Mário Soares! Não lhe estou a falar de maturidade democrática porque isso daria pano para mangas, falo-lhe tão só de descentralização! Será capaz de nos informar quantas mais dezenas de anos [já vai para a 3ª], é que "nós" teremos de esperar até que os senhores políticos, classe à qual V. Exa. se orgulha de pertencer, se disponham a ser sérios e a respeitar os eleitores?
Pensando bem, depois de rebobinado o filme da história da sua actividade política, das suas amplas contradições, sou até capaz de acreditar na eventualidade de V. Exa. se ter constituído num péssimo exemplo para a actual classe política e para a boa saúde da própria democracia...
Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009
ResponderEliminarO Benfica-Sporting de domingo
Quando li um comentador de peso a comparar o duelo Sócrates/Ferreira Leite a um Benfica-Sporting, pensei logo: olha mais um que parou no tempo da Outra Senhora, em que os dois clubes de Lisboa alternavam os títulos à razão de três para os da Luz, um para os de Alvalade.
Mas depois do debate, dei por mim a pensar que a comparação afinal não era tão esfarrapada, e que o seu autor acertara, se calhar da mesma maneira involuntária que o relógio parado dá a hora certa duas vezes por dia. As palavras Porto, Norte e Regionalização não foram pronunciadas na única vez em que os dois candidatos a primeiro ministro estiveram frente a frente na televisão a disputarem os votos dos indecisos.
A bondade do TGV para Madrid foi esmiuçada, mas não se ouviu um pio sequer a propósito da linha Lisboa-Porto-Vigo, apesar dos estudos da firma britânica Steer Davies Gleave garantirem que ela não é só é viável mas também geradora de um benefício líquido superior a cinco mil milhões de euros. Na troca de argumentos desencadeada pela retórica retro anti-espanhola de Ferreira Leite, a única referência à linha para o Porto saiu da boca do ministro espanhol.
No Norte, o céu está mais carregado de nuvens do que no resto do país. Vivem aqui um milhão de pobres. Mais 300 mil que há três anos. A segunda região que mais contribui para a riqueza do país é mais pobre de Portugal – e uma das 30 mais pobres da Europa, ao lado de regiões romenas e búlgaras.
Apesar disso, nenhum dos candidatos achou que valia a pena desperdiçar o precioso tempo de antena do seu Benfica-Sporting televisivo a explicar como planeia combater a bolsa nortenha de pobreza e redistribuir de forma solidária a riqueza por todo o país.
Como portista e nortenho, olho para todos os Benfica-Sporting sem paixão, mas com interesses – prefiro sempre que perca o que ameaça mais perto a liderança do FC-Porto.
No Benfica-Sporting que se vai jogar no domingo é do interesse do Norte que perca quem se pronunciou contra a Regionalização e o TGV – e acha que “é preciso parar tudo porque não há dinheiro”, mas não incluiu nesse tudo o investimento de 2,5 mil milhões de euros na expansão do Metro de Lisboa nem a ruinosa compra de submarinos que nos fazem tanta falta como uma dor de dentes.
No Benfica-Sporting de domingo, o mal menor é que perca quem tem a mentalidade do espanhol dono de um cavalo que morreu após 15 dias de jejum forçado e se lamentou: “logo agora que ele se tinha habituado a viver sem comer é que morreu”. Domingo, é preciso evitar que ganhe a velha política do “pobretes mas alegretes”, que tem tanta possibilidade de ter sucesso como uma bailarina com uma perna de pau.
Jorge Fiel
Blogue Bussola
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias
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Gostava de ver o RValente, o Farinas e outros foristas comentar o ponto de vista do Nortenho e duplamente portuense Jorge Fiel, de forma descomplexada, pois parece me que há aqui alguma logica no seu texto.
Caro comentador anónimo,
ResponderEliminarCada um acredita no que, e, em quem quer. Eu, não penso como o Jorge Fiel, porque pura e simplesmente não acredito nesses dois "clubes". Nem "Benfica, nem Sporting".
Ambos já me aldrabaram. Não aldrabam mais. Pela minha parte, estão demitidos. Tudo o que de bom e mau possam fazer no futuro não é da minha responsabilidade. Se por acaso no futuro próximo se lembrarem de realizar obra [as tais coisas boas, a que não nos habituaram], então não poderei regozijar-me pelo meu contributo pessoal. Mas, como o resultado do trabalho de ambos os "clubes" tem sido um desastre para o país, e uma tremenda catástrofe para o Porto, prefiro não correr o risco de ser co-responsável por cometer o mesmo erro várias vezes.
"Desafiado" para comentar o texto do Jorge Fiel,aí vai.
ResponderEliminarGosto muito de ler o JF,e neste caso acho muito pertinentes as considerações que faz sobre o hipotético Sporting-Benfica. De acordo quanto ao facto de lamentar que os problemas do Norte e respectivas propostas de solução para acabar com esta bolsa de pobreza,não tenham sido sequer aflorados nos debates da TV,como se fosse um detalhe sem importancia. Ausente também do debate qualquer menção à necessidade de tornar mais justa a distribuição geográfica da riqueza nacional. Até aqui,de acordo com JF,mas no final do texto a opção que ele faz a favor de um dos dois partidos,é opção pessoal, respeitável,mas está a mais no texto,não tem nada a ver com o que está escrito para tráz. Pessoalmente estou de acordo com o Rui Valente,não acredito em nenhum dos dois "clubes".
Uma das mais prementes razões para a implementação da Regionalização, passa pela criação dos círculos uninominais. Essa, e a limitação dos mandatos, de forma a acabar com essa rentável carreira de "político".
ResponderEliminarDe alguns nunca lhes conheci nenhuma outra ocupação, que não fosse "representar" franjas da população. Por isso assisto perplexo às suas "candidaturas" pelo meu distrito. Já tenho visto o PS propor gente do Alentejo. Por isso compreendo o anti-regionalismo do senhor Soares...