23 outubro, 2009

O povo é sereno

Optimismo, positivismo, confiança, sentido de humor, são tudo adjectivações bem intencionadas muito exploradas actualmente nos meios de comunicação social que, na maior parte das vezes nos é servido sem se ter em conta o mais importante, que é o carácter e o factor sócio-económico do indivíduo.
Especialistas no assunto como psicólogos, psiquiatras e sociólogos, pecam frequentemente por associar o pessimismo de certos indivíduos a questões de índole temperamental ou genética. Estabelecem comparações entre optimistas e pessimistas com as diferentes posturas perante os problemas sem considerar o carácter específico de cada um. O temperamento, não espelha o carácter do indivíduo, e enganam amiúde as análises por aparente contradição. Não é incomum termos conhecimento de crimes hediondos cometidos por homens simples e muito calmos, e actos altamente altruístas praticados por pessoas com aparente mau feitio e nervosas.
Assim, é importante não levar demasiado à letra os depoimentos de alguns desses experts, porque tal como José Saramago nos vem dando respeitáveis testemunhos, nem sempre o que é convencional corresponde a verdades incontestáveis. Cristianismo, budismo, e outras crenças, são religiões sustentadas pela mesma fé, mas em ícones diferentes. Nada mais há de substancial a distinguí-los. É por todas estas "confusões" que, por precaução intelectual, resisto sem dificuldade à popularice unanimista de qualquer fenómeno mediático.
Hoje, anda meio mundo paranóico com o sentido de humor dos Gatos Fedorentos. Eles até têm algum talento, reconheça-se, mas a comunicação social faz o resto. E não é pouco. Abre-lhes as portas de par em par, seguros do público-alvo que pretendem atingir [o grupo é constituído por 3 "bons chefes de família" benfiquistas e 1 sportinguista]. Depois, é a bandalhice travestida de humor e, the show must go on! É este tipo de visibilidade que as figuras públicas mais apreciam, como aliás reconheceu [distraído] o próprio Marcelo Rebêlo de Sousa fugindo-lhe a boca para a verdade ao confessar que estar ali [no programa], era já uma manifestação de poder, e que era por isso que eles [referindo-se aos "da sua" classe política], gostam tanto de cá vir...
E teremos nós dúvidas? Basta ver o esforço que todos fazem por parecerem pessoas bem humoradas [cá está o tal optimismo], risonhas, normais enfim! Enquanto isso, o povão vai sendo dopado sem ter disso consciência, esquecendo quão longo é um mês para salários tão curtos, e até se convencendo que aquilo que lhe é dado ver através das tv's faz parte da Democracia. Dixotes de soberba e arrogância, alusivas ao «glorioso» raramente são dispensados, como que a tentar convencer o Portugal profundo que falar do Benfica é uma espécie de Padre Nosso abençoado e angustiantemente desejado.
O «povo» fica feliz, os políticos agradecem. Chegados a suas casas, deitam-se e dormem com a certeza de que o futuro é promissor. Os obstáculos que os esperam serão facilmente transponíveis...
Como diria o falecido almirante Pinheiro de Azevedo profetizando o que viria a constatar-se 26 anos após a sua morte: o povo é sereno! Sereno demais, até. Sobretudo a Norte.

1 comentário:

  1. Completamente de acordo, mas vou mais longe: ninguém questiona a desonestidade intelectual dos fedorentos, que para manterem o público fiel - os tais três quartos de benfiquistas que o Rui refere -, não se atrevem a tocar no Benfica - apesar daquilo ser um manancial de humor, desde o presidente até ao treinador -, mas gostam muito de fazer humor, às vezes sujo, com Pinto da Costa.

    Um abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...