06 outubro, 2009

A visão socrática do desenvolvimento económico

Pertenço ao grupo daqueles que acham que o clamor "politicamente correcto" contra o "betão" (assim mesmo , genericamente) é ridículo e acéfalo a menos que se pretenda que passássemos a habitar em grutas ou barracas de colmo. Do mesmo modo, a afirmação de que já temos estradas que cheguem e não precisamos de mais, merece-me total desacordo. Especialmente a norte do Mondego, há enormes áreas com dezenas de concelhos e um par de centenas de milhar de habitantes que circulam na rede de estradas de Fontes Pereira de Melo, isto é, numa rede com perto de dois séculos. Quem pretende que já não há necessidade de novas estradas é primeiramente ignorante e seguidamente é desonesto porque está a falar utilizando argumentos falsos. É também colonialista porque está implicitamente a desprezar todos os muitos portugueses que continuam a não usufruir de vias de comunicação com um mínimo de qualidade.

Esta declaração de princípios ajuda a entender o meu espanto e incredulidade quando vi na imprensa o anúncio do concurso da "Subconcessão Auto-Estradas do Centro", acompanhado do respectivo mapa geográfico para maior clareza. Por incrível que pareça, o Estado prepara-se para que haja três(!) auto-estradas próximas de Coimbra em direcção ao norte, sendo que o presente concurso já levará a terceira auto-estrada até Oliveira de Azemeis. Já não bastava a quase coincidência do traçado entre a A1 e a A29, sobretudo de Ovar para sul (há zonas em que seguramente estão afastadas não mais de 1Km! ). Vem agora a A32 juntar-se a elas, com um traçado bem próximo. Para aumentar a loucura e o esbanjamento de dinheiro, verifica-se que o aglomerado Viseu/Mangualde (afastados não mais de 12Km entre si) passará a ter duas auto-estradas paralelas em direcção a Coimbra! E se adicionalmente tomarmos em consideração a A17, A14 e A35, e mais uns quantos IP's, vemos nessa pequena área da Beira uma rede de auto-estradas que provavelmente não tem paralelo na Europa, excepto talvez no industrialíssimo Rhur alemão.

Não sei de que cérebros saiu esta orgia de auto-estradas, se do governo actual ou de governos anteriores, mas o facto é que é o governo Sócrates que dá a benção ao programa, através do lançamento do concurso. Tudo isto tem aspecto de ser um frete aos grandes empreiteiros e aos bancos que os vão financiar.

Nem o facto de eventualmente se argumentar que estas novas vias serão financiadas pelo vencedor do concurso, me inibe de considerar que esta obra é megalómana e que os recursos aplicados nestes exageros teriam melhor retorno, económico e sobretudo social, noutras finalidades, mesmo se exclusivamente empregues em vias de comunicação onde elas são realmente necessárias.

3 comentários:

  1. Clarificador e simultaneamente preocupante. Realmente tenho cada vez mais vergonha de pertencer a esta republica...
    Que pobreza de governantes, que tristeza por esta carneirada que tudo come e não se revolta...

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  2. Penso que esqueceu um dos principais motivos de tanta auto-estrada: fazer "à força" de Coimbra a desejada "capital" de uma região "centro" que não existe, afastando do Norte Oliveira de Azeméis, Viseu e outras terras dessa região. Enquanto muitas pessoas não têm estrada ou é muito estreita e má à sua porta, Coimbra quer outra porque a A-17 fica-lhe mais longe. Depois deste troço virá o do Pinhal Interior, ligando-a a Tomar e depois outros troços.
    Três auto-estradas tão próximas só de gente que não sabe o que faz. Melhorem os comboios, construam novas linhas, não acabem com a do Tua e haverá menos carros nas auto-estradas.

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  3. Mas assim foi reeleito. Infelizmente, o burro não é ele...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...