É pena que os jornalistas do Norte [principalmente, esses] toquem no tema da regionalização quando o rei faz anos e mesmo assim de forma muito subtil. Ter um jornalista ou um jornal do Norte hoje, não quer propriamente dizer que os nortenhos tenham uma mais valia mediática a defender a sua região. O medo do patrão, do homem da massa, a obediência cega aos critérios de venda de papel impresso, domina-os, tornando-os criaturas pouco mais que anódinas com um peso irrelevante para a região de onde são originários.
O director do JN José Leite Pereira, quase sempre politicamente correcto e discreto, decidiu hoje dar o tal salto de ousadia e escrever sobre a regionalização. Assim, passa mais despercebido e sempre torna mais difícil à entidade patronal vir a acusá-lo de influenciar o eleitorado a Norte e de lhe estar a roubar clientes [vendas] a Sul, nessa magnânima metrópole chamada Lisboa [e arredores].
Foi - segundo o próprio escreve -, um programa, eufemisticamente chamado desportivo, da TVI, que funcionou como mola para o seu artigo de hoje. O cirurgião Eduardo Barroso, como o mais bacôco provinciano, convencido e politicamente analfabeto, foi essa mola encorajadora, o que não é motivo para espanto, dada a sua mentalidade bronca e profundadamente desonesta. Fala sempre com o rei na barriga, como um autêntico centralista que raramente resiste a um auto-elogio. Gosta de falar das viagens que faz, dos congressos para os quais é supostamente convidado na tentativa de impressionar as audiências com as asneiras que lhe saem pela boca ao mesmo ritmo dos perdigôtos.
O argumento que Barroso apresentou para defender o centralismo [sim, porque quem não defende a Regionalização depois de tantos anos macrocéfalos de centralização, só pode ser centralista], foi a frase esgotada do país "ser demasiado pequeno" para regionalizar. Então, deu o exemplo de Pequim e Xangai [de onde o grande parolo, acabara de chegar], cidades - disse ele - com milhões de pessoas onde, pelos vistos, ninguém liga a isso da regionalização.
É fácil deduzir que Eduardo Barroso terá permanecido nessas cidades tempo suficiente para contactar com as populações e retirar tão categóricas conclusões. Conclusões essas que lhe devem ter dado a volta aos miolos, já não muito esclarecidos, a ponto de se esquecer que o partido da simpatia dos Barroso e dos Soares [o PS] , passou décadas a convencernos que os povos desses países não gozavam de liberdade de expressão ou sequer eram democráticos... Dá para retirar dúvidas sobre a lucidez do cirurgião lisboeta que mais parece a de um batoteiro viciado em pocker.
Ora, como não tenho já paciência para o ouvir nem mesmo para ver o programa, onde o "nosso" Pôncio Monteiro acusa as mazelas deixadas por um recente AVC e já não dá a luta de outros tempos, não é a pérola do Barroso quem mais me desgosta.
O que de facto me continua a desgostar é que o JN se tenha tornado num jornal híbrido sem grandes sinais de raízes, a pretexto de ter de escrever [como eles costumam dizer] para o Mundo. Há Eduardos Barrosos por todo o lado, mesmo por aqui. No entanto, só quando o rei faz anos se lembram de lhes puxar as orelhas.
Ó Rui, não ligue ao Barroso que ele a partir de certas horas já não diz o sabe nem sabe o que diz...
ResponderEliminarUm abraço
Caro Rui Valente,
ResponderEliminarpor acaso também li esse editorial do JLP e nem de propósito que me veio à ideia tudo isto que escreveu e com prazer o leio e subscrevo na totalidade. Quer quanto ao pobre do Barroso, que pode ser uma sumidade no tratamento do fígado mas tem maus fígados e péssimos instintos em tudo o resto. Quer quanto ao pobre do director do JN, ele e o jornal a imagem um do outro, insípidos e desenraizados.
Quinta-feira, 8 de Outubro de 2009
ResponderEliminarEu, portuense, ando triste
Os meus amigos de Lisboa ficam surpreendidos por lhes sugerir a Pousada da Juventude quando me perguntam onde devem ficar quando vêm ao Porto. Ao contrário do que o nome indica (e a generalidade das pessoas pensa), as Pousadas de Juventude estão abertas a clientela de todas as idades. E a pousada do Porto está num local magnífico, com uma vista deslumbrante do Douro e a sua foz.
Tenho formatada uma lista de recomendações para os meus amigos que visitam o Porto. Para a experiência francesinha, acompanhada por um príncipe e antecedida de um rissol de carne, aconselho o Capa Negra, no Campo Alegre.
Na Baixa, além dos incontornáveis Majestic e Lello – que se não são o café e a livraria mais bonitos do mundo pelo menos andam por lá perto -, acho imprescindível um passeio a bordo do eléctrico 22, do Carmo até à Batalha, complementado pela descida de funicular até à Ribeira, onde só tem a ganhar se visitar o Palácio da Bolsa (o Salão Árabe é de cortar a respiração) a atravessar a pé o tabuleiro inferior da ponte Luiz I, não se esquecendo de olhar para montante e apreciar devidamente a elegância da ponte D. Maria, uma jóia de Eiffel.
As melhores vistas panorâmicas do Porto obtêm-se a partir de Gaia. As minhas preferidas são as das esplanadas do Bogani (Cais de Gaia) e do Arrábida Shopping. Já que está na margem esquerda, não perde nada se visitar umas caves de Vinho do Porto. É um cliché turístico, mas vale a pena.
Com partida da Ribeira (onde tem a opção de embarcar num cruzeiro pelas seis pontes), junto à igreja de S. Francisco (aquela que tem o interior revestido a ouro), o eléctrico 1 percorre a marginal fluvial. Depois, a partir do Jardim do Passeio Alegre, o melhor é mesmo seguir a pé, ao nível das praias, parar a meio numa esplanada, passar o Castelo do Queijo chegar à frente marítima do Parque da Cidade e olhar a fantástica Anémona que assinala a entrada em Matosinhos.
Se os meus amigos vêm com tempo contado e não podem fazer o programa completo, eu não os deixo partir sem verem os três mais recentes tesouros que enriqueceram a cidade nos anos de viragem do século. Vir ao Porto e não visitar Serralves, ver a Casa da Música e ir de metro até ao Dragão é muito mais grave do que ir a Roma e não ver o papa.
É por isso que eu, portuense, fico triste por ter um presidente da Câmara que nunca pôs os pés no Dragão, só foi uma vez a Serralves (e porque o Fernando Lanhas o foi buscar aos Paços do Concelho e o obrigou a visitar a exposição dele) e não frequenta a Casa da Música – apesar de morar ali ao lado, a menos de cinco minutos a pé. O Porto merece melhor.
Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje publicada no Diário de Notícias