18 dezembro, 2009

Como se diz querer o que não se quer

João Baptista Magalhães [mestre em Filosofia da Ciência], escreveu hoje no semanário Grande Porto um artigo sob o título "Regionalizar para quem", onde levantava questões pertinentes acerca do tema, mas de alguma forma um tanto requentadas.
Os dois primeiros parágrafos da sua crónica diziam isto: «Todos sentimos que é necessário dar expressão às identidades regionais, simplificar e racionalizar a administração pública, corrigir assimetrias.
Mas, como se conseguirão estes objectivos se os directórios partidários têm uma vocação para o domínio, a centralização e o aumento da homogeneidade?!...»
Mais adiante, justifica: «sem uma reforma dos partidos que abra espaço à liberdade dos eleitores na escolha dos seus representantes, que dê ao eleitor a capacidade de escolher não só o seu partido, mas também os candidatos que prefere na lista que lhe apresentam, a regionalização reproduzirá os vícios do centralismo.»
Qualquer portuense sensato e sem interesses ou cumplicidades com o Poder Central, tenderá a concordar com o diagnóstico deste senhor porque é óbvio e correcto, mas já terá dificuldade em compreender o que propõe para a cura. Limita-se a dar como garantida e inevitável a transferência do caciquismo central para o regional propondo um conjunto de processos de intenção conducentes à «criação de condições institucionais necessárias à descentralização...»
Este tipo de argumentação, lembra-me o condutor que consegue levar o carro direitinho até um determinado ponto e que depois, inesperadamente, se despista e o deixa embater contra qualquer obstáculo, por não ser capaz de perceber ao que levam os desvios, ou as "distracções".
Uma das justificações de João B. Magalhães para desvalorizar a Regionalização é «não haver em Portugal, como em Espanha, uma questão de direito de sangue ou de direito de solo.» . Confesso que não sei exactamente onde quer chegar este senhor com direito de solo e de sangue, mas presumo que a ideia esteja relacionada com a ausência em Portugal de movimentos nacionalistas ou étnicos. Se fôr esse o caso, só pode compreender-se estas infelizes afirmações à luz de alguém que não tem a menor noção da revolta silenciosa que germina na alma e na cabeça da população nortenha, principalmente na do Porto, pela peso histórico que esta cidade arrasta atrás de si e principalmente pelo profundo desprezo que o Poder Central lhe tem votado. É a opinião de alguém que vê o Porto através do seu umbigo.
Só é possível usar tanta ambiguidade argumentativa, ignorando propositadamente o outro lado da moeda regionalista, ou seja, o sucesso que ela gerou em Espanha e, sobretudo, os 35 anos de promessas incumpridas de descentralização de todos os governos, até hoje. Falar da necessidade de uma cultura de mérito e de poder menos oligárquico sem apontar soluções realistas e rápidas para exterminar da sociedade uma classe política que se reconhece «ter-se profissionalizado na lábia em vez do estudo dos problemas, nos jogos de simulação», é tapar o sol com a peneira. É dizer: isto, está tudo mal, mas há-de um dia ficar bem. Quando, senhor João Magalhães? Daqui a 35, 70, 135 anos? Qual é o seu prazo de tolerância?
Pessoalmente, tenho boas razões para ficar optimista. É que o nobilíssimo 1º. Ministro disse [ele disse, ah?!] que, vai começar a discutir a Regionalização, mas com calma [sem compromissos de prazos], porque não há razões para pressas. Até já pôs condições: só se forem as 5 regiões! Já é um progresso... O que me vale a mim, é que acredito tanto no que este homem diz como no preclaro advogado João Vale e Azevedo. São da mesma igualha.

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