08 março, 2010

Oportunidade

O que pode parecer uma ameaça pode ser transformado numa oportunidade. Este abandonar definitivo dos projectos de linhas de “tgv” que têm o Porto como origem/destino deve ser transformado numa oportunidade para pôr em causa todo este processo e abandonar definitivamente o que foi projectado até aqui. Incluindo, obviamente, a Ligação Lisboa-Badajoz sob pena de a Norte se ter de enveredar pela desobediência civil para não termos de pagar uma ligação ferroviária absurda que não serve mais de metade de Portugal. Esta ameaça deve ser claramente feita pelas forças vivas desta Região. Não estamos em condições de pagar, com o nosso dinheiro, o nosso sacrifício, e a insustentabilidade do nível de vida das nossas gerações futuras, uma ligação ferroviária que nos exclui.
O processo deve retornar à estaca zero. Um verdadeiro Plano Estratégico Ferroviário deve ser pensado e formulado de acordo com os seguintes objectivos essenciais:
  • 1- Mudança de bitola das nossas vias férreas, da ibérica para a europeia, de modo a que no futuro (já não muito longínquo) não corramos o risco de ficar ferroviariamente isolados do mundo.
  • 2- Revitalizar a nossa rede clássica desenvolvendo principalmente as ligações inter-regionais com particular incidência nas regiões mais densamente povoadas, e.g., o Entre-Douro-e-Minho e Região Centro, para desincentivar o uso exagerado do automóvel em distâncias até 150 km.
  • 3- Reformular a rede, dando-lhe uma configuração em malha, para que todas as capitais de distrito se encontrem ligadas entre si, na menor distância temporal possível, principalmente as que se inserem na mesma região.
  • 4- Todas as actuais linhas e as novas a construir devem ser projectadas para tráfego misto de mercadorias e passageiros.
  • 5- Transformar a rede ferroviária numa importante alavanca para a competitividade da indústria turística. Quem chega ao aeroporto do Porto deve fácil e rapidamente poder chegar, usando o comboio, ao Douro, a Braga, a Guimarães, a Barcelos, a Viana do Castelo, e, inclusivamente, a Santiago de Compostela. Para isso o Aeroporto Francisco Sá Carneiro deve ser ligado à rede ferroviária clássica anulando o missing link de apenas 2,5 km que obsta a que isso seja já hoje uma realidade. A reformulação do traçado, e do sistema de exploração da linha litoral algarvia, para parâmetros modernos e eficientes, deve ser levado a cabo. A Linha do Douro e os seus ramais, até Salamanca, deve ser considerada como de fundamental importância estratégica para o desenvolvimento da emergente indústria turística desta região que tem crescido continua e sustentadamente nos últimos anos.
  • 6- As ligações internacionais, desde já em bitola europeia, devem ter como objectivo prioritário facilitar o tráfego de mercadorias e ligar as regiões portuguesas mais exportadoras ao nó logístico de Salamanca - Medina Del Campo - Valladolid.
  • 7- Estruturar ferroviariamente a mega região que vai da Corunha a Setúbal com uma linha de altas prestações, sendo a sua velocidade adequada aos objectivos e condicionalismos pontuais. Uma velocidade média de percurso na casa dos 200 km/h parece-nos ideal.
  • 8- Modernizar as outras ligações a Espanha actualmente existentes, elevando-as para patamares modernos e consentâneos com as exigências dos nossos dias.

Em resumo, deve-se projectar uma rede ferroviária moderna, de altas prestações, com velocidades adequadas caso a caso, que seja uma alavanca para a competitividade da economia nacional e para a coesão territorial. Deve-se deixar definitivamente de falar em “tgv’s” e ligações megalómanas e caríssimas, que servem apenas a vaidade insana duma capital que se julga ainda com um império mas não tem onde cair morta, e os interesses estratégicos do estado espanhol que, legitimamente, os promove, mas que não são definitivamente os nossos. Estas megalomanias, sem mercado que as sustentem, porão em causa o futuro daqueles portugueses que hoje ainda não têm capacidade de decisão e que serão onerados para toda a vida com uma dívida gigantesca que a estupidez dos seus pais e avós gerou.

10 comentários:

  1. Galiza quer comissão para coordenar estratégias dos aeroportos do Noroeste Peninsular

    É o maior aeroporto do Noroeste peninsular, aquele que na região transporta o maior número de passageiros, aquele que em Portugal, no ano passado, perdeu menos clientes, e aquele que recentemente foi considerado o terceiro melhor da Europa na qualidade até cinco milhões de passageiros. Espanha e, mais concretamente, a Galiza rendeu-se ao Sá Carneiro: não o olha como um concorrente, mas sim como um parceiro na estratégia de potenciar o turismo nesta euro-região.

    A ideia de criar um comité de desenvolvimento de rotas aéreas e a adopção de uma sigla comum aos três aeroportos galegos (Vigo, Corunha e Santiago de Compostela), de forma a criar uma infra-estrutura aeroportuária única com três terminais foi a primeira reacção espanhola à “liderança imbatível” do aeroporto de Pedras Rubras. “É importante que haja uma cooperação entre os três. Estamos a cerca de uma hora do aeroporto do Porto, que tem mais de 40 voos de ligação directa para todo o mundo, o que não acontece com Vigo e Corunha. Portanto, não temos que competir, temos que ser complementares”, defendeu o presidente do Turismo de Rías Baixas, José Manuel Figueroa, em declarações ao GRANDE PORTO, anunciando ainda que o organismo ao qual preside vai instalar no Sá Carneiro um balcão para promover a Galiza.

    Agora, a Galiza quer ir mais longe e propor a Portugal a criação de uma “estrutura política, económica e empresarial para afirmar uma política comum, de forma a coordenar as estratégias entre os quatro aeroportos”.

    “É essencial que nos possamos coordenar entre todos, para que cada um não vá para o seu lado. O Norte de Portugal e a Galiza têm todo o interesse em potenciar a liderança do aeroporto do Porto. Seria um passo importantíssimo para o relançamento desta euro-região”, afirma José Manuel Figueroa, reconhecendo que a “falta de uma voz política da região do Norte do país”, dificulta “obviamente o diálogo com Portugal”.

    Para o também vice-presidente da província de Pontevedra, uma das quatro em que se divide a Galiza, “é um erro insistir numa política dominada por localismos” e por isso “há que ampliar fronteiras, actuar de uma maneira global e pensar que nesta região vivem sete milhões de habitantes”.

    “Devíamos estar mais coordenados”

    Uma posição que é corroborada pelo alcaide de Baiona, Jesús Vázquez Almuiña, que defende uma coordenação também ao nível das câmaras. “A união e a colaboração entre aeroportos e câmaras é fundamental. O lógico seria que estivéssemos mais coordenados. Devemos colaborar em tudo, sobretudo no sector do turismo. Se chegam turistas da América ao Porto ou a Santiago de Compostela, queremos que cheguem a Baiona ou a Vigo”.
    Grande Porto

    ResponderEliminar
  2. Caro amigo,

    o seu post, mesmo para um leigo em ferrovias, faz sentido, está bem estruturado e é realista.

    Mas, sabe, receio bem que para a camioneta dos "governados" que temos, seja areia a mais.

    ResponderEliminar
  3. Portugal nunca teve uma boa rede de caminhos de ferro. Talvez seja um dos motivos pelos quais os portugueses são tão alérgicos a viajar por esse meio. Acresce sermos um país de motorização recente, e em consequência muita gente considerar o CF como um meio antiquado de viajar. O bom , o moderno, é o automóvel! Daí eu pensar que um Plano com vias férreas modernas cobrindo todo o país, talvez fosse um fracasso económico. Tirando este detalhe, penso que as considerações do António Alves fazem todo o sentido.
    Não tenho conhecimentos nem informação para poder apreciar as consequências do adiamento sine die da linha Porto-Vigo,mas tenho o sentimento que serão gravosas para a economia regional. De uma coisa, no entanto,
    tenho a certeza:mais uma vez, para não variar, corta-se o investimento no Norte emquanto em Lisboa "segue o baile"! E porque ninguém de peso vai protestar e tomar uma atitude, nem haverá "protestos cívicos", ficaremos assim mesmo, ruminando na nossa habitual passividade bovina...
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. É um bom texto com ideias coerentes.
    Mas é discussão q cai em saco roto, pq o que vai haver é TGV Madrid-Lisboa e nós vamos ficar com o que temos, com obrita a mais ou a menos.
    É que se continuamos a deixar que estas poucas vergonhas passem em claro com a nossa boa vontade e com ideias coerentes que em Lx ng quer saber pq sao coisas dos "provincianos", vamos continuar a ser comidos "de cebolada".
    Esta pouca vergonha que se está a passar com o adiamento do "TGV" Porto-Lisboa-Vigo e a continuação sem adiamentos de todas as megalomanias Lisboetas (vulgo TTT, TGV, NAL) não pode passar em claro e sem uma clara manifestação de desagrado e de pulso firme dos dirigentes nortenhos.
    Espero bem que o Metro n seja afectado e que o AFSC n seja entregue no mesmo saco que o NAL (tendo em conta o historial deste governo estou mais que certo que vai ser oferecido em bandeja para pagar o elefante lisboeta).
    Isto representa mais uma machadada na já semi-defunta economia e competitividade da região, em claro benefício da capital. É que já se faz tudo às claras e sem deixar dúvidas...

    Armando Peixoto

    ResponderEliminar
  5. Rui Farinas,

    está a ser "injusto". O Rui Rio já se manifestou sobre o assunto, lá para a RTPN profunda,em horário pobre [não é nobre] miando baixinho, como convém, para não acordar os amiguinhos em Lisboa.

    ResponderEliminar
  6. Caro Rui Valente, concordo consigo. O Rui Rio só fala emquanto o governo for do PS. Quando era do PSD, o nosso estimado presidente da câmara calava-se e dizia apenas que "estes assuntos não se tratam em público mas sim no recato dos gabinetes".Deixe o governo voltar para o PSD, a ver se ele não se cala de novo!

    ResponderEliminar
  7. O que é fundamental concluir, independentemente de tudo o que se possa dizer sobre os C.Ferro, é que mais uma vez, quando foi preciso cortar, os mesmos de sempre é que ficaram a ver navios.

    Rio, mas o Rio Douro fala?

    Um abraço

    ResponderEliminar
  8. «Daí eu pensar que um Plano com vias férreas modernas cobrindo todo o país, talvez fosse um fracasso económico»

    Caro Rui Farinas,

    Permita-me discordar.Dou-lhe como exemplos a CP Porto e os Alfa Pendular. A CP Porto, embora não seja (ainda) um sucesso financeiro, porque este tipo de serviço (comboios urbanos)é obrigatoriamente subsidiado para que os preços sejam acessíveis a todos, é um bom exemplo de sucesso após ter recebido modernas automotoras e ter reformulado a sua operação. Tem crescido sustentadamente todos os anos. O Alfa Pendular, esse, é mesmo um sucesso financeiro. Infelizmente o único na CP. Ambos os exemplos provam que quando o produto corresponde aos desejos e expectativas dos consumidores estes aderem.

    ResponderEliminar
  9. Caro António Alves, só posso concordar com o seu comentário. No entanto a dúvida que exprimi referia-se ao retorno de um investimento em linhas modernas (bitola europeia) apenas em regiões pouco habitadas do interior. Mas claro que se trata duma opinião meramente académica, pois não tenho as informações necessárias, mas a dúvida mantem-se. Um abraço.

    ResponderEliminar
  10. António Alves, não acredito na reacção de ninguém: esta urbe está doente, as suas pessoas gastaram as energias na luta do Coliseu...
    Mas na ausência de Homens do Porto (à parte Rui Moreira), só há uma saída: desobediência civil e até mesmo à destruição dos obeliscos centralizadores, como o governo civil ou mesmo a ocupação da câmara para correr com aquele coveiro do Rio que afinal é um aliado de Sócrates no centralismo e no esmagamento da nossa urbe, da nossa região. Estou farto de promessas e consciente da realidade. Já disse mesmo que algum doente terminal que queira ficar na história como libertador tem muitos biltres para escolher, muitos símbolos centralistas para escolher. Eu estou, como vê, farto de esperar. Quero acção e o sangue a correr debaixo das pontes começa a fazer falta.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...