07 maio, 2010

Gestores

Que me desculpem os economistas, mas ficará muito mal o Mundo se o entregarmos exclusivamente nas suas mãos. E cá estamos nós outra vez no aparente papel de calimeros. Vistas as coisas pela superficialidade parece que não sabemos fazer mais nada senão criticar. Sabemos sim. Sabemos e gostámos de questionar certos factos paradoxais para os entendermos.

Aqui vai mais um:
a exorbitância das remunerações pagas a gestores públicos e a respectiva relação mérito/benefício.

Depois de ler no Diário Económico as declarações do Presidente da Portugal Telecom [PT] fiquei sem saber com que mais me preocupar. Se com a entrevista em si mesmo, ou com Henrique Granadeiro, o entrevistado. Leiam estas pérolas:

"Aumento de impostos e do desemprego são inevitáveis", 
"Somos capazes de fazer grandes coisas na modernização da administração, mas o problema é que não paramos de crescer em termos de número de funcionários",  
"As tecnologias são inimigas do emprego indiferenciado. Isto não vai lá com paninhos quentes",
"Dos 12 mil funcionários que trabalham para a PT em Portugal, 4 mil são excedentários"

Vamos lá a ver. Se este cavalheiro afirma tais redundâncias o que é que o impediu de as evitar? Não é  também por isso, e para isso, que é principescamente pago? Por que é que estas pessoas teimam em se considerar merecedoras de remunerações milionárias se afinal não dão conta do recado? Se não são capazes de fazer previsões e agir atempadamente de forma a impedir o colapso das vidas de tanta gente?

O entrevistador não foi capaz, por exemplo, de lhe colocar uma pergunta muito simples, que era a seguinte: senhor Presidente, se as tecnologias são inimigas do emprego indiferenciado, serão elas necessárias? Por outras palavras. Em certos casos, o desenvolvimento tecnológico é, ou não, incompatível com o bem estar do Homem? Se a descoberta de uma máquina multifuncional implica o despedimento colectivo de milhares de pessoas que benefício terá ela para o Homem? Porque é que o "passo" tem de ser maior do que a "perna" se o destino é o precipício?

Continuamos a dar lastro a um conceito distorcido do progresso. O progresso tem de pressupor benefícios maiores que as perdas, senão já não é progresso, é oportunismo ou ganância. E é isto que os gestores jamais entenderão, se não houver um mecanismo legal que a tal os obrigue. 

Enquanto preservarmos esta mentalidade estupidamente conservadora, não aprendermos a colocar novas questões e insistirmos em beber informações em fontes poluídas, tudo permanecerá igual, passaremos o tempo a queixarmo-nos da doença, sem desejarmos verdadeiramente a cura.

A governabilidade do Mundo está cada vez mais insustentável, há responsáveis sem responsabilidade, e contudo, os media, continuam a recorrer aos autores do crime para saberem onde pára o bandido.

3 comentários:

  1. A forma ligeira como falam, o desprezo com que abordam os problemas das pessoas, fazem-me uma grande confusão e levam-me a pensar se isto alguma vez vai lá sem ser à força...


    Sobre os 4000 a mais na PT, são os boys, rosas e laranjas...

    Um abraço

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  2. Eu gostava de saber como é que um excelente e moderno gestor contrata 33% de pessoas a mais.
    Gostava mesmo.

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  3. Impressiona é a credibilidade que a comunicação social lhes dá.

    Parece haver um secreto pacto de estupidez entre uns e outros.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...