A "Economist" dizia há um mês que vivemos uma era de "Capitalismo de Estado", onde governos pouco democráticos impõem o "bem comum". É assim na China, Rússia, Coreia do Sul, Índia, Malásia, Venezuela, mas também é assim no nosso vizinho Marrocos onde a família real privatizou as empresas públicas e comprou a maioria das ações para si ao preço que ela própria fixou - e agora obstaculiza a concorrência. É igualmente assim na Turquia, no Médio Oriente e nos países da "Primavera Árabe". Um dia veremos no que vai acabar a crescente espiral oligárquica brasileira e quem vai pagar a dívida dos grandes eventos.
Embora se diga que a crise é económica, sabe-se hoje que não é exatamente assim. A crise nasceu duma coisa simples: rutura na confiança, o que significa falência da ética e da justiça. A quebra destes princípios rompe diariamente o "contrato social". Por um lado, os cidadãos deixam de receber os seus direitos porque a realidade das contas mostra o cofre vazio. Por outro, os contratos entre grandes empresas e Estado são invioláveis. Qual das coisas está certa? Entretanto, as pessoas querem mais Estado para as proteger mas não estão dispostas a pagar mais impostos. Quem faz então o milagre da multiplicação dos euros? Muitas destas perguntas levam-nos a discutir política, essa palavra maldita, que quanto mais se repete mais se detesta. Mas é aqui que estamos outra vez. No princípio. Na ideologia ou na sua ausência.
Por cá não foi tão óbvio este "Capitalismo de Estado", mas por incrível que pareça começou nas privatizações de Cavaco para acabar nos interesses irrevogáveis dos grupos económicos protegidos de Sócrates. Mercado? Preferencialmente com grupos amigos.
O "Capitalismo de Estado" parece bom enquanto cresce. Da Direita à Esquerda, toda a gente o apoia, ainda que por palavras diferentes. A Esquerda, por exemplo, defendeu sempre as grandes obras públicas, desde as barragens ("Construam o Alqueva, porra!") às sacrossantas novas escolas da Parque Escolar a que nem Ferreira Leite se opôs na campanha eleitoral de 2009. Já a Direita sempre pugnou, direta ou implicitamente, pela ideia de que todos beneficiam do enriquecimento dos mais ricos. No essencial, ambos os casos reforçam a economia dos grandes interesses.
Por causa deste delírio estamos hoje envolvidos na tentativa de pagar os gastos de uma suposta "social-democracia" que tentou fazer esta quadratura do círculo: ajudar os pobres, criar o 'welfare state' para a classe média e fomentar a economia com dinheiro do Estado. Agora não tem como pagar a conta. A resposta em curso é feita través de uma massa ideológica opaca e camaleónica, um "liberal-socialismo" improvisado, onde Passos Coelho e Vítor Gaspar podem gerir o país com medidas antagónicas como se tudo fosse coerente e moral. E para quê? Apenas para que o Estado pague as dívidas em que ninguém se revê. No dia em que o Estado claudicar, a democracia deixa de ser útil e os portugueses votarão em líderes justiceiros e radicais.
Margaret Thatcher tentou no seu último governo fazer passar uma lei em que todos os cidadãos deviam pagar algum imposto, por mínimo que fosse, para darem valor aos bens públicos. Este princípio liberal ajudou à queda do governo britânico levada a cabo pelos próprios membros do partido. Mas esta é uma realidade, 30 anos depois: a classe média aproxima-se perigosamente de uma ideologia que, provavelmente, desprotegerá ainda mais os pobres no futuro e nacionalizará os ricos, considerando que ambos têm de fazer mais pela vida do que viver das "rendas". Há muita gente sem futuro à vista porque já perceciona que os seus direitos futuros foram confiscados. E isto vai mudar radicalmente a sociedade e a política. A falência das seguranças sociais pelo Mundo, fruto do incumprimento nas dívidas, é o clic que falta.
[In JN]
A União Europeia não tem futuro.
ResponderEliminarPortugal bateu no fundo.
Os governos iluminados da desgraça deste país de incompetentes e ladrões, puseram a maioria dos portugueses na subsistência com os seus parcos ou nenhuns rendimentos.
Só produzimos e trabalhamos, para que estes subalternos políticos de governantes da Troika paguem juros, só juros, a toda essa cambada de agiotas, especuladores, usurários que nos emprestam dinheiro.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.
Porque será que eu acho que este senhor dá uma no cravo outra na ferradura!
ResponderEliminarUm abraço