22 março, 2016

O assunto do dia

Ferido no atentado bombista de Bruxelas

Se para os ocidentais custa entender os padrões normativos dos povos orientais, como o desprendimento pela vida, em nome da pátria e da honra individual [como aconteceu com os japoneses kamikazes na segunda guerra mundial, é imperioso reconhecer o nosso maior respeito pelos seus rígidos conceitos do dever, de acordo com o enquadramento histórico em que ocorreram.

Podemos considerá-los algo exagerados, mas a verdade é que, como ocidentais que somos, não temos muitas alternativas para contrapôr como exemplo. O ocidente, está a ruir de pôdre, e não é só pela economia, é essencialmente pela falência progressiva de valores humanos e sociais. Uma prova recente do cinismo da União Europeia, foi o recuo estratégico na blindagem à adesão da Turquia, acrescida de uma oferta de 6.000 milhões de euros, para servir de tampão aos refugiados da guerra Síria e os impedir de chegar à Europa.

Apesar da bandalheira ideológica do ocidente, nada justifica o que hoje mesmo voltou a acontecer. Refiro-me, naturalmente, a mais dois atentados terroristas levados a cabo no aeroporto de Bruxelas e no Metro local. Essa luta, já eu não sou capaz de compreender. Só o fanatismo, explica morrer sem honra nem glória, por pretensas conquistas de fé divina. Matar inocentes, avulsamente, não é luta que enobreça alguém, é genocídío e barbárie. Jihadistas, talibans, são todos puros terroristas. 

Sucede porém, que a civilização ocidental, à qual pertencem a Europa, os Estados Unidos e toda a América Latina, não sai inocente desta nova ameaça mundial. Não pode orgulhar-se, nem de longe, nem de perto, de promover a paz mundial, a qual será impossível, sem uma nova ordem social em que a produção de riqueza  tenha como garantia a sua justa distribuição. A génese destes e muitos problemas pode parecer simplista, mas não é: está na injustiça humana. Numa sociedade livre e democrática, não há nada, nada mesmo, que racionalmente justique pagamentos milionários a um só homem, e permita o desemprego involuntário a muito outros,  mêses, anos a fio. Já nem falo dos mal pagos, teoricamente empregados, que é como se não tivessem emprego. Esta, é a principal fonte de todos os males, ninguém me convence do contrário. A religião é só um pretexto. Aqui, no Burkina Faso, como na China.

Seria dar um passo em frente, se para além de pensarmos travar o terrorismo pela repressão, procurássemos saber em que condições vivem os seus autores. Por cá (quem diria!), já emergiram alguns, para se alistarem em organizações terroristas com as quais, em princípio, nada teriam em comum, não fosse o infortúnio de o país de origem os mandar emigrar (Passos Coelho sugeriu) como solução à falta de trabalho remunerado... Comece-se pelos bairros sociais, que é o principal casulo da marginalidade, começando pelos dos países mais pobres, e a seguir pelos mais ricos. É um problema bicudo, é verdade, porque se os países de origem não lhes dão condições para se inserirem social e economicamente, é um tanto demagógico exigir aos que os acolhem as mesmas responsabilidades. Podia ser a União Europeia, mas essa está como sabemos. Esta, podia ser uma oportunidade de ouro para os nossos políticos e outros de países periféricos baterem o pé à Alemanha e começaram a discutir a Europa com a seriedade que teve na origem, mas não creio que haja ambição e vontade para tanto.

Para terminar, não quero deixar mais uma vez de focar o outro  lado negro da cultura ocidental em prol da paz e do progresso. É uma repetição, mas incontornável: o contributo dos Estados Unidos e da sua absorção cultural da parte da União Europeia. Há muito da América do Norte, que admiro. A criatividade, é, em algumas áreas, a que prefiro. Lamentavelmente, não consigo estender essa virtude à indústria cinematográfica, talvez uma das mais poderosas do país. Já o disse, em post anterior, mas perante o cenário actual, em que todos discutem as consequências e menos as causas, não me coíbo de repetir, com o benefício da dúvida ao rigor percentual: 90% dos filmes americanos, vistos em vários canais de tv,  de vários países europeus que os importam, contêm violência, e belicismo.

Pergunto: será esse o contributo cultural e o valor adequado para a promoção da paz no mundo?  Os bombistas que respondam. Por mim, tenho dúvidas.


21 março, 2016

Portuenses de trazer por casa

Há quem não ligue muito às origens, à terra dos ancestrais, à família, e há quem não ligue a coisa nenhuma, que é o modo mais cómodo de estar na vida. Eu pertenço à primeira categoria, o que não quer dizer que esteja certo. Não sei, são opções de cada um.

Para amar algo, é fundamental possuir um forte sentimento de exclusividade sobre o alvo amado. Não sou dos que consideram relevante o local de nascença para alguém se sentir parte de uma terra, pessoa, ou clube. O que é preciso é conhecer o que se gosta, e porque se gosta. Não acho que se goste, apenas porque sim. Essas, são emoções de adolescentes, efémeras, passageiras. Quando falo do Porto, trago coladas à voz as ruas da minha infância, os meus amigos (os melhores), a minha família e toda uma vida de profunda identidade com a terra natal, que nem episódicas ausências foram capazes de fazer esmorecer. Bem pelo contrário, os contrastes e as ausências, potenciaram o meu amor pelo Porto. Ter estado fora da minha cidade, dentro do meu país (Lisboa) e no estrangeiro, exacerbou-me a atenção pelas diferenças. Na comparação, encontrei sempre vantagens para a minha cidade, e também nas suas gentes.

O cosmopolitismo de uma cidade tem os seus inconvenientes. Ao abrir as portas a quem para cá vem apenas por interesses económicos, ou profissionais, sem chegar a integrar-se na cidade nem se afeiçoar às suas gentes, aos seus hábitos e características, o Porto começou a perder um pouco do seu distinto carácter. Hoje, fruto de uma política governativa centralizadora, que faria corar de vergonha o próprio Salazar, os portuenses foram perdendo a capacidade de se indignarem. O que está a acontecer no FCPorto actual, é também a consequência dessa descaracterização, não tem apenas a ver com negociatas, e má gestão...

Fui dos que rejubilou com a aquisição do Porto Canal pelo FCPorto. Por essa altura, ainda acreditava na objectividade da iniciativa, que havia um projecto idóneo, que podia vir a constituir-se no primeiro grande passo para uma autonomia mediática, que Lisboa não permite. Vã esperança a minha! O Porto Canal, hoje, decorridos poucos anos, é o instrumento de comunicação mais atípico e contraditório que se pode imaginar. Mas não é só isso. É a humilhação de uma cidade em forma de televisão, para todos os portuenses e portistas. Não tem fibra, imaginação, nem coragem para funcionar como um pendulo moderador contra a macrocefalia da comunicação terreiro-pacista. 

Júlio Magalhães não quer saber de nós para nada, e como tal, nada tem para nos dar. A política de comunicação e programação do Porto Canal é uma anedota, um hino à mediocridade (tal como a do FCPorto...). Se há ali um projecto, não é para todos os portuenses, é só para alguns amigos de conveniência, e famílias... Bem podem abrir a boca com "a nossa gente", porque estão muito longe de saber o que é o Porto, e principalmente, do que mais precisam os seus habitantes. Trazer betinhos e betinhas, de Lisboa para cá, podem estar certos que não é a nossa primeira, nem última carência! Nós precisamos de nos defender deles, não de os bajular, porque são eles que nos estão a levar tudo! E quando digo "eles", não estou a individualizar, nem a falar só de futebol, estou a dizer que "eles" corporizam o que há de pior no centralismo: a ganância, o egocentrismo e a arrogância. É fácil, ouví-los e vê-los nos media a falar de nós, quando estão juntos. Gozam, como doidos. Só o pessoal do Porto Canal não sabe, nem quer saber... 

Destes "representantes" do Porto, tenho eu vergonha. Estão nas antípodas do que era o tripeiro. É só um clic, e daqui a uns tempos vamos vê-los nos canais de Lisboa, a olhar pela vidinha. Querem uma aposta? Para já, é o FCPorto que os sustenta.  Mas, como censurá-los, se o patrão permite, se o patrão se ausenta e não controla o canal? 

Como ousa Pinto da Costa queixar-se do centralismo, se no canal que devia combatê-lo, os portuenses não têm voz, e os inimigos do Porto são tratados como príncipes? Para quê, tanta hipocrisia?

As minhas afinidades com o clube, não se estendem às de quem o governa. Foi tempo. O FCPorto, esse, não morrerá. Estou certo.

  

18 março, 2016

A Assembleia do FCPorto só serviu para serenar os ânimos?

Por aquilo que me foi dado ler sobre o assunto, a resposta é: sim! Ah,  que a UNICER fez um excelente contrato com o FCPorto, e pouco mais.

Gostava de ter a confiança que alguns portistas ainda têm nas promessas de Pinto da Costa. Palavra que os invejo. Mas, nem por isso ficarei chateado se daqui a uns tempos forem eles a ter razão, e eu a dar a mão à palmatória, por já não acreditar nas performances do presidente portista. Como gostava que tivessem razão!

Não é por pessimismo que duvido numa volta administrativa de 180º no FCPorto, é por Pinto da Costa não ter aproveitado (mais uma vez) a Assembleia, para dizer aos adeptos presentes o que tenciona fazer de diferente para o ano, em relação ao que não fez na época em curso. A verdade é que, dos presentes na Assembleia, não apareceu ninguém a apontar nada de objectivo passível de fundamentar a retoma da confiança em Pinto da Costa. Mesmo sabendo que o segredo é a alma do negócio, não vislumbro ponta por onde se possa pegar no seu discurso vago e acanhado, como aliás vem sendo habitual há uns anos a esta parte.  Sinceramente, cada vez que o vejo falar sinto-o invulgarmente inseguro, e desorientado.

Objectivamente, com tanta manta retalhada em termos de coesão e entusiasmo, e com os cofres da Champions mais vazios, não sei que raio de reestruturação será possível fazer sem corrermos o risco de perder competitividade. Com jogadores desvalorizados pela péssima prestação individual e colectiva de toda uma época, também duvido na realização de grandes negócios.

Quando me esforço por acompanhar aqueles que, apesar dos factos, ainda acreditam em coisas como "comer a relva"  e "jogar à Porto", para ultrapassar os obstáculos que restam, que aliás sempre entendi muito bem, se acompanhadas do inevitável entrosamento entre jogadores, da rectaguarda ao meio campo,  a acabar na linha avançada, fico baralhado, porque não imagino esta equipa a promover um ataque com princípio meio e fim, ou seja, sem abrir espaços enormes no seu ponto mais frágil: a defesa. Não vejo ratice, nem rapidez de execução, num Brahimi (por exemplo) para explorar as fífias dos adversários, porque sempre que tem oportunidades dessas, esbanja-as. Não vejo serenidade bastante para que a qualidade dos passes se torne constante. Frente à baliza, vejo o vício de deixar ao companheiro do lado, ou mais adiantado, a responsabilidade de rematar. Um passar de testemunho medroso. Vejo um desperdício de tempo, um cerimonial irritante, uma lentidão chocante para chutar para o golo. E vejo uma coisa que não devia ver, que é essa mania de colocar as mãos na cabeça por falhar o golo. Não consigo perceber por que é que não houve ninguém que fosse capaz de dizer aos jogadores para se deixarem dessas fitas, porque isso só prova o baixo índice de confiança que os domina na hora de "matar o jogo". Ver imagens dessas,  não é nada animador, nem para os espectadores... 

Não será por acaso que as victórias do FCPorto agora são sempre muito sofridas. Há mais ansiedade que criatividade e auto-controle, há muita vontade de fazer depressa as coisas, e quando assim é, as coisas saem mal.


O Porto de D. Pedro IV e D. Miguel

“O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada” (Alexandre Herculano).

Tenho em mãos uma obra que faz, no presente, 80 anos que foi publicada e que me foi oferecida há pouco tempo pelo meu amado pai (nascido um ano antes). Trata-se de «D. Pedro IV e D. Miguel I. 1826 – 1834», da autoria de Carlos de Passos (da Academia de la Historia de Madrid), com 423 páginas, sob chancela da Livraria Simões Lopes (situada na rua do Almada, 119). Daqui parto para esta crónica, perante uma relíquia/raridade com todos esses pedaços históricos, reais e liberais, do Porto e de Portugal.
Logo no frontispício do livro aparece o que o autor denomina de seu ‘ex-libris’: um brasão régio da época miguelista. Na sua introdução, o autor refere que – neste processo – ravinhosa e brutamente “se arraigaram os ódios contra D. Miguel, que não se vacilou em praticar, além do mais, a ignomínia de proscrever, de eliminar, da dynastia brigantina não só o seu nome como os factos do seu reinado, tolazmente incorporados no de D. Pedro IV”. D. Miguel que, segundo Oliveira Martins, foi o último rei amado e compreendido pelo povo.
Com o falecimento do rei D. João VI há precisamente 190 anos – em 10/03/1826 –, gerou-se um tempo “virulento” e “árdego”, com 30 anos “de intrigas e vis ambições, de corrupção e dissipação”. Deste modo, surge a veemência atuante do Sinédrio do Porto e, na sua voz, a defesa implantadora e abarrotada da democracia e do liberalismo, apesar do conservadorismo da assembleia nacional. Incidia nesse Portugal o “choque das ideologias constitucional e absolutista”, pondo-se em causa o patriotismo nacional, que tipo de espírito patriótico. Note-se que, tal como nesse período da revolução liberal, em 1910 o que interessava era o princípio do poder e não a forma do governo. Ao que Fernando Pessoa comentou que tal constitucionalismo derivou numa ampla “desnacionalização das esferas superiores da nação”.
Sobre a História desses anos da segunda e da terceira décadas do séc. XIX – com enorme debruço e pormenor neste livro – não vou aqui relatar, pois é apresentada e sobejamente conhecida e inscrita noutras tantas publicações. Mas apraz-me salientar o que é escrito sobre a magnitude e magnificência do Porto, do nosso sempre querido Porto – naquele tempo através do cerco portuense, onde “magnos sacrifícios praticou D. Pedro” e onde Mouzinho da Silveira se demitiu desiludido e já “farto de intrigas”. E a obra descreve, com delícia, o que se passou com o juramento à Carta Constitucional decretada por D. Pedro IV (em abril de 1826), do seguinte modo: “No Porto, de manhã, retumbou uma salva de artilharia; apoz o juramento, feito na Camara Municipal, solemne ‘Te-Deum’ encheu a Sé e vistosa parada, o campo da Regeneração. Ao longo das ruas embandeiradas, Saldanha, à frente das tropas, foi aclamado como heroi da liberdade e coberto com flôres, lançadas entusiasticamente das janelas. De noite a cidade fulgurava com as iluminações e a rua das Flôres vibrou com harmónicas serenatas. No teatro de S. João houve récita de gala e quando Saldanha, no camarote real, ao público exibiu o retrato de D. Pedro na sala reboou delirante júbilo com vivas à Carta, ao Dador, à rainha e a Saldanha”. Quanto a D. Miguel, tinha emigrado.
Mais tarde, é certo que a Invicta, mal-aventuradamente, viveu e sofreu horas negras com o bombardeio permanente das tropas miguelistas, tal como é descrito: “Os canhões troavam de noite e dia e a metralha, aos montões, incendiava, matava e aterrorisava”. Mas, mais certo é, que a cidade e seus tripeiros cidadãos sempre souberam levantar-se e deleitar-se com o manjar saboroso da vitória e das tripas, bem à moda do Porto. Depois de nove horas de intenso e violento combate no cerco portuense e terminado o mesmo (que custou a D. Miguel uma baixa em mais de 4.000 dos seus homens), eis as palavras de D. Pedro antes de partir para a capital do país, com a boa-nova da sua conquista:
“Amigos portuenses! A Divina Providência, que nos tem sempre protegido, dignou-se permitir que a divisão expedicionária… entrasse em Lisboa… aqueles portuguezes, que ali acabam de quebrar os ferros que os oprimiam, são portuguezes perseguidos, como vós o fostes. Elles reclamam a minha presença… Bem tendes visto… que enquanto esta cidade poderia correr o menor perigo, nunca vos desamparei; agora, obedeço… à necessidade de deixar-vos por algum tempo, levando commigo a saudade mais pungente de vós e dos meus companheiros de armas… Asseguro-vos, ilustres portuenses, que em breve hão-de acabar os vossos sofrimentos, que as minhas promessas serão religiosamente cumpridas e que a Carta… terá em breve a devida execução…”.
Tal como eram essa confiança e esperança no passado, sustentadas pelo insigne povo portuense, agora se mantêm e rejuvenescem consertadas no tempo presente, numa mesma esperança e confiança de futuro, porque o “Porto é futuro” e “é berço da democracia e da liberdade”, como tão bem e justamente soube reconhecer – nestes dias – o nosso estimado, afetuoso e novel presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua primeira visita fora de Lisboa, deslocando-se concretamente à zona do Cerco do Porto. Bastante simbólica e profética esta sua calorosa visita, não só para a cidade Invicta como também para o seu exercício presidencial!
Retomando ainda o Porto antigo, embora sempre novo e melhor, e na oportunidade de mais uma publicação remota sobre o Porto – também me ofertada pelo meu prezado pai, a par de um vasto espólio da distinta revista «O Tripeiro» –, recordo aqui, com apreço, o registo feito e dedicado à Invicta na edição conjunta de setembro-outubro de 1957 (n.s 17-18) do boletim mensal ilustrado do então Secretariado Nacional da Informação, «Portugal pela imagem». A começar pela capa, com uma foto aérea sobre a Ponte D. Luís, a ribeira do Porto, a catedral e o paço episcopal, no seu alto. No seu interior ao longo de 12 pp., com tradução integral nas línguas francesa e inglesa, escrevia assim o boletim: “Os seus habitantes, que orgulhosamente se designam «tripeiros» por terem comido tripas durante um cerco à cidade, são ciosos das suas prerrogativas municipais e liberais, empreendedores e sérios, – o que faz da cidade do Porto uma praça comercial muito conceituada. (…) O Porto tem desempenhado e desempenha um importante papel na vida portuguesa. A sua Universidade, as suas escolas, liceus, associações culturais e de escritores, os seus jornalistas, romancistas e pensadores, têm contribuído decisivamente para o enriquecimento da Cultura e para o prestígio da capital do Norte do País. Os seus monumentos são também de grande valor”.
Felizmente, assim como no passado, a atualidade reveste-se deste sentido de divulgar a nossa charmosa e invulgar cidade do Porto – o que tem de tão bela e bonita, de bem e de bom –, através de afamadas revistas e jornais internacionais. Como são os casos (mais e menos) recentes de: “The New York Times”, “The Telegraph”, “The Independent”, “The Guardian”, “The Sun”, “El País”, “Le Fígaro”, “Folha de S. Paulo”, “Time”, “National Geographic”, “Vogue”, “Swiss Magazine”, “Dezeen”, “Port.com”, “Häuser”, entre outros mais.
[André Rubim Rangel/Porto24]

Lá, como cá. Não é nada com eles

16 março, 2016

Guerra de Rui Moreira com a TAP deu um livro

O conflito aberto entre o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e a TAP vai ser explicado, sob o ponto de vista do autarca, num livro que será lançado na próxima semana. Recuando aos tempos em que Moreira ainda era líder da Associação Comercial do Porto, a obra, lançada pela editora Almedina, promete muitas revelações.
Estarão lá os "bastidores" das muitas batalhas travadas, primeiro contra a privatização da ANA e, mais recentemente, contra a estratégia seguida pela TAP no Porto. Mas há mais, garantem os autores, anunciando que nas 250 páginas escritas por Rui Moreira e o seu adjunto, Nuno Nogueira Santos, há muitos dados sobre a actividade da TAP e da sua operação no Brasil, além de "pormenores desconhecidos acerca da vinda da Ryanair para Portugal, jantares secretos e cartas a vários primeiro-ministros".
TAP - Caixa Negra é prefaciado pelo antigo ministro Luís Valente de Oliveira e tem o lançamento marcado para a próxima terça-feira, dia 22.
(Público)

14 março, 2016

A importância da memória


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Isto não são fotos de um filme qualquer. Foi obra real de um louco,
com a cumplicidade de um povo hoje muito respeitável... 
Ponto prévio:  não tenho qualquer vínculo   político - partidário,   e provavelmente nunca virei a ter. A razão é sempre a mesma: como já aqui referi frequentemente, perdi a confiança  nos  partidos   que têm governado o nosso país, e também nos  partidos   da   oposição,    por diferentes razões. 

De todos, ideologicamente, é sem dúvida, o Partido Comunista português o mais íntegro e pragmático. Os seus militantes, são para mim, os mais disciplinados do universo político nacional. Acontece que, o comunismo que defendem dificilmente terá condições para se impôr de forma natural, na mentalidade da maioria dos portugueses, e mesmo na mentalidade da maioria dos países europeus. Pelo menos, por agora. 

Por paradoxal que pareça, não creio que os visíveis sinais de desmoronamento da União Europeia, nem o crescente nível de desemprego, sejam suficientes para atrair os europeus  para o tradicional modelo comunista. A poderosa máquina de propaganda das sociedades de consumo tratou, e vai continar a tratar, de formatar a mentalidade dos europeus para um estilo de vida de luxos e prazeres, a que só uns poucos têm acesso, com tudo de imoral e injusto que a ilusão comporta. 

Talvez tenha sido essa  improvabilidade aparente, sustentada na realidade europeia, que inspirou ideologicamente o nascimento de partidos como o Bloco de Esquerda, e que explica a sua progressiva subida nas últimas eleições. O eleitorado mais esclarecido e popular, sente-se dividido entre optar por um partido austero, mas sério, como o PC, mas sem grandes hipóteses para governar sem convulsões (internas e externas), e confiar num Bloco de Esquerda, mais arejado, mais consumista, mas com as vulnerabilidades dos chamados partidos do arco da governação. 

Pela parte que me toca, enquanto potencial eleitor, a única maneira de me convencerem - e aqui refiro-me ao BE e à hipótes de conquistarem o meu voto -, é darem-me aquilo que exijo a qualquer outro partido: garantias. Uma vez que parecem também não ter percebido a importância deste factor, é porque ainda não descobriram a real causa das abstenções, ou então, porque não confiam nas suas capacidades.

De todo o modo, nunca serão partidos inspirados em filosofias economicistas - onde os números contam mais para um grupo muito restrito de pessoas, que as de toda uma população, que resolverão a situação dramática por que está passar a Europa e o Mundo.

Nunca nos devemos esquecer o que se passou na União Soviética comunista, nem "dos" Arquipélagos de Gulag, de Alexandre Soljenitsine.  Mas é também recomendável olhar para o que está a acontecer na Alemanha de Merkel, onde o partido da extrema direita (AfD) está a  ganhar terrenoassustadoramente.  A este propósito, cito as palavras de Niklas Frank, filho de Hans Frank, ex-governador da Polónia ocupada, nomeado por Hitler, em entrevista à Notícias Magazine:
  • Que opinião tem sobre Angela Merkel?
- Houve um momento em que senti vergonha por ela ser a chanceler alemã. Quando a economia colapsou na Grécia, nós comportámo-nos como nos velhos tempos do III Reich, como se fossemos melhores que os outros. Uma das principais figuras da CDU chegou a dizer esta frase inacreditável: «Agora a Europa fala alemão». Não consigo entender o que este indivíduo tem dentro do cérebro.
  • Mas suponho que lhe tenha agradado a posição de Merkel na questão dos refugiados.
- Com certeza que sim. Mas agora vamos ter 3 eleições regionais. Se o AfD - partido da direita -tiver perto de 20% dos votos estou convencido que a Alemanha irá acabar por fechar as fronteiras. E aqueles que querem fechar as fronteiras são pessoas da classe média e com formação. São os mesmos que fizeram que Hitler fosse possível. 
  • Lembra-se de sentir culpa?
- Sim, mas hoje não sinto.A raiva e a fúria são reacções muito mais saudáveis do que a culpa. Quando dou palestras em escolas digo sempre: «Todos nós somos inocentes, mas também somos alemães. Peço-vos por isso, que reconheçamos os crimes que foram cometidos pelo povo alemão». Isto é algo que ainda hoje os alemães não aceitam. As pessoas não querem discutir o que se passou, mas seria muito melhor se todos reconhecêssemos os crimes que cometemos. Temos sido cobardes nesse aspecto. No fnal das sessões de leitura dos meus livros aponto para o auditório e digo: «Amo a Alemanha, mas não confio nos alemães». E a prova de que tenho razão está aí, nas manifestações de violência contra os refugiados.

A extrema-direita dificilmente se distancia da sua natural zona de conforto. Quando progride, raramente é para se esquerdizar. Na sua génese, o povo conta pouco. Para a direita, o poder, como o dinheiro, estão predestinados para as mãos de certas "elites". Se não forem travados a tempo, chegam a um ponto que já não conseguem distinguir uma taça de champanhe de um tiro na cabeça de um judeu.

Não acredito na constância da moderação ideológica da direita.

PS-Peço desculpa aos leitores. De repente, vejam só, esqueci-me que perdemos a soberania e que quem manda no nosso destino não somos nós, são outros. Que gafe a minha, esqueci-me! Que querem, agora não vale a pena voltar a trás. Pode ser que um milagre nos traga a liberdade e recuperemos o direito a decidir por nós ...


13 março, 2016

Um japonês vestido de gato ou o que o Porto está a ensinar a Tóquio

Há três anos que uma casa de espectáculos de Tóquio anda a aprender com a Casa da Música, do Porto, a criar um serviço educativo na instituição. Esta semana houve mais uma visita a Portugal.
(Patrícia Carvalho/Público)
São 111 miúdos numa sala, os formadores, alguns curiosos a apreciar os ensaios e quatro japoneses muito atentos a tudo o que acontece, durante mais uma actividade do Serviço Educativo da Casa da Música, no Porto. Os miúdos, alunos de três escolas do país, batem com as mãos no peito, castigam o chão com um pé e cantam. E quando cantam, Akiko Watanabe, balança-se, bate palmas, entusiasma-se. Ela não é uma mera espectadora. Akiko, como os seus colegas, está a aprender. Um dia, lá no Japão, há-de haver um serviço educativo feito à semelhança deste, com as devidas adaptações. E ela faz parte desse caminho.
Não é bem uma ponte aérea, mas desde 2013 que há gente a circular com regularidade entre a Casa da Música, no Porto, e a Tokyo Bunka Kaikan, na capital japonesa. De cá seguem formadores que vão ajudar a desenvolver o serviço educativo da casa de concertos japonesa, de lá vêm “os melhores” formandos, para sentirem e verem como tudo acontece na Casa da Música. Desde o início da colaboração entre as duas instituições que nove escolhidos já cruzaram a distância entre o Extremo Oriente e o Porto. Agora, chegou a vez de Akiko Watanabe, soprano, Nobutaka Yoshizawa, tocador de koto (uma espécie de cítara japonesa) e Yukako Takata, pianista, rumarem ao Porto, acompanhados de Chizu Fukui, a responsável pelo desenvolvimento do serviço educativo da Tokyo Bunka Kaikan e por todo este intercâmbio estar a acontecer.
Chizu Fukui, antiga pianista, é a única dos quatro que fala inglês, e passa parte do tempo a servir de intérprete. Viveu em Itália durante alguns anos, investigando a educação musical em serviços públicos, e acabou por se deparar com a experiência da Casa da Música numa conferência em Berlim, Alemanha, desenvolvida pela RESEO, a rede europeia para a educação de ópera e dança de que a instituição do Porto faz parte e em que a japonesa participou de forma independente. “Disseram-me que a última conferência, organizada pela Casa da Música, tinha sido maravilhosa e que tinham ficado todos muito emocionados. Eu ia regressar ao Japão e ainda não sabia o que ia fazer, mas perguntei ao Jorge Prendas se podia vir cá, ver o trabalho que faziam”, diz. O director do serviço educativo “disse logo que gostava de colaborar”, relembra Chizu Fukui.
Quando, em Abril de 2011 regressou definitivamente ao Japão e começou a trabalhar com a casa de concertos de Tóquio, as sementes estavam lançadas. Em 2013, as viagens Porto-Tóquio-Porto começaram. “Tem sido um enorme privilégio e honra sermos reconhecidos por uma instituição como a Tokyo Bunka Kaikan”, diz Jorge Prendas, que já esteve seis vezes no Japão e se prepara para regressar, com a equipa de formadores, em Julho deste ano. “O grande desafio é conseguir adaptar o nosso modelo ao que é a realidade cultural e a mentalidade japonesas. Não poderíamos pura e simplesmente copiar o modelo português, não é essa a nossa perspectiva”, diz.
Chizu Fukui explica que foi exactamente essa ideia que Jorge Prendas lhe transmitiu, quando lhe disse que poderia continuar a ir ao Japão desenvolver workshops, mas que isso não iria fazer crescer raízes. Que o mais importante era ter japoneses a fazê-lo. A Casa da Música podia ensiná-los, mas depois o trabalho teria sempre de continuar em casa.
É isso que tem sido feito. Devagar, com a implementação, em Tóquio, do projecto Outreach, que é, para já, a face visível do serviço educativo japonês e que tem já envolvido algumas escolas da cidade. Nobutaka, Yukako e Akiko descrevem, com facilidade, o que mais os marcou no intercâmbio com os portugueses e riem-se quando descrevem experiências que não lhes passariam pela cabeça, se não tivesse existido o contacto com a equipa da Casa da Música.
Como mascararem-se de animais num workshop para crianças. Nobutaka ri-se abertamente enquanto descreve como actuou “com um fato de gato” para um grupo de crianças. A Casa da Música desafiou o grupo a desenvolver uma actividade para apresentarem na visita ao Porto. O resultado foi Nyao nyao chu chu, o equivalente a “miau miau” e seja qual for o ruído que um rato fará. Nobutaka vestiu-se de gato, Yukako, ao piano, de rato. Aprenderam algumas expressões em português, que agora repetem sem grande dificuldade – “bom dia”, “como te chamas”, “vamos cantar juntos”, “vamos semear”, “vamos ao circo” – e entraram num mundo novo. Nobutaka garante que quer levar este gato português até ao Japão, para ver como corre.

Os sinais de saturação começam a aparecer... E, ainda bem!


12 março, 2016

Qual garra, qual carapuça!!

Como "bom" portista, o meu dever era ficar muito satisfeito com a victória desta noite no Dragão sobre essa temível equipa que dá pelo nome de União da Madeira.  Até porque os jogadores tiveram garra, como alguns dizem, pensando que a garra tudo resolve. A verdade é que não resolve, porque o golo da salvação surgiu ironicamente  de um dos jogadores que pior jogou (Corona).

Quando a famosa garra é acompanhada de uma sucessão de passes e cruzamentos errados, quando os jogadores têm medo de rematar à baliza, e dão todo o tempo do mundo aos adversários para reorganizarem a defesa, quando a opção inteligente era rematar rapidamente, não há garra que nos valha. Às vezes, só às vezes, o que pode  haver é sorte, como foi o caso desta noite. Tanto assim é, que mesmo quando ganhávamos por 2-0,  tinha dúvidas da victória do FCPorto, tal era a anarquia do futebol portista. Como tal, custa-me muito dizer que esta foi uma victória merecida. Não foi. A posse de bola mal gerida. é uma posse irrelevante.

Já disse o que pensava sobre este assunto. O problema já é antigo, e começou com o flop da contratação de Lopetegui e a potencialização do seu futebol medroso, que pouco a pouco, foi perdendo a noção da indispensável componente ofensiva, transformando os jogadores em meninos acabados de sair da formação, inseguros e inexperientes. Na minha vida já algo avançada, não me lembro de ver um FCPorto tão descaracterizado e frágil no seu próprio estádio. Isto é a regressão mais humilhante a que jamais assisti. Se Pinto da Costa dorme tranquilo depois disto, era bom que abandonasse o clube e promovesse eleições, porque agora só está a estragar a sua famosa folha de serviços.

Estando o problema principal há muito definido, torna-se inútil falar dos secundários, mas mesmo assim não consigo perceber como é que (é só um exemplo, entre muitos) nem Lopetegui, nem Peseiro, não tiveram arte nem engenho,para convencer Brahimi a jogar para a equipa. Isto, porque ele insiste em agarrar-se à bola até a perder, mostrando-se  incapaz de aproveitar o factor surpresa para a passar ao colega melhor colocado. Persistindo em jogar para ele próprio é um jogador a menos no FCPorto, e o que é pior, é que não se limita a bloquear o jogo do Porto, faz passes sucessivos aos adversários. Isto,é inaceitável continuar a acontecer no nosso clube, mas parece que não se  passa nada. O dinheiro em caixa dá cá uma tranquilidade...

A victória,é o mais importante, é isso que conta para muitos. Com victórias destas o desprestígio do clube, esse sim, será galopante, e a culpa tem um nome: Jorge Nuno Pinto da Costa. O resto, é folclore.


Quem esteve melhor? O Presidente, ou os tripeiros?

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Marcelo Rebêlo de Sousa e Rui Moreira
A minha resposta: ambos!

Como qualquer pessoa normal, tenho a minha sensibilidade humanista, emociono-me com a bondade, com as atitudes que distinguem um homem extraordinário (ou mulher) de uma pessoa vulgar. Comovo-me com tudo que promova o bem, sem demagogias. Mas a experiência da vida ensinou-me a esperar, antes de retirar ilações sobre a coerência do carácter das pessoas, sabendo embora, que não há ninguém perfeito (eu incluído, como é óbvio). 

Vem isto a propósito do recém-eleito Presidente da República, Marcelo Rebêlo de Sousa, e da recepção calorosa que o povo lhe ofereceu no bairro do Cerco do Porto. Digam o que disserem, ninguém pode condenar Marcelo pela extasiante aproximação ao povo do Porto, do mais importante magistrado da nação. De mais a mais, quando nunca outros, antes dele, se disponibilizaram a fazer algo de semelhante. Marcelo foi inteligente. Claro que, num país onde o escárnio e maldizer faz escola, não vão faltar os perfeccionistas do costume. Vão acusá-lo de populismo, que é o adjectivo mais traiçoeiro para quem dele abusa - porque são quase sempre eles próprios os mais populistas -, e arranjar um sem número de argumentos para criticar este novo estilo de fazer política.  Aliás, ainda que possa contradizer-me, populistas, uns mais, outros menos, são quase todos os políticos. Isto é uma realidade. E se a estes juntarmos os jornalistas, nunca mais saíamos daqui, até completar a lista.  

Portanto, gostaria muito que Marcelo soubesse aliar à sua arte de comunicar com o povo, uma verdadeira preocupação com as suas condições de vida, e mostrasse coragem e vontade institucional, para intervir junto do governo (este, ou outro qualquer) sempre que tal se justificar. De outra maneira, ninguém vai acreditar na política do beijo e do abraço com que habilmente venceu as eleições. Correrá o risco de passar por impostor. Como quer que seja, gostei que se tivesse despido de preconceitos, de não se ralar com a infinidade de beijos e abraços oferecidos por mulheres e homens visivelmente carenciados de alguém que saiba (e queira) liderar ou influenciar, os seus proprios destinos.

Devo acrescentar, que aquela gente tripeira, sem papas na língua e exemplar na autenticidade, me emocionou também a mim, pela forma calorosa como recebeu o novo Presidente da República. Ele, soube para já, merecê-lo, e espero que nunca mais esqueça esta fantástica recepção. Agora, só tem de continuar. 

Por sua vez, Rui Moreira, também esteve muito bem, assim como Manuel Pizarro. O discurso do nosso autarca foi assertivo e eloquente quante baste. Discursou curto, mas disse o mais importante. A tentativa de cumplicidade com o PR na luta contra o centralismo, foi a mais relevante para os portuenses,   e para todos os que não vivem em Lisboa.

PS-Não gostei nada da atitude do BE e do PC, na cerimónia de posse do Presidente na ARepública, de não aplaudirem unanimemente Marcelo. Que diabo, era uma questão de cortesia protocolar. Talvez no futuro venham a ter motivos para o criticar, mas numa altura daquelas, pareceu-me feio. Só coloco a seguinte pergunta: se o eleito, fosse um simpatizante comunista, o que diriam os comunistas? Não me revejo nas políticas direitistas, mas há coisas que não decidem nada e caem muito mal, como foi o caso. 

11 março, 2016

Marcelo diz que o Porto é "berço da liberdade e da democracia"


O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou hoje que o Porto é "de algum modo o berço da liberdade e da democracia", afirmando que terminar as cerimónias de posse na cidade é "uma homenagem ao Porto".
"Aqui vir e aqui estar hoje a terminar as cerimónias de posse iniciadas em Lisboa é, a dois títulos, simbólico. É simbólico como homenagem ao Porto, ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro. É simbólico como sublinhado de virtudes nacionais num tempo atreito eadesânimos, desilusões e desavenças", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, nos Paços do Concelho.
Para o Chefe de Estado, a história da cidade "enche o Porto de glória", mas "o presente continua a fazê-lo como terra de gente de carácter, de liberdade, de convivência aquém e além-fronteiras".
"O Porto é terra geradora de elites em todos os domínios", designadamente no mundo da economia como na Universidade, na cultura como nas artes e no desporto, disse, apontando os nomes de Manoel de Oliveira, Agustina Bessa-Luis, Souro Moura, Pedro Abrunhosa, Siza Vieira, Vasco Graça Moura e Daniel Serrão como exemplos desse "património imperecível".
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "a expressão ou matriz de uma maneira de ser" dos cidadãos do Porto "não se esbateu com o tempo, antes se reforçou ganhando as camadas da nobre pátina que só o tempo sabe conceber".

CRÓNICA DE UMA CERTA CIDADE À PROCURA DE UM EQUILÍBRIO

O Porto, cidade de históricos pergaminhos, conhecida também pelos valores da sua gente – essa espécie de “alma de muralha” como Agustina lhe chamou – vive presentemente tempos desiquilibrados. Se por um lado está num momento de reconhecimento internacional, por outro sente-se uma desigualdade entre a oferta de novos serviços e bens trazidos pelo turismo e as ânsias da sua população.
A cidade nunca esteve como agora, com um sentimento tão pujante com os turistas que enchem as suas ruas. Os portuenses orgulham-se com o reconhecimento que internacionalmente a Invicta tem tido, seja como primeiro destino turístico de muitas revistas da especialidade, ou até em artigos de importantes jornais como o New York Times. O Porto, de facto, está na moda. Há lojas novas com novos conceitos. Novas ideias de exploração turística nunca até agora pensadas. Até a nível cultural as coisas mudaram. O próprio orgulho na cidade parece florescer entre as populações mais jovens.
Ora, toda esta euforia que anda à volta da cidade, apesar de louvável, pode, num futuro não muito distante, trazer problemas ao Porto, com situações que ocorrem já noutras cidades como Barcelona ou até, mais próximo de nós, Lisboa. De facto, uma massiva exploração turística, aliada a uma ganância de transformar o centro da cidade num gigantesco hotel, pode fazer com que a Invicta perca a sua alma: os seus habitantes de sempre. Aqueles que fazem as estórias da História milenar da cidade. Uma população envelhecida não está a ser substituída. A voragem turística leva a que os portuenses se sintam expulsos da cidade. Moradores de uma vida inteira no centro histórico são pressionados pelos senhorios para abandonarem as suas casas. Além disso, casas que eram apenas de habitação passam a estar desordenadamente ocupadas por hostels e pensões. Os ainda moradores do centro histórico até dizem que estão proibidos de terem vista para o rio, como a comunicação social tem assinalado, exprimindo que a cidade onde nasceram começa a ser pequena demais para eles.
Há uma população que está a desaparecer. Grave também é que quem quer voltar a habitar o centro histórico, perpetuando a memória de ser portuense, está a sentir-se expulso. Em certos aspectos os portuenses começam a sentir que não têm poder de compra para usufruir da sua própria cidade: nem na visita a certos locais como Museus ou monumentos, nem no andar nos eléctricos ou no funicular dos Guindais que se destinam, pelo preço, a turistas deixando de ser meios de transporte comuns (e pense-se no declive que o eléctrico vence nas linhas 18 e 22, que fazem dele um meio de locomoção essencial para as populações mais idosas). Perde-se assim uma espécie de alma que é o Porto: os seus moradores, esse lado inexplicável e secreto que também caracteriza as cidades com História. E essa perda traz como que uma sensação de vazio.
Verdadeiramente, o que pode interessar a um turista comum uma nova cidade como o Porto? Não apenas os seus monumentos e História. Interessa-lhe também a vida dessa cidade, as experiências dos seus habitantes. O seu lado mais íntimo, que lhe permite viver a cidade o mais próximo da forma como os seus habitantes a vivem/experimentam. Ora, o Porto atravessa o perigo de isso perder. Querendo aproximar a cidade de padrões mais europeus, locais outrora típicos, de todos e para todos, como certos cafés ou restaurantes, tornam-se “lounge” ou “gourmet” – sítios que há em todo o lado – e até um dos mais famosos pratos, a francesinha, tem alterações que a fazem ser tudo menos… francesinha. Tudo isto traz uma sensação de plasticidade, de falso, que antes não existia no Porto. Antes podia haver menos oferta, mas não faltava genuinidade.
João Sousa Dias. Foto: DR
João Sousa Dias. Foto: DR
Concluindo. Sentimos que o Porto parece estar a viver como no fio de uma navalha. Muito do que é intrinsecamente tripeiro se perde com a invasão turística sem plano. Muito do que fez o Porto ser o que é pode estar à beira de desaparecer, perdendo a cidade a sua alma, as suas peculiaridades. Queremos nós, portuenses, ter uma cidade típica, com uma identidade forte, ou uma cidade essencialmente turística, sem habitantes no seu centro histórico, uma cidade como já tantas outras?
João Sousa Dias

09 março, 2016

O paradoxo deste FCPorto

Mal comparando, associo a passividade de alguns portistas com a metamorfose de Pinto da Costa, com o baixo grau de exigência dos portugueses na hora de eleger governantes. É um facto, que o presidente do FCPorto ganha na comparação, devido a um currículo acumulado fabuloso que lhe grangeou um enorme capital de confiança, e sem paralelo no dirigismo desportivo, coisa que nenhum governante ousou imitar em 42 anos de democracia*. São áreas e graus de responsabilidade diferentes? São! Mas em 42 anos de democracia, era obrigatório termos um país melhor, mais simétrico e justo. Nunca tivemos homens para isso. Na sua área, Pinto da Costa foi um vencedor, contra tudo, e contra todos, a sério. Agora, brinca com o centralismo, e dá-lhe palmadinhas nas costas (espero que ninguém me processe)... Não é o mesmo homem.

Seria mais ajustada a comparação, se Pinto da Costa continuasse nessa onda de lutador, de competência e sucessos, ou se, pelo menos, soubesse reconhecer as suas actuais limitações e as consequências daí inerentes para o FCPorto. Assim não o entendeu, e agora arrisca-se a desbaratar esse currículo colocando os portistas divididos entre a expectativa da incerteza, e a certeza da decepção. Pior, arrisca-se a perder o respeito dos adeptos. 

Eu, estou no grupo dos portistas decepcionados. E já não tenho dúvidas que o FCPorto, a continuar nesta torrente de arrogância silenciosa com os adeptos, e de submissão fraterna com os inimigos (e do clube), está a destruir um passado de honrarias difícil de recuperar nos anos que se avizinham. A menos que, haja alguém (não vejo quem) disposto a investir muito dinheiro no clube, e que a gestão comece reduzindo, em vez de aumentar o elenco administrativo, como mesmo agora aconteceu (pasme-se), antes  das eleições. E, já que a austeridade terá de ser a regra, que procurem emprego para os familiares de preferência longe do clube, para poderem ter alguma moral quando quiserem falar dos males do centralismo.

Há outros recursos dispensáveis. Pelo menos, na minha óptica. O Porto Canal. Que utilidade teve até agora, em termos práticos? A transmisão de jogos das modalidades, e do futebol da formação? Okey, era importante! E o resto? E que respeito houve da parte do FCPorto com os milhares de adeptos clientes da NOS na negociação abrupta com a MEO, que agora se viram privados desses conteúdos? Quem lhes paga o prejuízo? A NOS? O FCPorto? Nada!

No âmbito desportivo, para que nos serviu o Porto Canal, se os convidados e colaboradores, se abstinham de denunciar as poucas vergonhas das arbitragens em sintonia com a voz do dono? Ninguém lhes pedia que imitassem o lixo dos canais de Lisboa, mas daí a transformarem debates que se impunham sérios, e pro-activos, em autênticos coros de monges beneditinos, onde o politicamente correcto (hipocrisia) era a palavra de ordem, vai uma grande distância. Júlio Magalhães já não se importou de copiar (para pior) o pior das televisões lisboetas, como as Grandes Manhãs e as entrevistas meladas aos socialites da capital. Até nisso, o FCPorto deste Pinto da Costa falhou! O Daniel Deusdado (actual Director de Programas da RTP3) podia ser uma solução interessante, até porque já tinha dado provas de empreendedor criativo com programas como a Liga do Últimos e outros. O que é aquilo no Porto Canal, senão um centro de empregos para os amigos dos amigos?

Todo este emaranhado de barretes, não podem ser simples concidências, são antes a explicação factual do desnorte que assolou o Dragão. São muitos, mas todos encolhidos na mesma concha de interesses. Neste FCPorto não me revejo.

Viva o FCPorto regenerado! Viva! 
Vivam os adeptos! Vivam!


*Entenda-se, liberdade eleitoral.Só!

08 março, 2016

Adeptos/Opiniões


Esqueçamos, por momentos, as nossas opiniões pessoais sobre os adeptos portistas acima plasmados, e levantemos algumas questões:

  1. Mesmo não levando a sério as declarações de Pinto da Costa quando disse (no Porto Canal) que não lia blogues, a pergunta que se impõe, é: também não lê jornais? Este retalho, foi cortado do JN, onde Pinto da Costa faz questão de conservar o seu nome no Conselho Editorial, apesar de agora ser mais um jornal a fazer coro com os jornais de Lisboa na campanha de branqueamento e promoção do clube do regime.  
  2. Se não lê blogues nem jornais, quais são as suas fontes de informação de referência? A Bola? O Record? O Correio da Manhã?
  3. No universo distante e hermético da SAD, não haverá ninguém que leia por ele, e o informe do que se passa fora dos gabinetes? 
  4. É com silêncio, com uma política de altivez face aos adeptos, e a aproximação fraterna aos símbolos do centralismo que pensa combatê-lo? 
  5. Será que o Presidente portista acha a grande massa adepta do FCPorto uma cambada de parvos sem voto na matéria? Se acha, está enganado, porque ainda há quem não se sinta obrigado a engolir sapos com os juros do que fez no passado.
  6. Por último, há uma coisa, a qual Pinto da Costa já não pode obstar: a liberdade de opinião. E, estes depoimentos de 4 colunáveis portistas, não são propriamente manifestos de solidariedade.  

07 março, 2016

O Xistrema é isto. Haverá dúvidas?

A Coisa
Não quero falar do jogo em pormenor. Apenas direi que os jogadores deram o seu melhor na 1ª.parte. Correram, pressionaram, e nem sequer os vi praticar aquele futebol de bola para trás e para o lado que Lopetegui tanto gostava.

Estou revoltadíssimo com o que se passou ontem, mas mesmo assim não consigo criticar os jogadores porque tenho memória. E a memória diz-me que, quando uma equipa, ou melhor, um conjunto de jogadores, andaram época e meia a serem castrados na sua componente criativa, para obedecerem a critérios de jogo de contenção, sem terem uma estratégia bem definida de ataque, é um disparate quererem que a reviravolta técnica e anímica aconteça em poucas semanas.

É que, a reviravolta que era preciso fazer, é também de ordem psicológica. Por quê? Bem, só não vê  mesmo, quem não quer. Acham que, porventura, estes atletas se sentiram - ao longo destas 2/3 épocas -, alguma vez protegidos, desta praga de «árbitros», pelo Presidente, como o que ontem esteve na Pedreira? Acham que, com a sua já longa experiência de vigarista, este gajo não fez tudo o que podia, e sabia, para condicionar a equipa do FCPorto?

Acham que o responsável por estes abusos, é o porteiro, a senhora da limpeza, ou jogador A, ou B, do FCPorto? Querem exigir garra, aos jogadores nestas condições humilhantes? Pensam que Pinto da Costa é o mesmo, que está ali para defender o clube destas provocações? É uma heresia, nestas circunstâncias, nesta anarquia directiva, pretender que os jogadores se transcendam, como antigamente, para ganhar também à equipa de arbitragem. Não sejam líricos, esse tempo já passou.

Uma coisa lhes digo. Nestas circunstâncias, em que tudo vale para discriminar o FCPorto, até acho que os jogadores mereciam uma estátua. Sabem por quê? Porque se fosse comigo, cagava-me para a disciplina, e partia os queixos com um enorme prazer a esta besta que está aqui vestida de amarelo. E nem sei se conseguia parar.

Era despedido? Paciência. Mas ficava dado o recado. Já que não há liderança, outros terão de a fazer lembrar.
  

06 março, 2016

Centralismo/benfiquismo

Sou do Porto, sou nortenho e portista. Vivi grande parte da minha vida convencido que pertencia a uma cidade e região onde, historicamente, os homens gozavam de uma reputação especial. O tripeiro, era tido como homem solidário, franco, amigo do trabalho e da liberdade. As semelhanças entre os portuenses e a generalidade dos nortenhos era grande, só sendo desvirtuada pela porcaria da clubite aguda, fruto das políticas centralistas que uma democracia bastarda só veio aprofundar. Quando me desloco a Braga, ou a Bragança, continuo a ver muitas afinidades, entre nós. Aliás, eu próprio sou o resultado do casamento entre um transmontano e uma minhota, que muito cedo vieram viver para o Porto e adoptaram a cidade como sua, em todos os aspectos.

Infelizmente, para muita gente, esses laços em comum não resistiram às multifacetadas propagandas do centralismo, que não hesitou em dividir os nortenhos, através do futebol. A benfiquização dos media é o braço armado do centralismo futebolístico. Hoje, é impensável convencer um benfiquista nortenho dos malefícios desse centralismo para a sua terra/região, mesmo que tudo o indique, ou prove que é por essa via da clubite doente, que o poder de Lisboa lhes adultera a alma, e  enfraquece as raízes. O mesmo podemos dizer de alguns portistas, que preferem ignorar o casamento de interesses entre o futebol e a política, a aceitar que os problemas antigos do FCPorto sempre tiveram a ver com o centralismo. É complicado destruir a barreira da emocionalidade clubista para deixar implantar a racionalidade política e cultural. 

Em boa verdade, acho que os nortenhos já não são o que eram. Aliás, tenho a certeza que as características dos povos se têm degradado em ritmo acelerado, cá, e mesmo noutros países por processos diferenciados. Se a benfiquização do país é a forma interna de descaracterização/desmobilização do povo português, a americanização do mundo (globalização) foi a via encontrada para dominar e adulterar as culturas nativas. As ferramentas usadas são as mesmas: os media. Ninguém terá dúvidas se lembrarmos que 90% dos conteúdos programáticos e culturais das televisões por cabo são de origem anglo-saxónica, predominantemente, americanos. Também não haverá dúvidas, quero crer, da preponderação do benfiquismo, nos media nacionais. Em resumo: ambos constituem graves atentados ao pluralismo, à democracia e à paz social.    

A juntar a isto, o Norte não tem líderes.Tem alguns homens ricos, que não é a mesma coisa. Outrora, o Norte também teve os seus milionários, mas que conseguiram impor-se, em regimes nada liberais, à prepotência do centralismo. Hoje, os Américos Amorins e os Belmiros tiveram de abdicar da sua autonomia ideológica (se é que alguma vez a tiveram), para prosseguir, sem entraves, as suas carreiras de negócios. Não será pois de estranhar, que entre esses negócios, não conste um único, na área da comunicação social, implantado no Norte... Belmiro de Azevedo, ainda ensaiou o jornal Público e a Rádio Nova, mas não teve coragem para se afirmar, renunciando à autonomia do Norte, porque outros valores falaram mais alto. O jornal Público, já não tem sede no Porto, e hoje passou para a toda sagrada Lisboa, e a Rádio Nova, é apenas um resquício de rádio para manter no activo meia-dúzia de jornalistas. 

Lamentavelmente, Pinto da Costa entendeu enveredar pelo mesmo caminho. Actualmente, salta aos olhos, que o seu objectivo, a sua meta principal, já não é o FCPorto, são outras coisas, entre as quais o corte comunicacional com os portistas. É outro homem do norte frouxo, rendido ao regime que ele diz combater, ainda que se esforce por lançar bitaites contra o centralismo, por razões de circunstância.

Resumindo: o homem do Norte, não é, nem era apenas, uma designação de homem valente do Porto. É mais abrangente: o homem do Norte não mora no Porto, nem em qualquer parte do Norte. A rendição é geral, e explica a discriminação que sofremos e que continuará a fazer escola. o que em nada nos enobrece.