07 agosto, 2008

É a Regionalização um embuste?

1 - O que é a Regionalização? A maioria das pessoas não sabe o que a lei especifica, havendo muitos que a confundem com a criação das regiões autónomas à semelhança da Madeira e dos Açores. Eu próprio sentia muitas dúvidas sobre o verdadeiro alcance da Regionalização, e assim procurei ler o que sobre a matéria dizem a Constituição Portuguesa e a Lei 56/81-Lei-Quadro das Regiões Administrativas. Embora não sendo jurista, fi-lo na convicção de que seria capaz de entender o espirito da lei e que, ao divulgar aqui as minhas impressões, não estarei a contribuir para espalhar ideias erróneas.

2 - A Constituição é bastante vaga, remetendo praticamente tudo para futuras leis sobre o assunto. A parte importante, e bem clara, é a afirmação que há três espécies de autarquias locais: as freguesias, os municípios e as regiões.

3 - A consulta da Lei 56/81 constituiu uma decepção. Os capítulos referentes a Atribuições e a Competências, são muito baseados não só no conceito de elaboração e execução dos "Planos de Desenvolvimento Regional", como também na "partcipação na elaboração dos planos nacionais". Isto faz nascer uma enorme suspeita de que as Regiões se ocuparão de coisas menores como os chafarizes públicos ou a limpeza dos taludes das estradas, enquanto o governo central continuará a decidir sózinho em tudo aquilo que verdadeiramente importa para a qualidade de vida dos cidadãos. Mas como se isto não bastasse, as deliberações dos orgãos regionais poderão sempre ser suspensas, modificadas, revogadas, anuladas, na forma prevista na lei! Acrescente-se que continuam a existir Governadores Civis, apenas com o título ligeiramente modificado pelo acréscimo da palavra "Regional".

4 - Faltava tentar saber com que recursos financeiros contarão as Regiões. Sem independência financeira, qualquer autonomia é ilusória. Na Lei 56/81 o Título V-Finanças Regionais- ocupa-se do assunto. Através do artigo 38 - Receitas - ficamos a saber que as Regiões contam basicamente com "trocos" tais como derramas regionais, taxas e tarifas, multas e coimas, heranças, legados e doações! Haverá também, é verdade, uma "participação no produto das receitas fiscais do Estado", a fixar (claro...) pelo próprio Estado! Quer dizer, tudo aponta para que continuem a existir "filhos e enteados", e o Estado, porque tem a chave do cofre, poderá continuar a condicionar os eleitos locais e respectivas populações.

5 - Por tudo isto, a minha esperança em que a Regionalização melhorasse a actual situação, desceu a níveis próximo do zero. Penso que só a criação de Regiões Autónomas, baseadas no estatuto das Ilhas, poderá representar um passo real no caminho para a valorização de todo um país abandonado e desprezado pelo regime ultra-centralista em que vivemos. Mas não tenho ilusões. Se, através de mil subterfúgios, nem esta Regionalização pífia nos querem dar, como conseguiremos o estágio mais avançado constituído pela criação de Regiões Autónomas?

4 comentários:

  1. Caro Rui Farinas,

    Dada a temática abordada, tomei a liberdade de publicar este seu "post", com o respectivo link, no
    .
    Regionalização
    .

    Cumprimentos

    Nota:
    A Lei-Quadro das Regiões Administrativas é a 56/91 e não a 56/81.

    Só 15 anos após a aprovação da Constituição da República (1976), onde ficou consignado a criação das regiões, é que esta lei apareceu e, mesmo assim, continuou letra morta pois teria que articular com uma outra lei - lei da criação das regiões administrativas - que só viria a ser aprovada 7 anos depois (1998) para logo de seguida ser boicotada por um referendo, completamente,maniatado.

    Os políticos portugueses não têm mesmo emenda!

    ResponderEliminar
  2. De acordo, só com regiões autónomas - como em Espanha - e com partidos regionais - não grndes partidos de poder, mas partidos charneira:os que contribuem para os equilibrios - o país se pode desenvolver de forma homogénea e não como agora, em que Lisboa é que conta e o resto é paisagem.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. Caro Rui Farinas,

    Até a maneira como coloca a questão denuncia a péssima opinião que temos da classe política:"nem esta Regionalização pífia nos querem dar". A expressão correcta seria: "nem esta Regionalização pífia cumprem".
    Nós não pedimos nada, é a CONSTITUIÇÃO quem o exige!O problema está sempre aí e o seu cepticismo não é mais do que um sinal de descrença nos homens que detêm o Poder. O nosso problema é este: somos governados por charlatões!E os charlatões têm de ser colocados in su sítio...

    ResponderEliminar
  4. Caro Antonio Almeida Felizes, obrigado pela sua oportuna correcção referente ao ano da Lei Quadro das Regiões. É evidente que foi em 1991 e não em 81 como por lamentável lapso apareceu no post. A todos peço desculpa. Vejo com muito prazer a publicação do meu post num blogue tão prestigiado como é o REGIONALIZAÇÃO.

    Um abraço

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...