11 novembro, 2008

Não liguem, isto é pessimismo!

O programa "Prós e Contras" da RTP, continua a ser, do meu ponto de vista, aquilo que sempre pensei: um mega "lavatório" público, onde as elites lavam as mãos dos colossais roubos que praticam e das promessas que não cumprem. Nessas elites, incluem-se, os "tubarões" da sociedade civil (banqueiros, administradores de grandes empresas), da política, e da administração pública (juristas e até juízes).
Se alguma valia tem o "Prós e Contras", é esta: denuncia, de forma que não deixa dúvidas a ninguém, os podres e as fragilidades do regime e das suas elites. O único óbice, é (até prova em contrário), ser inconsequente. O que ressalta de importante para os media no meio desta trapalhada toda, são as audiências que as "más notícias" (como eles assumem) vendem.Para a semana, haverá mais. Mais um escândalo, mais um incumprimento, mais uma irresponsabilidade, impunes. Senão aguardemos, e veremos se alguém das altas esferas do BPN (agora convenientemente nacionalizado), será investigado, julgado e condenado, nos próximos 30 anos! Com sorte, talvez se leve a tribunal o porteiro ou a senhora da limpeza do BPN...
Vou-me repetir, porque já afirmei várias vezes não simpatizar nada com estes clichés das elites, que, bem espremidos, não significam grande coisa, à excepção de alguns preconceitos promovidos pelo próprio regime, para lhes acrescentar, na grande maioria das situações, sem se justificar, competências e prestígios, por antecipação ou interesse.

A espaços, a sociedade ocidental, resolve vestir-se de "fada boa" para recordar o Holocausto e a barbárie provocada pelos nazis aos judeus, durante a 2ª Guerra Mundial. Esses acessos esporádicos de sensibilidade, apesar de realistas, fazem incidir invariavelmente, a crítica sobre o horror que Hitler espalhou pelo Mundo, originando todo o tipo de documentários, filmes e livros, que o dissecam até à exaustão. Neste ponto concreto, é intolerável discordar-se da divulgação de todos aqueles crimes hediondos, mas parece-me que se descura propositadamente a descrição do clima social e das influências que os alimentaram. Até na condenação do terror, esta sociedade consegue ser hipócrita!
Quem tiver lido alguma coisa sobre a 2ª. guerra mundial, percebe que seria impossível a Hitler mobilizar e arrastar para a barbárie o povo alemão, se a sociedade alemã não estivesse dominada pela anarquia e pela especulação económica. E se é verdade que os judeus não foram os únicos responsáveis pela situação caótica da sociedade alemã, também é preciso assumir, sem complexos, que eles deram o seu "contributo".
Afirmar isto publicamente, é para alguns, uma heresia, mas não para quem gosta de analisar os acontecimentos à luz de algum rigor histórico. É heresia, só para quem usa o conhecimento dos factos, para continuar a praticar, em seu proveito, as trafulhices que deram lastro à ascensão de ditaduras de Hitlers e Pinochets. Esse é, na minha opinião, o calcanhar de Aquiles da nossa democracia, a sua maior vulnerabilidade, a sua faceta mais injusta. Actua assimétrica e facciosamente conforme o status dos criminosos.
Calculo, que ninguém de bom senso - nem mesmo os alemães - desejará voltar a esse passado tenebroso, onde o Estado era glorificado como a mais alta manifestação do «espírito da natureza» e tinha o "direito supremo sobre o indivíduo" (Hegel), mas o que se está a passar em Portugal, em termos de ordem e justiça social - apesar do "pára-raios" da União Europeia -, não andará muito longe do descrédito social e político ocorrido naquele tempo na Alemanha.
Esta analogia, não me parece extrapolada, considerando a acumulação de escândalos verificada nos últimos tempos e a incapacidade das autoridades para os frenarem. Os partidos políticos portugueses da esfera do Poder revelam uma total inoperância para a delicada missão de governar. Não só, não conseguem criar condições para o desenvolvimento geral do país, como para lhe impor uma ordem, onde todos percebam, que para haver direitos tem de haver deveres.
Os primeiros a prevaricar são ( e continuam a ser) os governantes e assim, é difícil e pouco provável, que seja a sociedade civil a auto regular-se. Os exemplos, são "fresquíssimos" e estão bem à vista de todos, sobretudo daqueles que fazem fé cega das teorias restauradoras da economia. Quem quiser continuar a acreditar nesta lengalenga, onde a conveniência se substitui à ordem, que tenha ao menos a coragem de assinar o acto de fé e registá-lo em Notário.
PS-A propósito de lideranças, é preciso ter cuidado... Como alguém disse um dia: os acordos fizeram-se para não se cumprirem . Se a teoria for realista, como parece que é, a nossa integração na UE pode não passar de um falso protector e, de repente, vermo-nos confrontados com um "Salvador da Pátria" a impor-nos, pela força, a filosofia do Fuhrer-prinzip (Princípio do Líder) para nos convencer da imprestabilidade da Democracia. O pior, é que o disparate pode pegar.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo e pelo blog do qual sou um recente (e passei a assíduo) leitor. Já agora deixo aqui uma "justa" pergunta: Conhece alguma "elite" ou "tubarão" que já tenha sido condenado?

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  2. Obrigado Pepe, pela cortesia das suas palavras.

    Respondendo à sua questão, deixe-me pensar...não, não me recordo de nenhum. Ou por outra, lembro-me de Vale e Azevedo, mas não conta, porque esse até tem-se dado ao luxo de brincar com a Justiça portuguesa.

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