Os dados foram lançados, Elisa Ferreira é candidata à Câmara Municipal do Porto. Pela lógica seria a vencedora, em combate com um presidente que em oito anos de mandato nada fez. Parece que quem, por duas vezes, pôs Rui Rio na presidência, invoca a sua "honestidade". Penso que ele teme que este proclamado atributo já não seja suficiente para vencer a sua terceira eleição. Ele sabe que seria sorte demasiada voltar a ter um opositor como o da eleição de 2005, que era um não candidato. Por isso mudou de estratégia e passou a encarnar o anti-centralista, o regionalista, o porta-voz fervoroso das reclamações contra o Terreiro do Paço. Rui Rio, o mesmo que anos atrás, quando o governo era PSD, recusava reclamar em público, dizendo que os problemas da cidade e da região se resolviam não na praça pública, mas sim em conversações recatadas nos centros do poder, pretende agora encarnar e liderar, pública e ruidosamente, a contestação. Quanto a honestidade, pelo menos política, estamos então conversados.
Não tive acesso ao discurso completo de Elisa Ferreira na cerimónia de apresentação da sua candidatura. Pelos pequenos extractos que foram publicados, EF disse que quer o Porto e a região tratados de modo a "reganhar centralidade e protagonismo", e também que " o Porto não quer ser uma cidade esquecida ou subsidiada". Declarou também que o Porto exige " a quota-parte que lhe cabe das políticas e das prioridades nacionais". Tudo bem, mas enunciar desejos e afirmar pretenções, é fácil. A complicação começa quando se pergunta como. Qual é o plano de acção para atingir esse desiderato? Compreende-se que aquele não era nem o local nem o tempo adequados para expor uma estratégia detalhada. Mas é imperioso, para ser credível, que o faça de agora até ao dia da eleição. Não é tarefa para uma só pessoa, tem de ser um trabalho de equipa. A qualidade das pessoas de quem se rodear vai ser um primeiro teste à sua capacidade efectiva de vir a ser o agente da imprescindível reviravolta que a gestão do Porto terá de sofrer. Infelizmente esta reviravolta, para ser profunda e estrutural, estará muito dependente da boa vontade do governo central, e aí eu, pessoalmente, sinto-me fortemente incrédulo. Mas Elisa Ferreira, que já foi governo, sabe o que a casa gasta e isso talvez a ajude a estabelecer uma estratégia vitoriosa.
Elisa Ferreira tem com ela um grande capital de esperança. Desejemos-lhe boa sorte e também audácia, porque já diziam os romanos que audaces fortuna juvat.
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Esta inédita paixão tripeira e o encorajamento nunca antes visto do "renascer" do Porto e do Norte de Portugal tem sido surpreendente nos últimos dias: lia hoje no Causa Nossa que a alfacinha Ana Gomes (que tem agora uma paixão pela Inbicta chiquérrima) e o alfacinha disfarçado de coimbrão Vital Moreira apoiam frontalmente Elisa Ferreira para "dar" ao Porto o seu justo valor! Mesmo entre os meus colegas lisboetas da empresa a Elisa Ferreira goza de uma popularidade a que nunca assisti em relação às gentes do Norte, tidas como boçais, violentas e futeboleiras. De repente o Porto passou a ser fabuloso, com honras do Sr. Primeiro Ministro e o ministro Jamé terem vindo apoiar a candidata ao Porto; aliás a mesma até promete prescindir do riquíssimo tacho no Parlamento Europeu de tão grande é o seu amor à cidade!
ResponderEliminarTodo este entusiasmo ergue-me sérias suspeitas. De uma maneira geral sempre me ensinaram que ninguém dava nada a ninguém e Lisboa nunca deu nada ao resto do país. Sempre foi assim desde o início da História de Portugal: a única fase em que as regiões ainda tiveram alguma relevância foi no tempo do feudalismo em que o poder central tinha pouca influência nos poderes locais, como bem notaram Marcelo Caetano e Alexandre Herculano.
O governo PS não foi diferente. Este mesmo governo que descobriu agora uma paixão inédita pelo Porto e pelo Norte foi o mesmo que (1) nos roubou o dinheiro europeu para a recuperação da frente ribeirinha alegando os "efeitos de dispersão" que as obras em Alcantara terão no resto do país. (2) Já para não falar do TGV que foi reorientado para Lisboa-Madrid (deram-nos Vigo como consolo), a linha TGV Lisboa-Porto que nunca será construída, (3) do aeroporto de Alcochete que vai drenar o Porto, (4) o boicote feito pela ANA à instalação da base da Ryanair no Porto, (5) a privatização da ANA que nos vai obrigar a separar o aeroporto e a colocá-lo em gestão privada, (6) as obras do metro que, no prazo de uma semana, passaram de "inviáveis" (alegando que o memorando não era vinculativo) para uma obra que custa o triplo (e que nunca será feita, não tenho ilusões)....os exemplos multiplicam-se da paixão do PS pelo Norte e da sua inegável vontade de colocar o Norte no plano político nacional.
Elisa Ferreira tem mérito, reconheço. Sei que passou pela CCDRN (desconheço se fez alguma coisa), atribuem-lhe as obras de saneamento e os IPAR do Porto, afirma que conhece largamente o panorama empresarial do Norte (resta saber se não foi mais um tacho político). Parece conhecer o terreno e a realidade.
O que me preocupa é o facto de esta personagem se encontrar alicerçada na elite lisboeta que já deu provas de não desejar nada de bom ao Norte. Os exemplos que dei acima são gotas de água num oceano de desinvestimento. Apenas um inocente pode crer que os ventos tenham mudado ou que Elisa Ferreira os tenha convencido a mudarem de opinião.
Não creio. Os políticos regionais que mais fizeram pelo Norte - Luis Filipe Menezes, Valentim Loureiro, Fernando Gomes, Avelino Ferreira Torres, Mario Almeida, Narciso Miranda, Fátima Felgueiras - todos eles sempre tiveram um mau relacionamento com o poder central a ponto de a maior parte deles neste momento presidir aos municípios respectivos na forma de independentes. A comunicação social e o poder central sempre procuraram fazer deles desonestos, corruptos, boçais.....como se a impoluta Lisboa fosse um exemplo de gestão pública! O orçamento da CML ou o caso Isaltino Morais revelam perfeitamente o que se passa lá por baixo. Lisboa e o sul nunca foram amigos do Norte e nunca deram nada ao Norte. E todos os políticos do Norte sempre foram escarnecidos por Lisboa.
Esta candidata, apesar de todo o aparato em torno dela, é uma mera marioneta do poder central. Vem continuar a política de drenagem que Lisboa tem empreendido em relação ao Norte, alicerçando-se no poder autárquico. O facto de o núcleo duro do PS a desejar ver a todo o custo na autarquia não augura nada de bom!
Um outro cenário se afigura: de acordo com a novas regras do Comité de Regiões e com o fim dos financiamentos comunitários, Portugal terá que se regionalizar no futuro. Caso as áreas mais deprimidas da Europa não constituam as Euro-regiões (e o Norte de Portugal e Galiza têm a potencialidade de ser a maior da Europa e consequentemente receber mais dinheiro), acabará o financiamento e o financiamento para atingir os objectivos de convergência terá que provir do orçamento de Estado - coisa que Lisboa pretende evitar. Podemos hipotizar que Sócrates, previdente, irá investir no futuro no Norte (usando a Elisa Ferreira como catapulta) por forma a organizar a Euro-região e depois lançar-se às eleições regionais, captando os financiamentos comunitários (que passarão a ser atribuídos às regiões). Isso seria um golpe de génio político que Sócrates tem revelado ser. Em todo o caso.....meramente wishful thinking for the time being!
Já Rui Rio, ninguém sabe qual será o seu futuro: Manuela Ferreira Leite tem mostrado grande enfado em gerir o partido e está ansiosa de passar a batata quente! Rui Rio tem sido muito falado para suceder ao PSD e tentar lucrar com a guerra anti-Pinto da Costa. Ainda ninguém sabe quem será o candidato pelo PSD à autarquia.
A procissão ainda vai no adro mas sinceramente não sei qual será o melhor candidato para o futuro do Porto e do Norte. Até Outubro muita água vai correr debaixo da ponte!
Nota: sou rigorosamente apartidário. A minha paixão e preocupação são unicamente o Porto e o Norte, independentemente de cores partidárias.
Meu caro B. devo dizer-lhe que apreciei muito o seu comentário,que reflecte uma preocupação que deveria ser comum a todos os portuenses (e aos nortenhos de um modo geral) conscientes da realidade socio-económica da nossa região. Temos um estatuto de colonizados,somos tratados como cidadãos de segunda,vemos os investimentos e correlativas benesses aterrarem na Grande Lisboa,e em consequencia somos os mais pobres europeus. O panorama é tão devastador que não será o presidente da CMP que poderá resolver,nessa qualidade e por si só,o problema regional.Se conseguir ter uma acção efectiva a nivel da cidade,já será bem bom.
ResponderEliminarPessoalmente,como deve ter deduzido do tom geral do meu post,acho que Elisa Ferreira ainda não está em condições de ser aclamada como o novo Messias que vem salvar o Porto. Daí até considerar,como faz o meu amigo,que ela é parte de uma conspiração,vai uma enorme distância que eu não quero percorrer. Acho que devemos dar-lhe o benefício da dúvida e esperar pelo menos até saber qual é o seu plano de acção e qual o tipo de atitudes e iniciativas que vai tomar.
Obrigado pelos seus comntários e continue a aparecer.
Gostei de ler o post de "B.disse" partilho algumas das suas preocupações.
ResponderEliminarMas Elisa será sempre preferivel A Rio.