06 março, 2009

A ANA , o aeroporto Sá Carneiro, e as "derrapagens"

Dizia Goethe: "Comparar não é, para um ignorante, senão um meio comodo de se eximir de julgar".

Usarei esta eloquente frase do famoso filósofo alemão, do século XVIII, para afugentar categoricamente, aqueles espíritos de contradição tradicionais, sempre disponíveis a branquear pecados velhos, para os transformar em transcendentais virtudes. Vá de retro..., pois!

Imaginem um engenheiro de pontes a quem lhe entregavam a responsabilidade de elaborar um projecto para a construção de uma ponte, e lhe facultavam o tempo e as condições necessárias para a sua eficiente execução, e que, quando está para inaugurar a obra, quatro anos mais tarde do que havia calculado no projecto, a dita ponte se desmorona. Procedidas as devidas investigações, os peritos concluem ter havido uma derrapagem nos cálculos de engenharia. O que diriam de tal engenheiro? Que estaria senil? Que enlouquecera? Que era um irresponsável? E, que destino teria tal criatura num país civilizado? O hospício ou a cadeia, responderiam.
Pois, é exactamente isto que, em Portugal, acontece com uma precisão angustiante , na conclusão das grandes (e pequenas também), obras públicas. Derrapagem. Foi este, o nome escolhido para classificar a incompetência crónica, ou o despudor profissional dos gestores de tais empreitadas. Parece até, que se está a falar de corridas de automóveis, em piso molhado... Entre derrapagem e incompetência, desde que não batamos contra um muro, quem não prefere a primeira expressão?

O Tribunal de Contas, detectou várias causas para a derrapagem temporal (mais 4 anos!) , da ampliação do Aeroporto Sá Carneiro, e 100 milhões de euros mais caras! Apontou as seguintes razões: Impacto Ambiental, Análise da Proposta, Serviços Externos, Suspensão de Obras, o Euro 2004 (que jeito deu, afinal), o Mau Tempo, e por fim, o Planeamento.

Vejamos:

Impacto Ambiental - 1ª. desculpa da ANA
atraso na entrega da Declaração de Impacto Ambiental
1ª. conclusão nossa
não existia, não podia existir, o Ministério do Ambiente.
Análise da Proposta - 2ª. desculpa da ANA
demora na análise (18 mêses) para a construção do terminal.
2ª. conclusão nossa
não existia, nem podia existir um responsável por essa tarefa (excepto, ao fim do mês...).
Serviços Externos - 3ª. desculpa da ANA
dificuldade de decisão na recolocação dos serviços exteriores à ANA. A Alfândega.
3ª. conclusão nossa
a dificuldade já vem de trás, e é plural.
Obras Suspensas - 4ª. desculpa da ANA
é difícil (outra vez) executar obras de ampliação numa estrutura mantendo-a a funcionar, o que obrigou à suspensão frequente das obras.
4ª. conclusão nossa
se a avozinha não tivesse morrido...
Euro 2004 - 5ª. desculpa da ANA
Suspensão dos trabalhos e reajuste do plano, quando se soube (em1999) da realização do Euro 2004.
5ª. conclusão nossa
de todas, a única desculpa real aceitável para os atrasos da obra, visto ser a menos previsível.

Mau tempo - 6ª. desculpa da ANA
O Inverno de 2000/2001. Péssimas condições metereológicas.
6ª. conclusão nossa
um estudo, não tem de compaginar e admitir esta possibilidade?
Planeamento - 7ª. desculpa da ANA
Atrasos provocados por dúvidas, indefinições e alterações dos projectos
7ª. conclusão nossa
Dúvidas, indefinições, e alterações dos projectos quando e sempre que acontecem revelam maus estudos, má articulação entre cooperantes.
PS-Tudo isto, por mais compreensível que se queira ser, não justifica derrapagens desta grandeza e sistemáticas. Pelo contrário, agrava as suspeitas sobre o enriquecimento súbito de parte dos agentes envolvidos nestas empr
eitadas.





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