03 agosto, 2009

A pouca-vergonha continua...

Devem lembrar-se da declaração, há uns tempos atrás, de um professor universitário salvo erro do Instituto Superior Técnico de Lisboa, que afirmava a conveniência de criar uma espécie de super-área metropolitana de Lisboa abrangendo uma população de qualquer coisa como 5 milhões de habitantes. Creio ter feito na altura um comentário rápido neste blogue, mas sempre pensei que se tratava apenas dum delírio mental de um isolado apaniguado da doutrina de que o país deve concentrar-se em Lisboa/Vale do Tejo, com o consequente abandono e desertificação do restante território. Por outras palavras, não tomei aquilo a sério.

Enganei-me. Com a criação da Sociedade do Arco Ribeiro Sul S.A., com a aprovação em Conselho de Ministros do seu plano estratégico, e com a sessão de apresentação solene do projecto, a que assistiu o próprio Sócrates, fica provado que afinal existe uma ameaça real para o país, pois se intensifica a política de concentração de investimentos maciços na A.M.Lisboa.

Desta vez são 520 milhões de Euros para recuperar três áreas na margem sul do Tejo(Siderurgia Nacional, Quimiparque, Margueira). Mas a coisa não fica por aí porquanto se deduz, pelo que foi afirmado na sessão solene, que estes 520 milhões são apenas o começo e o necessário para a conversão e preparação dessas áreas, que constituirão " novas âncoras de desenvolvimento, tendo em conta os grandes investimentos programados para a península de Setúbal". O actual primeiro-ministro acha que ligar as duas margens do Tejo "é uma oportunidade que não temos o direito de não aproveitar" no sentido de permitir a afirmação da A.M.Lisboa no continente europeu. Com o devido respeito, continuo a considerar que este tipo de raciocínio é uma idiotice completa. Se acham que é desta maneira que resistimos à anexação económica por parte de Espanha, e que impomos o país no contexto europeu, então a Província (como gostam de dizer), está a ser sacrificada e exaurida pura e simplesmente para benefício duma fracção minoritária (menos de 50%) da população portuguesa. Se querem recuperar áreas à volta de Lisboa, que o façam, não tenho nada contra, mas desde que existam verbas equitativas para investir no resto do país, que também tem áreas degradadas necessitando de recuperação urgente, sejam áreas urbanas ou não.

Fico curioso, aguardando reacções de quem pode e deve protestar. Pessoalmente devo dizer que sou cada vez mais a favor da união ibérica, desde que o nosso futuro aqui no Norte deixasse de ser definido por Lisboa e passasse para Madrid, que por muito que nos explorasse nunca atingiria os níveis a que Lisboa chegou. Ou então, que a região Norte se unisse à Galiza, mesmo que a sede da região continuasse em Compostela. É triste que a actuação desavergonhada do governo de Lisboa nos obrigue a esquecer quase nove séculos de História em que fomos uma orgulhosa nação independente, mas as coisas são como são, e eu pessoalmente estou mais que farto de me sentir colonizado por meia dúzia de incompetentes mal intencionados que se consideram o governo de Portugal.

7 comentários:

  1. A notícia pode ter bons reflexos para o Porto: e a criação da Grande Area Metropolitana de Lisboa é justificada então também o será a criação da Grande Área Metropolitana do Porto. E conseguiriamos com isso vencer a hostilidade à fusão Porto-Gaia.

    Eu sei e subscrevo inteiramente a tese da expoliação que Lisboa está a fazer do resto do país. Mas a verdade é uma: o Porto e as elites portuenses ficaram de joelhos perante a obra centralizadora de Lisboa como uns basbaques.

    Ninguém nos dá nada e se quisermos alguma coisa temos que lutar por ela. E enquanto o Porto andar metido em guerras de "o meu concelho é melhor do que o teu" não vamos a lado nenhum.

    ResponderEliminar
  2. Apoiado, caro Rui Farinas!

    Pela minha parte, o mínimo que posso fazer é não votar, nem que seja o único, a fazê-lo. Cada um que responda por si. Eu não quero ser cumplíce deste genocídio nacional.

    ResponderEliminar
  3. caro B.

    o que o faz pensar assim? Acaso o amigo encontra algum exemplo recente que tenha beneficiado o Porto por arrastamento da megalomania centralista?

    Meu caro, espero que o mini-aquário do Sea-Life não lhe tenha servido de musa inspiradora para tanto optimismo...

    ResponderEliminar
  4. Caro B.,

    Esqueci-me de lhe perguntar se esta sua frase, «ninguém nos dá nada, só nos resta lutar por ela», incluía o recurso às armas...

    É que toda a gente fala em lutar,lutar, mas ninguém dá o corpo às balas.

    E isto, já não vai lá com voluntarismo, ou oratória.

    ResponderEliminar
  5. É miserável e uma falta de respeito para com o país dito real.
    Estes biltres que nos governam atafulham a região de lisboa com milhões. Milhões para o metro, milhões para o aeroporto, milhões para a ponte, milhões para a recuperação da capital, com decreto-lei a dizer que o investimento na recuperação da zona ribeirinha de lisboa (vejam onde chega a falta de respeito) é para bem do país...
    Já a Expo 98 serviu para limparem algum do lixo industrial que os incomodava. Agora esta coisa do arco-que-os-pariu...
    É miserável!
    Realmente isto começa a ficar nojento e insustentável...
    Infelizmente, é cada vez mais visível que aqueles que nos representam aqui pelo Norte têm falta de tomates. Uns cobardes, portanto.
    Michel Collins foi um exemplo na Irlanda contra o usurpador e colonizador inglês. Para quando o nosso libertador?

    ResponderEliminar
  6. Caro Rui Valente:

    (1) Interprete o meu post anterior como wishful thinking! Quando não nos resta mais nada, valem as esperanças!

    (2) Quando eu digo "lutar" não incluo como é óbvio o recurso às armas. Creio que seria profundamente negativo para o Porto criar uma ETA Nortenha e seguir a estratégia violenta de autonomia que eles têm prosseguido, aterrorizando milhares de cidadãos bascos honestos e trabalhadores que simplesmente se recusavam a apoiar a luta armada inspirada na ideologia marxista deles. Existem actualmente meios democráticos que podem ser muito mais eficazes do que a luta armada.

    Este blog é um caso desses: informação objectiva e acessível ao cidadão comum das vantagens da Regionalização pode mudar muitas mentes e ajudar a que as autonomias regionais se implantem dentro as forças políticas a ponto de o processo se tornar democraticamente irreversível. Veja o caso do aborto: há uns anos todos diziam que os portugueses eram burrinhos, tacanhos e católicos e que nunca aceitariam o aborto. Actualmente temos uma legislação pró-aborto que está a par dos países geralmente tidos como "de referência" (França, Holanda, Espanha, Itália e Alemanha) e que fica apenas atrás da Inglaterra (onde pode ir a uns escandalosos 7 meses de gestação embora o médico possa utilizar o objector de consciência). Isto significa que é possível mudar as coisas autonomamente desde que existam blogs como este e outras forças políticas que permitam iniciar um processo democrático de mudança.

    ResponderEliminar
  7. Caro B.

    Não era dirigida a si a farpa "lutar", mas àqueles que de vez em quando dão-se a doutos ares de sabedoria e que gostam de passar por "pacificadores", mas que não mexem uma palha para alterar os acontecimentos, nem sequer com uma simples contestação.
    São gente por hábito politicamente passiva, mas que, por qualquer razão enigmática, se sentem motivados para criticar quem deviam apoiar...

    Já tenho pensado muitas vezes, se não foi também por desgovernos semelhantes ao nosso, que despontaram noutros países alguns movimentos terroristas de libertação. É que, nós olhamos à volta e não vemos o mínimo sinal de reabilitação política. Pelo contrário, nunca sabemos qual é o vigarista que vem a seguir e já nem nos surpreendemos.

    E, suponho eu, não é destas notícias nem destes comportamentos que o país precisa. Qual é a solução?

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...