20 outubro, 2009

António Alves versus Rui Moreira

Li , com particular interesse, a troca de impressões entre o Rui Moreira e o António Alves, àcerca da recente iniciativa de se fundir a AEP com a AIP. Trata-se de dois portuenses como eu e outros que por aqui passam e escrevem, sobre os quais não tenho dúvidas que vivam intensamente os problemas que atravessam toda a região Norte e a cidade do Porto.
O António Alves transcreveu aqui uma afirmação do Rui Moreira que já gerou algum desconforto em muitos portuenses, talvez por verem neste último, uma figura do Porto capaz, serena, educada e, o que é mais relevante, um portuense assumido. Ah [ia-me esquecendo de um factor importante], e... um portuense portista!
Devo dizer que nutro uma simpatia natural por Rui Moreira, desde que começou a aparecer na televisão [não me refiro ao Trio de Ataque, mas já lá irei] e a fazer a diferença no panorama marasmático das chamadas elites portuenses [coisa que actualmente continuo sem saber o que é, e quem é].
No entanto, no caso concreto em debate, não deixaram de me surpreender as suas declarações citadas pelo A.Alves. Concordo por isso, com os argumentos [aqui e aqui], do António Alves. E, isto não se trata de amiguismos, porque apesar de conhecer pessoalmente o António Alves [só me encontrei com ele uma vez], reconheço-lhe uma independência intelectual e social que gostaria de ver mais vincada em Rui Moreira, mas receio - e até compreendo -, que tal não seja fácil, dada a diferença de protagonismo mediático e social, entre um e o outro. Mas, é se calhar aqui que a porca torce o rabo.
O protagonismo, tem duas faces. Uma, que pode conferir projecção a um desconhecido e trazer-lhe benefícios materiais [e aqui, não estou a querer insinuar nada, estou a ser realista] de longa ou curta duração, e uma outra, que pode subverter a liberdade intelectual do indivíduo por obediência cautelosa às influencias que eventualmente arriscará perder se insistir em dizer exactamente o que pensa.
Ludgero Marques, é um paradigma do que acima quis explicitar. Houve um tempo, em que parecia ser o tal homem do Norte que a mitologia local inventou [já nem sei, se com algum fundamento]. Era interventivo, empreendedor, mas assim que os ventos do poder se concentraram mais a Sul, perdeu quase toda a Liberdade afirmativa e com ela a coragem.
Rui Moreira tem razão quando diz que L.Marques deu um tiro no pé ao abdicar por sua inicativa de âmbito regional da Associação Industrial Portuense para uma teórica e nominal Associação Empresarial de Portugal, porque foi esse o primeiro acto de renúncia à identidade própria de uma instituição local [a AEP], por aparente convicção pessoal de que a sobreposição do nome Portugal ao Portuense lhe iria trazer vantagens.
Ludgero, não estava a pensar nos benefícios da Região, estava a pensar nos seus. Daí, continuar a não compreeender a aparente contradição de Rui Moreira pela sua fé na novel fusão, mesmo com os exemplos que apresentou da Alemanha e da França que são países com uma cultura de respeito democrático a anos-luz da nossa. Há uma patente ingenuidade nesta frase de Rui Moreira, a que ele prefere chamar opinião positiva, que é esta: "Mas tenho uma opinião positiva sobre o desenlace, ainda que isso resulte numa sede em Lisboa onde já está a AIP, desde que a fusão permita que os serviços da AEP no Norte podem sobreviver por essa via."
Sobreviver por essa via? Ainda acredita nisso, depois de tanta vilagem, de tanto desprezo, tanto saque contra o Porto?
Caro Rui Moreira, hoje, confesso-lhe, pela saturação de tanta hipocrisia, tenho pavor que as minhas opiniões possam por algum segundo que seja, parecerem próximas de qualquer fundamentalismo, mas pela minha parte, pela minha experiência vivida e [que o meu amigo também terá], não consigo mais acreditar que de Lisboa saia alguma coisa de bom para o Porto. Não sinto sequer qualquer fraternidade por Lisboa. Que quer que lhe diga, não fui eu quem a fomentou...
Também não quero rejuvenescer tão bruscamente na minha boa fé, como o meu amigo... Acreditar na teoria do chicote escondido nas costas, do desprezo por uma região, faz-me desvalorizar aquela sua frase engraçada mas plena de realismo que dizia: «que as ovelhas não se tosquiam a si próprias!» Lembra-se?
Será que o «rebanho» de Francisco Van Zeller é uma excepção? Eu, não acredito.
PS-Quanto ao Trio de Ataque, caro Rui Moreira, depois de tudo o que ouvi dos seus pares de programa, das dissertações alucinantes sobre o FCPorto, das intriguices do cineasta, eu, no seu lugar já os tinha deixado a falar sozinhos. Mas isso sou eu, que acho que não tenho de ser amigo de toda a gente...

11 comentários:

  1. Caro Rui Valente,

    queria apenas acrescentar algo ao debate. Eu, se me roubarem repetidamente a casa e a polícia não fizer nada, recorro garantidamente ao "zagalote". Mas isto sou eu que não tenho onde cair morto e tudo que me roubem faz-me imensa falta. Um abraço :- )

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  2. Basta dar um rebuçado; que esta
    gente passa logo de uma trincheira, para a trincheira do inimigo.

    Estes portuenses de cota-gotas ou
    ou regionalistas de meia-tejela,
    há que ter muito cuidado com eles.
    Nem tudo que reluz é ouro.

    No caso de Ludgero Marques: no
    Governo de Cavaco Silva, este
    senhor conseguiu levar para a terra
    dele "Santa Maria da Feira esse
    elefante branco que é o Parque de
    exposições de Santa Mªda Feira e
    acabar com a Exponor.
    Isso foi conseguido a troco de quê!?...

    Mudar um Centro de Exposições que
    está em Matosinhos paredes meias
    com a cidade do Porto a poucos
    quilómetros do Aeroporto para mais de 30 Km isto cabe na cabeça de alguém !...

    E assim se enterrou tanto dinheiro
    sr Ludgero e sr Cavaco Silva...
    para quê.

    "Permanece perto do político ainda
    que lhe tenhas de engraxar os sapatos assim tens TACHO."

    O PORTO È GRANDE VIVA O PORTO

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  3. Caro António Alves,

    é até possível que, aquele homem que há dias [creio que em Leiria],alvejou a tiro o assaltante da sua empresa depois de este ser preso pela polícia "tenha maus fígados", mas, sabendo nós como são tratados os criminosos em Portugal, às tantas, talvez fosse capaz de lhe seguir o exemplo, se me acontecesse o mesmo...

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  4. Também li a troca de argumentos entre o Antonio Alves e o Rui Moreira. Continuo intrigado pela posição tomada pelo R.M. As explicações que ele alinha são extremamente fracas e cheiram a falso, por não parecerem dignas de alguém como R.M. que possui enorme capacidade intelectual. Custa-me a acreditar que o próprio R.M. acredite nelas.

    Quanto ao receio que o amigo Rui Valente tem de parecer fundamentalista, acho bem que o seja. Eu estou francamente a caminhar nesse sentido (o que aliás nem me agrada) mas a verdade é que se trata de reacção normal ao fundamentalismo revelado pelos centralistas no seu relacionamento com o resto do país, nomeadamente com o Norte. Não dá para sermos outra coisa...
    Um abraço.

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  5. Caros amigos,

    Acho que se esquecem duma coisa importante: As motas-engis e muitas empresas nacionais, EDPs, bancos, etc pagam quotas de associados à ACP. Portanto, até Rui Moreira tem limites.

    Sobre a AEP, o anónimo do 2º comentário é que vê bem o filme, tal como eu já tinha escrito aqui:
    http://norteamos.blogspot.com/2009/08/as-pseudo-elites-do-porto-no-seu-melhor.html

    Há muitos que usam a defesa do Norte para sacar dinheiro de Lisboa.

    Nisto tudo a culpa é mesmo nossa. Continuamos a votar ou a acreditar em quem nos trai.

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  6. Caro José Silva,

    pois é, é lá está o cacau a dominar o associativismo, as éticas e os estatutos, tudo! Não é assim?

    Só que, o problema começa quando a tendência humana é fechar os olhos às regras quando o pilim nos entra pela casa dentro. É uma alegria! Já não há centralismo, só há chatos como nós, e calimeros...

    Desculpe contrariá-lo José, mas minha, a culpa não é! Eu abstive-me nas legislativas e votei na Elisa porque não gosto de Rui Rio e tinha esperança que ela fizesse alguma coisa mais pelo Porto.

    Pelos vistos, não perdemos grande coisa...

    Abraço

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  7. Há tempos atrás, a propósito de Luís Filipe Meneses, o Rui Valente disse que ele mal chegou a líder do PSD, virou a agulha e mudou o discurso. E porque mudou? Mudou para agradar aos opinadores, aqueles que quando falam, fazem lei, levam tudo atrás. Nós não temos quem nos defenda de forma determinada, colocando as coisas no lugar, quem fale grosso, seja escutado e principalmente, temido. Eu acho que essa pessoa podia muito bem ser o presidente da Câmara, mas com este "artista" está visto, não vamos a lado nenhum.
    Esse é que é o problema e não tem nada a ver com a troca de ideias entre o António Alves e o Rui Moreira, que se entenderiam facilmente sob o essencial.

    Nós, uns sobre umas questões, outros sobre outras, na blogosfera, vamos dizendo de nossa justiça, pondo os pontos no is, dizendo o que está mal, mas quem nos escuta? Muito poucos, não temos a força de um meio de comunicação poderoso... foi por isso que eu hoje dei destaque ao artigo do M.S.Tavares. Antes dele, já eu tinha rasgado o Guerra todo, mas aquilo que o Miguel fez tem muito mais impacto e causa muito mais mossa. Essa é a diferença fundamental...Mas mesmo o Miguel, de vez em quando, lá tem de fazer os artigozinhos para agradar aos de lá de baixo e então desata a dizer as asneiras que nós tão bem conhecemos.

    Um abraço

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  8. Rui,

    Quando digo «nós» não me estou a referir a mim nem a si nem aos leitores/comentadores/participantes deste blogue. Estou sim a referir aos eleitores a Norte que continuam a votar neste PS e neste PSD.

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  9. Caro José,

    Não me leve a mal, mas se é assim como diz, faça-me um favor: nunca mais diga "a culpa é nossa", porque gramaticalmente está a aplicar o pronome na 1ª. pessoa do plural, logo, a incluí-lo a si e a mim e a todos no mesmo saco dos responsáveis pelas decisões políticas.

    Também aceito que usar o termo «a culpa é dos outros» seja um modo abusivo e fácil para alijar a nossa cota parte de responsabilidade civil, mas eu ganhei aversão a esse hábito de nos autoflagelarmos, porque ele foi lançado no "mercado da opinião pública" pela classe políitica e parte da empresarial.

    Estará de acordo?

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  10. Caro Vila Pouca,

    Postei o diálogo entre Rui Moreira e António Alves porque são duas pessoas do Porto diferentes, mas que me merecem a mesma consideração, porque opinam e participam cada um à sua maneira sobre os problemas do Porto.

    Nesta caso, considerei apenas que Rui Moreira, pessoa consciente e esclarecida sobre as humilhações que o Porto tem passado estes últimos anos, não devia confiar tanto nos «acordos de princípio» com as instituições lisboetas.

    Francisco Van Zeller, [Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa]é mais um homem que em nada contribuiu para o desenvolvimento do país. Talvez o tenha feito na perspectiva do patronato mais retrógrado, ou seja sem nunca levar em conta o bem estar dos trabalhadores menos qualificados. Prova disso foi a ainda recente declaração a exigir do Governo contenção salariail.

    Para ele, o Governador do Banco de Portugal, merece levar a pipa escandalosa de massa que leva para casa. Para mim, não.
    Chamo a isso roubar c/ autorização do Estado, mas é efectivamente ROUBAR!

    A estas pessoas, pessoalmente, nunca lhes darei o estatuto de elites. Por isso, é bom separar bem as águas e procurar saber o que se exige de uma elite.

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  11. ADM:

    Efectivamente, talvez esteja na hora de mudarmos o verbo, caso contrário ainda nos lembramos de reivindicar salários como o do Governador do Banco de Portugal...ou do Presidente da República que é bem mais modesto...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...