Depois de mim, já outros com mais poderes e responsabilidades políticas, protestaram publicamente contra o iminente saque que Lisboa se prepara para fazer ao Porto desviando as corridas Air Race promovidas por "aquela bebida" [como diz Manuel Serrão] para a nossa mui solidária capital. Além do conhecido comentador desportivo, fizeram-no, hoje, o director do JN, José Leite Pereira e o Arqº. Gomes Fernandes, e ontem, o Prof.Alberto Castro, no mesmo jornal.
Pela pertinência do comentário acho que vale a pena reproduzir o Post scriptum deste economista:
Pela pertinência do comentário acho que vale a pena reproduzir o Post scriptum deste economista:
«Defendo a tese que não é o Porto que vive obcecado com ser a 2ª cidade do país, mas Lisboa que não suporta a ideia de não ser a primeira. Em tudo. É essa a sua concepção do país. Em Portugal um evento com a Red Bull Air Race só faz sentido em Lisboa. Pela ordem natural das coisas. Só não será lá se o governo decidir governar, ou seja, fazer acontecer o que, de outro modo, não aconteceria. Ou se forças mais altas se levantarem. Confesso que o alarido de Menezes e Rio me parece conversa de perdedores. Se os financiadores da eventual mudança são empresas de âmbito nacional é falar-lhes a linguagem que conhecem: deixar de ser cliente delas e desencadear uma campanha para que outros o façam. Se o financiamento vem, pelo contrário, de organismos públicos, denuncie-se e use-se a Assembleia da República para pedir explicações e a ameaça do voto [Francisco Assis percebeu-a de imediato]. E já agora, uma provocação. As corridas de aviões são um acontecimento de impacto nacional, divulgam o nome da cidade mas também o do país. Por isso, no caso de mudança para Lisboa, que tal financiá-la ao abrigo dos efeitos "spill-over"? Eles a vê-los voar [os aviões] e nós a vê-los voar[os euros]. Chama-se a isto equidade!
Não parece haver dúvidas que o Prof.Alberto Castro, além do excelente sentido de humor patente neste trecho do artigo, está a mandar um recado claro aos Presidentes da Câmara do Porto e de Gaia pelo modo abúlico como têm reagido a estas notícias, chamando-lhe "conversa de perdedores", ao mesmo tempo que os "convida" à acção, quando diz, "Ou se forças mais altas se levantarem" . Só não sabemos é se aquilo que o prestigiado economista nortenho lhes propõe tem peso suficiente [ou merece consideração] para influenciar quanto baste os destinatários e para os fazer sair da letargia em que mais uma vez se deixaram cair [principalmente o edil do Porto].
Para além disto, modéstia à parte, não há nada que o Prof. Alberto Castro sugira - como o boicote às empresas financiadoras do evento - que eu já não tenha sugerido. Duvido é que haja coragem e força de vontade para isso. No meu infímo espaço individual, vou fazendo o que posso para não contribuir para a engorda das empresas lisboetas. Opto sempre por comprar produtos da região, desde vinhos [do Douro que cada vez estão melhores], a outros. Não desperdiço há muitos anos um cêntimo na aquisição de um jornal lisboeta, seja ele desportivo ou generalista, com a regularidade de um relógio. Fizessem certos empresários nortenhos o mesmo, estaríamos nós bem melhor. Dá-me a impressão que já nem é por razões meramente económicas que se colam ao Poder central, mas sim por autismo sobre o seu próprio Poder. Não aceitam desafios porque estão totalmente despojados de valores de cariz regional e social.
Não dá para entender porque não há nenhum Belmiro ou Amorim que injecte capital ou mesmo compre, a estação de TV da Porto Canal e ouse canalizar para lá mais publicidade dando prioridade aos produtos, serviços e eventos de toda a região Norte. Seria uma tarefa árdua e talvez lenta, mas seguramente também a única forma de robustecer a economia local e de abalar a gula centralista.
Resumindo e concluindo: parafraseando a única frase sensata que ontem ouvi sobre o Tratado de Lisboa na voz do "fujão" Durão Barroso, "os Tratados não servem para nada se não houver vontade política". Idem, idem, aspas, aspas, no que concerne à descentralização e à regionalização, constitucionalmente desrespeitados. Mas, isso, é outra conversa, não é senhor Durão?
PS.-Única nota interessante do pacóvio Tratado de Lisboa: a presença da simpática e bela Shakira. O resto, foi pura naftalina.
Caro Rui,
ResponderEliminaracabei de comentar assim no Insurgente a propósito do "desafio" de boicotar produtos ou empresas com pendor lisbonense e aproveito a ocasião de relê-lo para publicar o que entendo útil a este propósito e com o pano de fundo da mesma estratégia centralista:
"Eu até sou contra monopólios e empresas (semi)públicas que encarnam o espírito de monopólio com que esmifraram os portugueses.
Normalmente, fujo destas empresas, já mudei do cabo, da net, do telefone, de posto de abastecimento e tento fugir da EDP.
Mas não posso. Continuo, três tentativas depois, à espera que a Endesa me faça chegar o contrato para mudar de fornecedor de energia eléctrica, mediante a proposta que me fizeram. Não sei se o mercado aberto de eletricidade, mesmo só em Portugal, tem pernas para andar e se a Endesa deseja mesmo enfrentar o mercado e constituir-se como alternativa à EDP. Mas, para já, sei que não está a conseguir.
Por isso, é difícil cumprir o desafio do presidente da ACP aqui citado.
Quanto aos problemas da Endesa, não são comigo.
Por mim, continuo refém das coisas que restam do antigamente neste País".
p.s. . quanto à shakira, um evento dentro de um evento. espero que ela tenha desfrutado da oportunidade para ir a Fátima, como confessou há dias ao Expresso. Custa-me entender como não tem tido tempo e especialmente dinheiro para cumprir essa peregrinação que manifestou desejar como algo de interior e profissão de fé.
Olá Zé Luís, viva!
ResponderEliminaré complicado, eu sei. Nós só podemos ajudar a empurrar para a frente a nossa Região se o empresariado local não der um empurrãozinho... Mas, é aí que reside um dos n/ grandes problemas:
não há classe empresarial disponível para a luta! A luta deles chama-se dinheiro!
Assim, é mais difícil, mas se todos, mesmo todos, começarmos por olhar bem para a origem dos produtos que comprámos, dos supermercados de que consumimos, etc., talvez eles comecem a perceber que "o posso quero e mando" tem limites.
Sabia que o Pingo Doce pertence à Jerónimo Martins, de Lisboa? Por outro lado, pergunto: será que o Continente de Belmiro merece a nossa preferência???
É uma tristeza, mas nao temos grandes opções.
Ah! Quanto à Shakira, a miúda estava completamente desenquadrada naquele ambiente bolorento e hipócrita, mas pelo menos serviu para respirármos melhor...
ResponderEliminarEu acho que Belmiro, nem que seja à falta de melhor, é um bom exemplo. E não se coíbe de maltratar os senhores e os poderes de Lisboa.
ResponderEliminarCompreenda-se que, de qualquer maneira, ele e outros têm de levar Lisboa em consideração. Porque náo há volta a dar e a vida continua. Com luta e com luto, mas continua.
Eu sempre defendi que é preciso sabermo-nos posicionar. E as gentes do Norte e do Porto não sabem posicionar-se.
Disse-o aqui contando, há tempos, uma peripécia a propósito do livro de Rui Moreira, Uma questão de carácter. Carácter que só concebo existir se, com conhecimento e entendimento das coisas, o povo souber posicionar-se. Nem que não forme um movimento (como preconizo) e à falta de um líder natural que não se vislumbra, sejamos justos. Mas que, individualmente, contando com a soma de todas as unidades, saiba contestar e opor-se. A vida é uma prova de resistência.
Infelizmente, muita gente não se dá conta de como estamos rodeados de vigaristas. Ainda hoje ao ver as audiências parlamentares senti o vómito habitual perante tamanho nojo de deputados da Nação (assim se proclamam) que julgam intitular-se responsáveis. Um nojo, repito. Mas as pessoas náo se apercebem? Ou vivem de expedientes como a antiga sociedade "socialista"?