14 dezembro, 2009

Uma data negra

Sábado dia 12 de Dezembro de 2009 é para mim, e deveria ser para todos os nortenhos, uma data negra. O governo consumou mais uma daquelas decisões que dão uma cavadela adicional no fosso que separa o nivel de vida - ou o bem estar dos cidadãos - entre Lisboa e o Norte. Refiro-me, como é óbvio, à cerimónia protocolar para anunciar o vencedor da empreitada da linha de alta velocidade ( AV ) de Lisboa ao Caia, o que no fundo significa que o governo segue imperturbável na sua decisão de investir milhares de milhões naquela zona do país, onde o desemprego é menor e o nivel de vida mais elevado. Eu sei, e isto só em parte é uma atenuante para o governo português, que a ordem veio de Madrid. No entanto teria a obrigação, se fosse realmente um governo nacional, de impôr à Espanha uma contra-partida na forma de um acordo de execução de trabalhos calendarizados no que respeita à AV no norte de Portugal, com vista à colocação rápida e directa dos produtos industriais da região nos mercados europeus. Mas isso não vai acontecer. Os produtos do Norte e do Centro Norte vão ser obrigados a ir até Lisboa e aí embarcar na AV para aEuropa. Resultado: mais tempo gasto, maiores custos de transporte, mais actividade económica em Lisboa, ou seja, mais empregos e mais dinheiro a circular para benefício exclusivo dos habitantes locais.

Em contra-partida ao gigantesco investimento na zona de Lisboa, o que viremos nós a ter aqui no Norte? Para já, nada, apenas promessas. Mas, dirão alguns, e então a AV Porto-Vigo, não conta? Para começar, nem no papel há AV Porto-Vigo. Haverá, no máximo, AV no troço Braga-Vigo, uma vez que o troço Porto-Braga será o actual, sabe-se lá até quando. Isto quer dizer, com toda a certeza, que a linha Porto-Valença será toda em bitola ibérica. Mas as linhas que os espanhois estão a fazer na Galiza são em bitola europeia, e então terá de haver, seja em Valença/Tui seja em Vigo, um constrangimento técnico que só será resolúvel a custa de um cambiador de bitola, ou seja à custa de uma perda adicional de tempo, num transporte que é rotulado de "alta velocidade" ( este constrangimento não existirá na linha Lisboa-Madrid, toda ela construída em bitola europeia). Em resumo, não haverá verdadeira AV no Norte!

Pense-se também no prejuízo que sofrerá o ASC com o facto de não ter ligação directa à linha férrea. Esta decisão do governo parece "cirurgicamente" adoptada para prejudicar o nosso aeroporto, dificultando-lhe o seu papel de aeroporto do noroeste peninsular. Os ingénuos (que os há...) e os mal intencionados (que são muitos...) dirão que o governo já declarou que esta falta de ligação ao ASC é uma situação provisória, a corrigir logo que possível. Como já sabemos o que isso significa, é aconselhável esperar sentado!

Por tudo o que ficou dito e por muito mais que se poderia acrescentar, há ou não razão para considerar o passado dia 12 como (mais) uma data negra?

7 comentários:

  1. Desobediência civil, tomada do governo civil, recusa ao pagamento de impostos ... e sangue, porque não, afinal, lá por baixo até gostam do sangue das touradas, por isso, há para aí uns touros sulistas e outros nortenhos ao estilo de vasconcelos que estão mesmo à mão... Vejam só o que aconteceu em Itália... Porque será que estou farto de estar colonizado pelo terreiro do paço?

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  2. Claro que há, mas as coisas são apresentadas dessa forma e quem reage? Você, mais alguns neste ou naquele blog e que é dos outros? Onde páram aqueles que deviam ser os primeiros a reagir? Meu caro Farinas, assim isto nunca vai mudar.

    Um abraço

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  3. Datas negras, caro amigo, são, desafortunadamente, a fonte da nossa "inspiração".

    As "brancas" são tão avulsas, tão singulares, tão inconsistentes, que já não dá para nos entusiasmarmos muito.

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  4. Nós já sabemos, que este José Sócratas não passa de um
    pau-mandado de Madrid.Centralista
    até dizer chega.
    Agora estes cobardes,puxa-sacos
    mendigos do Norte têm aquilo que merecem.
    Se houvesse gente, sem covardia que
    fossem para a linha da frente revendicar, exigir os nossos direitos a esses imperialistas; eles já tinham mostrado o trazeiro à muito tempo.
    Porque não se cria em Portugal um partido chamado LIGA DO NORTE ?pelo
    menos sabiamos a quem dar o voto.

    Será que estes governantes não estão ao corrente do que se está a passar Espanha mais concretamente na Catalunha em que o SIM para Independência (embora em sondagem)
    teve um esmagador 95 por cento.
    O descontentamento no Norte de Portugal está a ser cada vez maior.
    Olhem enquanto é tempo para todas
    as regiões.Deixem a mega-capital
    Isto é um aviso aos mandantes.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  5. E porque não, fazer como se fez em Barcelona, um referendo, mesmo sem qualquer valor oficial, para mostrar e para medir os valores que na cidade do Porto defendem a regionalização! Serviria para mostrar aos centralistas que cá na "provincia" estamos atentos e prontos para desencadear uma acção contra o terreiro do paço!

    Talvez fosse o começo de algo bem mais forte e sério!

    Abraço,

    Renato

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  6. A proposta lançada pelo Renato poderia ser uma forma de chamar a atenção do nosso Porto.
    Mas tenho por outro lado algum receio, não sei o que pode acontecer, no entanto, vale a pena arriscar...Haverá sempre um longo caminho a percorrer, quem estiver com ganas que se lance a esse objectivo, ontem já foi tarde!...

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  7. Um referendo não é facil de organizar. Já neste blogue lamentei nenhum orgão da CS encomendar uma sondagem a fim de se "medir a temperatura". Normalmente sou avesso às "teorias da conspiração,mas neste caso tenho fortes suspeitas...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...