28 setembro, 2008

Comentário/resposta do amigo b).

Prezado Rui Valente
Desde já lhe agradeço a amabilidade da publicação do meu post e da educada resposta que me forneceu. O seu blog faz parte das minhas visitas diárias e é com prazer que dou a minha pequena contribuição para um blog que leio com prazer.
Se bem compreendi a sua tese, você defende que deveria haver uma espécie de contenção da parte das estações de TV por forma a moderar os conteúdos e contribuir assim para a educação da população. Avança que a minha tese do livre mercado não isenta a SIC de culpa em função de uma "responsabilidade social" da empresa.
Compreendo a sua posição e dou-lhe até toda a razão. De facto, uma vez que o mercado televisivo não é livre em Portugal (dado que as emissoras carecem de alvará, que são atribuídos por motivos políticos) também não poderemos deixar o funcionamento do mercado ao jogo das forças da oferta e da procura. Por outro lado, tendo em conta o impacto dos media na sociedade actual, dou-lhe inteira razão na responsabilidade social que estas empresas têm de promover certos objectivos sociais - nomeadamente a educação do povo - no seu escopo lucrativo. Aliás, até se costuma dizer que antigamente as pessoas apareciam na TV porque eram importantes e hoje são importantes porque aparecem na TV.
Todavia, mantenho a minha divergência da sua opinião em alguns pontos, nomeadamente: (1) o papel da RTP: a RTP deve, a meu ver, ter essa função de contrapreso, de educação do povo. Deve ser a RTP a mostrar a alternativa a esses canais de TV. Para isso é que existe um serviço público de TV. Aliás, vou mesmo ao ponto de defender que não deveria poder passar publicidade lucrativa na RTP, para demarcar ainda mais a distância da estação relativamente aos grupos económicos.(2) o papel da ERC: por muito louvável que seja a ERC, não a poderemos transformar numa moderadora de conteúdos sob pena de a querermos transformar numa espécie de Diácono Remédios que surge nas alturas abusivas a promover a moral e os bons costumes.
Daqui a pouco regressamos ao tempo da "velha senhora", onde os serviços de censura vetavam toda a literatura que "não merecesse ser lida" por perturbar a moral pública lusitana. Acredite que prefiro ser bombardeado todos os dias com programas rascas até à saturação em vez de ter um bando de iluminados a controlar o que devo ver. Até porque a saturação pode ter efeitos pedagógicos.
Se me permite fazer um paralelismo com a Internet, durante anos a palavra mais procurada foi "sexo"; hoje em dia foi substituída por "hi5" e "FCP" e outros termos semelhantes. Isso deveu-se à saturação dos utilizadores dos conteúdos sexuais - que durante mto tempo foram proibidos em Portugal. Quando era miúdo lembro-me de toda a gente ter ficado escandalizada por causa de um filme onde uma actriz mostrava as mamas. Não quero regressar a esse tempo. Mas apontar problemas é facil: qual é a alternativa. A meu ver, a alternativa consiste em virar o feitiço contra o feiticeiro e usar as armas deles. Uma agência independente deveria promover um código de conduta voluntário sobre os conteúdos televisivos e os limites do entretenimento.
Esse codigo deveria resultar de uma negociação tripartida entre os agentes do sector, a ERC e a agência. As estações que colaborassem com ele e não se desviassem mereceriam um selo de qualidade; as que não colaborassem seriam denunciadas como TVs sem qualidade. Neste caso, todos poderiam saber o que escolher e o que ver. E acredite que o peso da sanção social (ser marcado como TV sem qualidade) pode ter efeitos muito mais eficazes do que uma multa da ERC: dado que estas TV dependem da publicidade, as marcas não quererão ser associadas a TVs sem qualidade e as suas receitas ficarão em perigo. Creio que esta é a maneira mais adequada de regular o sector.
Atenciosamente,
b).

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