É o nosso fado de país pobre, principalmente de princípios e de coerência.
A barriga importa-nos mais que o cérebro. Barrigas de aluguer são mal vistas pelos costumes e pela lei; já a maior parte das leis é feita por cérebros de aluguer que parem votos gerados em cérebros alheios sem que isso pareça incomodar ninguém, designadamente os próprios.
O caso dos deputados que, dizendo-se a favor do casamento homossexual (o problema, no entanto, não é o do casamento homossexual, é o da diferença entre o que se proclama e o que se faz), votaram exactamente ao contrário, fica na história da cobardia parlamentar e explica a desprestigiante conta em que os portugueses têm hoje a política e os políticos.
Mal alguns deles sabiam quando, nos rebeldes anos da juventude, trauteavam José Afonso ["Os eunucos devoram-se a si mesmos/não mudam de uniforme, são venais (…) Suportam toda a dor na calmaria/da olímpica visão dos samurais" (…) Em vénias malabares à luz do dia/ lambuzam de saliva os maiorais"] que falavam de si mesmos.
Com os anos, a virilidade política foi-se. E o que ficou não é bonito de ver.
(Manuel António Pina/JN)
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