28 outubro, 2008

Sonho de uma noite de outono

Não alinho no coro dos que atacam a chamada "política do betão", que aliás nem sei bem o que é, embora desconfie que é uma dessas expressões vagas que podem significar tudo ou podem significar nada. Segundo parece, os seus detractores são contra a contrução de estradas ou auto-estradas (A - E) equipamentos de que sou a favor, genericamente falando. No entanto (e é aí que quero chegar) estou contra o timing da construção da A-E entre Vila Real e Bragança. Eu, que tenho fortes raízes transmontanas e que, como tal, tenho enorme afeição por aquela esquecida e mal tratada região, sou contra por motivos bem explícitos.

O primeiro-ministro do governo português, quando fez a promessa de construir essa A-E, disse que a sua contrução se impunha porque o distrito de Bragança era o único que não tinha um só quilómetro de auto-estrada. Tratava-se também, na sua opinião dum imperativo de "solidariedade nacional". Estes motivos são essencialmente demagógicos. Compreende-se que uma auto-estrada seja feita por razões económicas ou técnicas, por terem fluxos diários de transito acima de determinados valores. Quem conhece Trás-os-Montes sabe que a sua lamentável rede viária, datando maioritariamente do sec.XIX, é profundamente desencorajadora da criação de polos económicos e é um travão a movimentações turísticas, dada a incomodidade inerente a trajectos rodoviários sinuosos que se estendem por dezenas de quilómetros consecutivos. A única estrada que foge a este padrão é precisamente a que liga as duas capitais de distrito, ou seja o IP4, que naquele troço nunca foi especialmente mortífero, ao contrário do troço Amarante-Vila Real ( Este sim, particularmente perigoso e com movimento certamente muito acima dos máximos de segurança aceitáveis. Há pelo menos 20 anos que devia ter perfil de A-E, não fosse o Norte tão desprezado pelo poder central).

Se eu fosse figura proeminente de Trás-os-Montes, autarca, governador civil, ou algo semelhante, proporia o seguinte "negócio" ao Estado.

" Salvo melhorias pontuais, por agora deixem ficar o IP4, de Vila Real para Bragança, tal como está, porque não sendo o ideal "vai dando para o gasto". Trocamos a A-E por uma rede de estradas de traçado contemporâneo, não traçados do sec.XIX. Chamem-lhes IC's, IP's ou o que quiserem. Por exemplo, façam uma ligação decente entre Bragança e Mirando do Douro, para evitar que tenhamos de fazer esse percurso através de Espanha, como hoje fazemos. Tirem do isolamento cidades e vilas como Vila Flor, Alfândega da Fé, Mogadouro, Moncorvo, Freixo, Vinhais, Valpaços, e tantas outras. Liguem-nos (Bragança) à A-E espanhola das Rias Bajas, porque assim o nordeste transmontano estará ligado a toda a rede europeia. Façam isso, não em 20 ou 30 anos, mas no tempo que gastariam para fazer a A-E. Só depois esta seria lançada. E já agora, que estamos em maré de pedidos, façam renascer a linha do Douro até Barca de Alva".

Com este programa ou algo parecido, que alterasse as prioridades rodoviárias, penso que os transmontanos ficariam melhor servidos, e os seus visitantes também. Poder-se-ia então falar de "solidariedade ", que indiscutivelmente os transmontanos necessitam e merecem.

É pelo exposto que entendo que a construção da A-E neste momento acaba por ser prejudicial a Trás-os-Montes. Ganham uma auto-estrada mas conservam o resto da sua vergonhosa rede viária.

7 comentários:

  1. A política seguida em Portugal da construção de novas vias é esta: fez novo, esquece ou deixa cair de pôdre, o antigo.

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  2. se nos limitarmos a usar argumentos racionais é dificil discordar da sua proposta.

    mas a pergunta que fica (e não é para sí) é porque razão este tipo de argumentos (racionais!) não foi usado quando construiram a autoestrada paralela à a1, ou quando decidiram investir 150 milhoes na extensão da linha vermelha até ao aeroporto da portela (sim aquele que supostamente vai deixar de existir), ou nos dois mil milhoes que vao ser dados à região oeste pelo transtorno de não ser construida uma infraestrutura que se estimava ia custar três milhoes...

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  3. Para as suas segunda e terceira perguntas,ainda consigo vislumbrar respostas,embora deixem ficar muito mal os respectivos decisores.A estória da A28,correndo ao lado da A1,é de gritos,não há explicação plausivel.O mais curioso é que,tanto quanto eu saiba,nunca os media levantaram qualquer problema ou endereçaram quaisquer perguntas a quem esteja qualificado para explicar esta monstruosidade.

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  4. Caro Rui Farinas,

    Também publiquei no Regionalização, via "OsMeusApontamentos", parte deste seu oportuno post que vem pôr o dedo na ferida, na problemática da racionalidade de muitos investimentos públicos.

    Cumprimentos,

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  5. Um apontamento: a auto-estrada é das Rias Baixas, um nome galego. De resto, subscrevo tudo.

    Um abraço a todos

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  6. Completamente de acordo.
    Eu que não sou tansmontno, mas gosto da terra (há grandes potencialidades turisticas por ali) proponho que se mande esta "reflexão" às Camaras envolvidas e respectivas assembleias municipais.
    Quem pode fazer isto?

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  7. em http://blog.osmeusapontamentos.com/?p=853 desenvolvi um pouco mais a sua ideia incluindo um mapa com as estradas propostas.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...